Os especialistas defendem que investir precisa ser uma decisão ancorada em um objetivo. Na prática, relacionar investimentos e metas é necessário porque o componente emocional é sempre determinante em nosso comportamento. Em outras palavras, precisamos de motivação forte o suficiente para definir e respeitar nossas prioridades ou seremos “engolidos” pelos prazeres do momento (consumismo).
Acontece que as transformações hoje são muito mais velozes, o que traz uma carga elevada de ansiedade. Essa sensação “ainda não é suficiente” se converte em pressa para realizar sonhos e objetivos que antes eram mais planejados e distribuídos em um horizonte temporal. O resultado é uma angústia constante, alimentada muito mais por nossas decisões que por terceiros.
Veja como são as coisas: vivemos muito mais hoje que no passado, mas temos necessidades cada vez mais urgentes e passageiras. Temos tempo pela frente, mas ignoramos esse fator na construção de patrimônio. Precisamos e preferimos parecer completos e bem-sucedidos a construir isso de fato (o que requer paciência, encarar frustrações e disciplina).
Homens e mulheres
Em palestras, sempre brinco com a questão dos gastos familiares e pergunto: “Quem gasta mais, o homem ou a mulher?”. Está comprovado que o homem gasta mais que a mulher e que elas são muito melhores em gerenciar as finanças e os investimentos. O homem tem um comportamento mais agressivo, arrisca mais e funciona muito bem para alavancar parte do patrimônio (mas não todo).
Onde há diálogo, a segurança na escolha feminina e o apetite pelo risco do homem formam um time vencedor nos investimentos. E, se interessa saber, mulheres bem informadas são mais ousadas que os homens na hora de investir. Certo, mas o que pensam e como agem as mulheres em relação aos investimentos? Uma pesquisa realizada no primeiro trimestre de 2012, pelo Instituto Data Popular, com 15 mil mulheres, revela algumas observações interessantes:
- 40% das entrevistadas disseram que economizam para realizar um objetivo pessoal, como um curso no exterior, uma viagem ou uma cirurgia plástica;
- Das que não afirmaram não ter objetivos, 40% poupam para criar um fundo de reserva capaz de deixá-las mais seguras;
- Do total, 16% delas só fazem poupança para comprar à vista;
- Apenas 3% das participantes afirmaram que poupam como investimento;
- Segundo projeções do Data Popular, feitas a partir da Pesquisa Nacional de Amostragem de Domicílios do IBGE (Pnad), as mulheres movimentarão R$ 738,3 bilhões este ano.
Apesar da maioria das mulheres ainda não relacionar metas, razões para economizar e investimentos, os números mostram que uma parcela razoável delas age de forma sistematizada, associando desejos a sua realidade econômica e preparando-se para emergências. Não me surpreenderia com uma realidade diferente no caso dos homens – fica o convite para que seja feita uma pesquisa neste sentido.
Investimento e padrão de vida
Meu objetivo com este texto é alertá-lo, caro leitor, para a frequente confusão entre investimento e padrão de vida. O dilema que envolve a decisão de consumir ou deixar para depois tem se agravado também em função da ansiedade gerada com a quantidade de informação à nossa disposição atualmente. Muito material disponível, muitas responsabilidades e a angústia de querer ser “o primeiro” torna complexa a atividade de avaliar e respeitar o padrão de vida.
É tanta coisa para fazer, tantas expectativas para corresponder, tantas demandas para suplantar que fica difícil parar e pensar no que nós realmente queremos. E assim paramos de pensar no por que deveríamos fazer isso ou deixar de fazer aquilo. Simplesmente fazemos porque é o que esperam de nós.
Ao que tudo indica, seguimos firmes com a cultura do consumo como fator de diferenciação social. Nada errado em subir o padrão de vida, é claro, mas é importante que possamos garanti-lo diante da elevada expectativa de vida. Isso traz uma interpretação do que é subir o padrão de vida: não se trata de ter mais coisas e ser mais feliz, mas de ter mais liberdade e qualidade de vida.
Sorrir demais é diferente de sorrir sempre!
O psiquiatra Contardo Calligaris explica isso de forma brilhante, abordando a questão do sorriso nas fotos e nosso hábito de sorrir. Antigamente tínhamos que esperar segundos (até minutos) de exposição para tirar uma foto – e ninguém sorria porque segurar o sorriso por tanto tempo o tornaria ridículo. Com o avanço da tecnologia, hoje vivemos a era do sorriso instantâneo – é feliz e “de bem com a vida” quem publica mais fotos sorrindo em suas redes sociais.
Questões essenciais e mais profundas, como relacionamento, diálogo, dinheiro, investimento, patrimônio e tantas outras, tornaram-se “assuntos chatos”, “coisa de especialista” – basta ver quantos consultores e especializações existem por ai. Ironicamente, sorrisos demais significam vida plena de menos.
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Foto de sxc.hu.
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