Vimos as taxas de juros para as pessoas físicas subirem, na média, de 43,9% em dezembro de 2007 para 48,8% em janeiro deste ano. A pergunta que se faz é: quem são os vilões?
Vamos começar com quem todo mundo coloca a culpa quando se fala de juros bancários: os bancos. Sim, eles têm sua dose de culpa na subida. Mas é uma dose justificável, porque há uma boa “janela de oportunidades” (traduzindo: a hora é boa) de ganhar um dinheirinho a mais e jogar a responsabilidade nas costas dos outros. Eles podem começar colocando a culpa no segundo na lista que é o Governo.
Agora, por que eles têm culpa? Dentre outras razões, porque a estrutura de negócios é pouco competitiva. Os consumidores desconhecem os produtos bancários e o significado econômico dos juros (eles sabem que o bicho é feio, e só). Desse modo, vamos dar uma subidinha porque ninguém, como diz um amigo meu, vai perder a oportunidade de faturar um dinheiro a mais sem muito esforço.
O segundo culpado é sim o Governo, que mais que dobrou o IOF, fazendo com que fosse agregado pelo menos mais 1,88% na taxa anual (ué, mas não subiu quase 5%?). Sobre ele fico por aqui.
Os bancos americanos também tiveram seu naco nesta alta. Primeiro, porque geraram uma instabilidade louca no mercado do mundo todo (o tal do globalizado) e fizeram com que o caminho das taxas de juros para o futuro ficasse indefinido. Com esta indefinição, o risco de emprestar por um período mais longo com uma taxa fixa aumenta e, para se garantir, o banco local tasca uns jurinhos a mais (farinha pouca, meu pirão primeiro).
O segundo efeito foi o seguinte: como a crise afetou a capacidade dos bancos de emprestar dinheiro (é mais ou menos assim: cada 1 dólar de prejuízo, são 10 dólares a menos que o banco pode emprestar), reduziu a concorrência que os bancos estrangeiros poderiam fazer aqui no Brasil (eis que surgem os primeiros culpados de novo em ação).
Vamos dizer que o quarto que vou citar, não é bem um culpado, mas um “incrementador” da transparência. É o seguinte: as operações de crédito que os bancos fazem para as pessoas físicas são sempre recheadas de tarifas bancárias (TAC, cadastro, etc.) e a nova regulamentação da cobrança destas tarifas está acabando com os artifícios de ganhar dinheiro com o desvio da atenção e colocando as receitas das operações de crédito nos devidos lugares.
Receitas de operação de crédito devem se dar pela taxa de juros, que deve ser comparável e não pelas tarifas, que “embananariam” qualquer comparação (a menos que nosso consumidor fosse um expert em cálculo de taxa interna de retorno).
Por fim, vem o quinto vilão que é ele, o próprio consumidor. Só neste mês de janeiro os empréstimos para as pessoas físicas cresceram em seis bilhões de reais. E daí? Daí que aumento na demanda tende a significar aumento no preço. Para ter uma idéia, esse montante é quase a metade do que as Casas Bahia venderam no ano passado inteiro. Muito desse empréstimo destina-se a cobrir as despesas que, apesar de defrontar-se com elas todos os anos, o quinto vilão não planejou a forma de tratá-las.
Como sobrou culpa para todo mundo, deixa a conta para o último da lista.
——-
Humberto Veiga é doutor em economia pela Universidade de Brasília. Autor do livro “O que as mulheres querem saber sobre Finanças Pessoais”, iniciou sua carreira no mercado financeiro em 1989 e ministra palestras e treinamentos aqui e no exterior. Beto mantém um blog onde publica comentários sobre o sistema financeiro e o universo das finanças pessoais: http://www.betoveiga.com/
Crédito da foto para Marcio Eugenio.