A Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) alertou nesta quinta-feira que vê com preocupação o aumento dos pedidos de recuperação judicial de agricultores no país, acrescentando que o recente aumento de casos pode comprometer a execução de contratos de grãos.
O aumento dos casos de recuperação judicial de produtores do Brasil, que pode afetar a entrega de grãos comprometidos ao longo da temporada, também pode prejudicar a capacidade dos comerciantes de concluir seus programas de exportação, disse a Anec.
Os grupos de agricultores, incluindo a Aprosoja-MT (Mato Grosso) e a Aprosoja Brasil, não fizeram comentários imediatos.
“A Anec vê com muita preocupação o crescimento do número de pedidos de Recuperação Judicial especialmente a partir das informações que lhes têm chegado ao seu conhecimento, de que aos produtores vêm sendo ofertado — de forma indiscriminada e muitas vezes mal-intencionada — o procedimento… como meio de renegociação de dívidas e contratos”, disse a associação, em referência aos acordos envolvendo soja e milho.
A Anec representa os comerciantes globais de grãos, incluindo a ADM, a Bunge, a Cargill, a Louis Dreyfus Commodities e a chinsa Cofco, entre outros.
Em relatório, a Anec disse reconhecer que o “instituto da Recuperação Judicial tem sua finalidade e pode ser um instrumento valioso para garantir a continuidade das atividades de produtores em determinadas situações”.
Mas alertou que “a crescente procura por esse procedimento, muitas vezes escolhido sem o devido critério pelo produtor, levado a ele por desinformação ou má-fé, tem um custo para toda a cadeia econômica e para a imagem do país no exterior”.
A Anec disse ainda que consequência direta para os produtores é a “forte queda da oferta de crédito associada ao aumento do seu custo quando concedido”.
O Brasil é o maior produtor e exportador de soja do mundo e um importante fornecedor de milho para clientes na Ásia, Europa e Oriente Médio.
Na atual temporada, entretanto, a produção brasileira de grãos ficará abaixo das expectativas devido ao efeito negativo do padrão climático El Nino sobre as plantações.
O El Niño causou uma seca severa no Centro-Oeste do Brasil, reduzindo os rendimentos da soja e o potencial de produção do maior Estado agrícola do país, o Mato Grosso.
O excesso de chuvas no Sul também prejudicou as perspectivas do milho de verão em Estados como o Rio Grande do Sul, além das safras de trigo.
De modo geral, a produção total de grãos do Brasil cairá para cerca de 299,7 milhões de toneladas métricas nesta temporada, de 319,8 milhões de toneladas na anterior, de acordo com a Conab.
A produção de soja, inicialmente prevista em 162 milhões de toneladas em 2023/24, será de 149,4 milhões de toneladas, informou a Conab.
Em um novo relatório na quinta-feira, a Conab disse que a produção total de milho do Brasil cairá quase 14%, para 113,7 milhões de toneladas projetadas no ciclo atual.