O mundo não está no caminho certo para conter o aquecimento global e são necessárias mais ações em todas as frentes, alertou a Organização das Nações Unidas nesta sexta-feira, na preparação para negociações internacionais cruciais para conter a crise climática.
O relatório Global Stocktake, o mais recente alerta da ONU sobre os perigos ambientais, será a base da cúpula COP28, em Dubai, no final do ano. A reunião acontece depois de meses de incêndios florestais e temperaturas elevadas em todo o planeta.
O relatório, resultante de uma avaliação de dois anos dos objetivos definidos pelo acordo climático de Paris de 2015, reúne milhares de contribuições de especialistas, governos e ativistas, e lançará as bases para a discussão global na COP28.
“O Acordo de Paris impulsionou ações climáticas quase universais, estabelecendo metas e enviando sinais ao mundo sobre a urgência de responder à crise climática”, afirmou a ONU. “Enquanto a ação prossegue, muito mais é necessário agora em todas as frentes.”
Quase 200 países concordaram em 2015, em Paris, a limitar o aquecimento a não mais de 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais, e se esforçar para manter o aumento em 1,5 graus Celsius.
Embora cada país seja responsável por decidir as suas próprias ações climáticas, os governos também concordaram em submeter um relatório de progresso até 2023 para ver o que mais deveria ser feito.
A ONU disse que os compromissos nacionais existentes para reduzir as emissões são insuficientes para manter as temperaturas dentro do limite de 1,5°C. Mais de 20 gigatoneladas de reduções adicionais de CO2 são necessárias nesta década – e zero emissões líquidas globais até 2050 – para cumprir as metas, diz a avaliação da ONU.
Nesta sexta-feira, alguns dos países mais vulneráveis às mudanças climáticas no mundo disseram que o relatório deveria estimular a ação dos líderes globais.
“Com líderes se reunindo este mês para a Cúpula de Ambições Climáticas do Secretário-Geral das Nações Unidas antes da COP28, as conclusões e recomendações deste relatório precisam ser um alerta e um gatilho para compromissos convincentes”, disse Pa’olelei Luteru, presidente da a Associação dos Pequenos Estados Insulares.
O relatório instou os países a reduzirem o uso “incessante” da energia do carvão em uma faixa entre 67% e 92% até 2030, em comparação com os níveis de 2019, e a praticamente eliminá-la como fonte de eletricidade até 2050.
A eletricidade com baixo teor de carbono ou zero carbono deverá representar até 99% do total global até meados do século, enquanto os desafios tecnológicos que impedem a captura de carbono devem ser resolvidos.
O relatório também apelou ao desbloqueio de financiamento para apoiar o desenvolvimento com baixas emissões de carbono, observando que milhares de milhões de dólares ainda são investidos em combustíveis fósseis.
Nesta sexta-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse aos líderes do G20 que estes têm o poder de resolver uma crise climática que está “fora de controle”.
Uma autoridade brasileira da área do meio ambiente disse à Reuters: “O que precisamos é de uma mobilização sem precedentes, tanto em termos de escala como de velocidade, de todos os recursos financeiros, tecnológicos e de capacitação da humanidade para serem canalizados para o desenvolvimento sustentável”.