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Os perigos e consequências de emprestar seu nome para terceiros

3 min leitura
Os perigos e consequências de emprestar seu nome para terceiros

Por Victor Manuel Barbosa Vicente e Dany Rogers.

Finclass Vitalício Quadrado

Os estudos da pesquisadora Cecília Mattoso, desenvolvidos na COPPEAD/UFRJ, resultaram no livro Me empresta seu nome? Um estudo sobre os consumidores pobres e seus problemas financeiros.

Já a pesquisadora Jessica Campara e outros pesquisadores, desenvolveram o estudo intitulado O dilema dos inadimplentes: antecedentes e consequentes do ‘nome sujo’.

Estes materiais demonstraram uma relação entre o empréstimo do nome para contração de dívidas de terceiros e o endividamento das pessoas em todas as classes sociais.

Mostra ainda que o problema atinge com mais ímpeto as classes menos abastadas financeiramente.

O bom coração do brasileiro e a sua vontade em querer ajudar e ser solidário acabam resultando em sérios problemas.

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Segundo dados do SPC Brasil e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), 1 em cada 10 brasileiros contrai dívidas por emprestar seu nome para terceiros.

Estes órgãos e os resultados das pesquisas citadas anteriormente nos revelam outros dados importantes:

  • 2 em cada 3 brasileiros que emprestam o nome são mulheres;
  • 6 em cada 10 não sabem o valor do empréstimo feito pela outra pessoa, mas R$ 3.700,00 é o valor médio do empréstimo/compra feito pelo terceiro (o que, convenhamos, é um valor muito elevado para não se saber); e
  • 7 em cada 10 não conseguiram um novo cartão de crédito ou cartão de uma loja por estarem com o seu “nome sujo” por tê-lo emprestado.

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Estima-se que em torno de 15 milhões de consumidores brasileiros estão inadimplentes por terem emprestado o nome para terceiros.

Uma das principais causas para esse problema é que, na maioria das vezes, não atentamos nem avaliamos bem as pessoas que nos solicitam esse favor.

Geralmente, quem solicita: já possui restrições ao crédito (não tem “crédito na praça”); e/ou tem dificuldade para comprovar a renda ou ela está abaixo do exigido para o limite de crédito pretendido.

Essas informações nos mostram que o problema é gravíssimo. Esse amigo ou familiar está com o “nome sujo” e/ou busca um empréstimo em que a parcela não cabe em seu bolso. Será que realmente você deveria ajudá-lo?

Os riscos e as consequências de se emprestar o nome

Para ajudar você nessa decisão, vamos elencar alguns riscos e consequências que podem ocorrer ao emprestar o seu nome para terceiros:

1. Caso a dívida não seja paga, haverá a inclusão do seu nome em cadastros de instituições de proteção ao crédito, como SPC ou Serasa-Experían. Se é o caso de seu amigo/familiar estar com o nome sujo, não se preocupando com o próprio nome, o que garante que ele terá algum zelo pelo seu?

2. Com o “nome sujo”, você fica impossibilitado de adquirir sua tão sonhada casa própria, o financiamento de um veículo, a contração de um empréstimo, a aquisição de um cartão de crédito ou mesmo serviços hoje tão básicos como internet, TV a cabo e celular pós-pago;

3. Você poderá sofrer cobranças via processos judiciais dos credores, proporcionando-lhe custos advocatícios e uma tremenda “dor de cabeça”;

4. Você tenderá a adiar ou negar o pagamento por acreditar que o montante da dívida não lhe pertence, prejudicando ainda mais a sua situação financeira;

5. Quem empresta o nome, salvo raríssimas exceções, não tem nenhuma garantia de que a dívida será paga, portanto, pode apostar que vai sobrar para você;

6. Mais da metade dos atuais inadimplentes que contraíram dividas por emprestarem o nome está nessa situação há 3 anos, o que significa que é difícil a resolução do problema;

7. É bem provável que o seu relacionamento com a pessoa que “sujou o seu nome” seja prejudicado, podendo até ocorrer a perda definitiva do vínculo; e

8. A vida da pessoa que “emprestou o nome” pode se desestruturar emocional e moralmente, com perda de sono e autoestima, por exemplo.

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O que fazer então?

Quando lhe pedirem para fazer algum empréstimo tais como compras no seu cartão de crédito, abertura de crediário em seu nome, fiador de um aluguel ou um empréstimo bancário, sugerimos que não faça isso.

E isso não é mesquinhez, é prudência. Dizer “não” pode prejudicar a amizade, mas emprestar o seu nome gera o risco de perder o amigo, o dinheiro e ainda ficar com o “nome sujo” na praça.

É fato que amizades acabam por dinheiro, namoro acaba por dinheiro e famílias brigam por dinheiro.

Quando você dizer não, a pessoa naquele momento pode até ficar com raiva e decepcionado por você não ter ajudado.

No entanto, acredite, você estará salvando a sua relação com ela e ainda evitando problemas futuros, tanto no seu bolso quanto na sua relação com esta pessoa.

Em último caso…

Mas o brasileiro é solidário e você não deve ser diferente de um brasileiro comum, com bom coração, gentil e companheiro, especialmente com amigos e parentes.

Isso é um traço da nossa formação sociocultural como povo e nação que nos dá um forte sentido de pertencimento.

Em outras palavras, somos humanos e nos sensibilizamos com o próximo e sua dor e não há demérito nenhum nisso. Pelo contrário), caso decida atender ao pedido do amigo ou familiar recomendamos:

  • Avaliar o peso desta dívida em sua renda e se essa decisão pode desestabilizar o seu orçamento caso a dívida não seja paga;
  • Peça garantias de pagamento como por exemplo cheques da própria pessoa;
  • Empreste o valor em dinheiro caso tenha disponível.

Contudo, apesar dessas medidas serem importantes e diminuírem os seus riscos, elas não eliminam o calote.

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Por isso esteja preparado financeira e emocionalmente para “pagar o pato” sozinho. E não se esqueça que você também é responsável pela situação.

Afinal, você poderia ter evitado dizendo “não” quando teve a oportunidade.

Sobre os autores

Victor Manuel Barbosa Vicente é Doutor em Administração pela UnB, professor da FACIP e membro do Núcleo de Educação Financeira (NEF) da Universidade Federal de Uberlândia. Entusiasta de estudos que combinam finanças e aspectos socioculturais do indivíduo.

Dany Rogers é Doutor em Finanças pela EAESP/FGV, professor da FACIP e coordenador do Núcleo de Educação Financeira (NEF) da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail para contato: [email protected].

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