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Os modismos corporativos não reconhecem limites

por Plataforma Brasil
3 min leitura

Os modismos corporativos não reconhecem limitesCaro leitor, esse artigo tem uma história toda própria. Na ultima quinta-feira, preocupado em poupá-los da temática político-econômica (para a qual retornarei tão logo os recentes acontecimentos se consolidem, afinal de contas, com novo imposto sobre saúde chegando, ímpetos de controle da imprensa em pauta e mudança de ação monetária para fiscal, não faltarão assuntos!), me peguei observando a manhã ensolarada pela janela, com uma imensa dúvida sobre o que escrever.

Finclass Vitalício Quadrado

Meus dedos coçavam para fazer esse texto, mas eu estava sem saber que caminho adotar. Tudo bem, quem escreve é assim mesmo, se expressa pelo seu texto, mas não pode ser qualquer texto, qualquer coisa. Nada mais que caprichos, assumo, mas em seu benefício, tenha certeza.

E, no meio dessa dúvida, ainda acordando, fui salvo por uma notícia postada no Twitter. Li uma vez, depois outra sem acreditar no que estava ali afirmado. A notícia era exatamente assim: “Pessoas que gostam de Rock resultam em melhores líderes, pois são mais antenadas, afirma especialista em recrutamento e seleção”. Você pode ler mais sobre a notícia no blog Combate Rock.

O susto me acordou de vez, afastando a natural indisposição de uma noite de pouquíssimas horas de sono para, em seguida, trazer o alívio: aqui está, pensei, é sobre isso que escreverei.

Arrumei-me rapidamente, organizando na cabeça as ideias que estruturariam o texto (como essa historinha, por exemplo). Em vinte minutos, cheguei ao escritório e comecei a pensar na “ciência” que deve embasar a afirmativa feita pelo especialista e divulgada no Twitter.

Fiquei imaginando, não sem conter algumas risadas, no candidato a cargo executivo preocupado em ser aceito para a vaga, mas apreciador de música clássica (ou, quem sabe, de uma boa MPB), porém com o discurso pronto para convencer o entrevistador de sua familiaridade com a guitarra – ou da forma como se sente livre para inovar quando escuta alguns “hits” antológicos dos anos setenta.

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Pensei também no entrevistador, que na verdade gosta de samba e não perde a oportunidade de comprar CDs raros de bossa nova, com ar compenetrado e analítico, tomando nota para reportar aos superiores de que o líder que estavam procurando pode estar ali, bem na frente dele, afinal “ele gosta de rock, portanto é mais antenado e tem mais capacidade de liderança”.

Depois da historinha e da cena cômica da entrevista, só me restam alguns questionamentos que divido com vocês: Onde vamos chegar com isso? É razoável que um processo de contratação seja ancorado em um “bobajal” dessa magnitude?

Evidentemente que não tenho nada contra o gênero musical “Rock”, do qual confesso gostar bastante, mas pessoas “antenadas” são forjadas por curiosidade intelectual, por cultura geral, por conhecimento do processo histórico, com farta e diversificada leitura, por não alienação, por coragem em pensar por conta própria. Pela fuga aos “lugares comuns”, enfim.

Contratar profissionais executivos é atividade séria – e de alto risco. Não pode estar sujeita a superficialidades ou à modinhas de ocasião. Trata-se de um processo importantíssimo, que não pode estar ancorado em preconceitos comportamentais desse tamanho.

Precisamos de empresas fortes de verdade. Para isso, precisamos de especialistas e profissionais embasados e sólidos. Precisamos com urgência fugir e renegar esse teatro sem sentido, que não atrai nem líderes, nem bons técnicos e muito menos gente séria e comprometida. Forma atores, isso sim, e bons roteiros. Às vezes nem isso…

Até o próximo.

Foto de sxc.hu.

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