Você já se pegou dando chilique em restaurante porque o colarinho do chope tinha 1mm a menos? Ou quem sabe no hotel, porque o lençol não tinha 3 milhões de fios. E no trânsito, afinal, sua pressa é sempre mais importante que a pressa dos outros. Já viu cenas assim?
E quem nunca usou todo o repertório conhecido de palavrões contra sua operadora de celular ou Internet por conta de alguns segundos a mais em um download? Pois é, eu você e todo o mundo estamos nessa, meu caro leitor.
Sempre achamos motivos para um ataque de nervos cada vez maior, seja no avião, no supermercado ou até mesmo na fila para pegar nossos filhos na escola. Nossa necessidade é sempre maior do que do resto do mundo. Em resumo: somos pessoas mimadas e egoístas por natureza.
Vou contar uma rápida estória para ilustrar o que tento dizer aqui. Tive meu primeiro contato com a Internet em meados de 1995 (quem viveu nessa época vai lembrar que era algo para poucos). Computadores eram caros, os provedores (você sabe o que é isso?) eram poucos e a Internet era lenta, bem lenta.
Ainda me lembro de meu primeiro computador, comprado em muitas parcelas em uma loja de varejo. Não riam, mas era muito próximo do que havia de melhor na época: monitor de tubo de 14 polegadas, processador Pentium (o must da época) de 300 MHz (não Giga, Mega mesmo!), memória RAM (pasmem) de incríveis 512 Mb (isso mesmo, Mega de novo) e incríveis 10 Gb de HD (hoje a maioria dos celulares tem mais que isso).
Ah, quase me esqueci, ele vinha com o incrível “kit multimídia” que incluía CD-ROM de 36 velocidades, caixinhas de som e um microfone que não servia para nada. Tudo isso por módicos R$ 2 mil da época, que hoje, corrigidos… bem, é melhor nem falar.
E aí chegamos no principal motivo de eu ter comprado esse “monstro”: a Internet. Bate-papos e salas de chat do UOL, o mIRC e o inesquecível ICQ, tudo isso só para mim… desde que eu conseguisse conexão! Sim amigo “Millenial”, a Internet era discada! Seu computador literalmente ligava para o número do provedor e, quando ele “atendesse”, você estaria conectado na Internet.
Só que a coisa toda era tão arcaica, que muitas vezes dava ocupado pelo excesso de pessoas querendo a mesma coisa. Levava cerca de uma hora para baixar uma música em formato MP3, as vezes mais. Vídeos online ou streaming? Nem pensar. Feliz de quem tinha um modem de 56 Kbps.
A Internet banda larga só ficou acessível no final dos anos 90, início de 2000. Em 2001 acessei pela primeira vez pelo ADSL com a incrível velocidade de 256 Kbps e isso custava em torno de R$ 200,00 por mês (da época) – foi possível baixar uma música em 20 minutos.
Dei toda essa volta para ilustrar o quanto estamos mimados. Hoje baixamos músicas, vídeos e fotos de alta resolução em nossos celulares em questão de segundos e, ainda assim, começamos a bufar se levar um segundo a mais.
Temos literalmente tudo o que minha geração, por exemplo, sequer imaginava ser possível: TVs gigantescas de alta definição, filmes, séries e todo tipo de conteúdo sob demanda a preços módicos, notebooks, tablets, smartphones, carros, drones, Starbucks!
Diante de tudo isso e de tanta tecnologia e modernidade, não estamos satisfeitos. Tudo evolui, menos o ser humano. Não é preciso uma tragédia para nos tirar do sério; aliás, qualquer coisa serve bem para isso.
Isso vai ao encontro com um texto que o amigo Conrado Navarro compartilhou, cujo título é “Vale a Pena Ser Rico?”. No fundo o questionamento é esse: o dinheiro tem pouquíssimo poder de satisfação para uma geração que não dá valor ao que tem e, assim, sempre quer mais.
Permita-me, caro leitor, bater na mesma tecla: cuide de você primeiro. Ajuste as expectativas, diminua a ansiedade e procure a verdadeira satisfação dentro de si. Só então suas conquistas terão sabor e significado.
Lembre-se: não importa quanto dinheiro uma pessoa mimada tem, ela nunca está (nem se sentirá) satisfeita. E pessoas assim não contribuem em nada para um mundo que já tem problemas demais. De novo: pessoas mimadas não enriquecem de verdade! Cuidado!
Vamos parar de olhar somente para os nossos umbigos? Grande abraço e até a próxima.
Foto “Annoyed passenger”, Shutterstock.