Nos meus 30 anos de HSA Soluções em Finanças S/A, e nos mais de 15 anos como executivo de empresas em crise, nunca tinha visto um pedido de Recuperação Judicial tão bizarro, como o da Paranapanema (PMAM3).
Quando li as notícias a respeito do pedido de RJ, achei que os relatos estavam errados, que os jornalistas não sabiam o que estavam escrevendo, ou até que era fake.
Em resumo, o noticiário era que, logo após ter feito acordos com os credores financeiros de dívidas de mais de R$ 3 bilhões, a Paranapanema havia ingressado com o pedido de RJ, no valor de R$ 450 milhões (15% das dívidas), isso um dia após promover demissões em massa dos seus colaboradores.
Com essa “negociação”, os credores financeiros ficaram fora do alcance da RJ.
O que lemos no artigo de hoje, é que a empresa registrou um prejuízo de R$ 323,2 milhões no primeiro trimestre, dos quais R$ 235 milhões são juros, justamente daqueles empréstimos que ficaram de fora da RJ.
Nem precisaria ser um expert em finanças para saber que uma RJ que afeta apenas 15% das dívidas (R$ 450 milhões), e deixa de fora mais de R$ 3 bilhões de dívidas financeiras (com boas garantias), está fadada ao fracasso.
A RJ basicamente atingiu fornecedores e credores trabalhistas, justamente os que são indispensáveis para a superação da crise.
Alguém acredita que os grandes fornecedores aceitaram o deságio de 75% do plano, enquanto os “coitadinhos” dos bancos ficaram de fora da RJ. Ou será que, com um “pouquinho” de sobrepreço a cada fornecimento (com ou sem conivência da empresa), eles também já receberam o seu quinhão?
Essa RJ parece ser igual a manter um paciente vivo, apenas para preservar seus órgãos para doação. No caso, para que os credores financeiros possam realizar as suas garantias que, ao que parece, são os ativos mais valiosos da Paranapanema.
Quando saiu a notícia eu publiquei um post, no LinkedIn, comentando essa aberração.
Mas, o mundo da Recuperação Judicial às vezes é estranho, e muito estranho.
Coitados dos empresários que entram em RJ, ou mesmo renegociam suas dívidas, sem conhecer os riscos e ciladas que podem estar se metendo.
Mas, esse mesmo mundo estranho, pode ser a melhor oportunidade para a superação da crise, desde que se aproveite as oportunidades para a correção da maioria dos fatores gerenciais que resultaram na crise.