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Os últimos serão os primeiros? Pesquisa mostra que piores fundos tendem a ter os melhores retornos no futuro

por André Salmeron
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Pesquisa mostra que piores fundos tendem a ter os melhores retornos no futuro (Foto: Pixabay)

Uma das formas mais comuns de escolhermos um fundo de investimento é olhando para sua performance histórica, e em especial o quanto esse ativo rendeu acima do benchmark — índice de referência que nos dá a base de quanto um mercado rendeu. 

Por exemplo, se estamos falando de um fundo de renda fixa, tendemos a dar mais valor para aqueles que entregaram os maiores retornos acima do CDI, e quando falamos de ações, buscamos aqueles que mais geraram retorno acima do Ibovespa.

Embora praticamente todas as plataformas ou documentos desse tipo informem que rendimentos passados não são garantia de rendimentos futuros, isso quase nunca é levado a sério. 

Com isso em mente, uma equipe de pesquisa formada por Bradford Cornell, Jason Hsu e David Nanigian decidiu avaliar o quão melhores, ou piores, tendem a ser os retornos obtidos por quem teve os maiores rendimentos acima de um índice de referência, como os que citamos acima.

Os resultados foram, no mínimo, surpreendentes. Foram construídas carteiras com os fundos de melhor performance (os 10% mais bem colocados), os que ficaram entre os 45% e 55% (formando uma mediana de 10%) e os piores (10% com os piores retornos). 

Nos três anos seguintes, os fundos medianos superaram os “vencedores” em todas as métricas de risco-retorno utilizadas e, mais do que isso, os piores fundos tiveram um retorno ainda melhor.

Antes de entrarmos em detalhes, é importante entender um pouco melhor a metodologia do estudo. Os dados consideram períodos de três anos (36 meses) de 1994 a 2016, essa duração reflete o tempo médio de permanência de um fundo nas carteiras de investidores institucionais, como fundos de pensão. Após três anos, as carteiras são reconstruídas para refletir os novos fundos vencedores, medianos e perdedores.

Além dos testes envolvendo essas carteiras, o trio de pesquisadores ainda compararam carteiras que removiam os fundos com as piores performances contra aqueles que os mantinham, para analisar se isso geraria diferenças significativas no retorno final. 

Enfim, são realizados ainda diversos testes que comprovam a robustez estatística do levantamento, inclusive mediante a introdução de outras variáveis.

Estudo mostra que piores fundos se saem melhor

Tudo bem, mas quanto retorno adicional alguém pode esperar ao trocar uma carteira com os fundos “campeões” para uma carteira de fundos medianos ou, mais ainda, fundos perdedores?

Começando pelo retorno nominal, uma carteira de fundos com a melhor performance teria gerado 7,43% em dólares, o que não é ruim. No entanto, uma carteira de fundos medianos produziria 8,89% ao ano. Nessa simples mudança, obtém-se um ganho de 1,46% a mais em cada ano. Se aceitassem o risco de mudar para os fundos perdedores, esse retorno passaria para 10,04%. Isso é uma diferença de 2,61% ao ano para a carteira “campeã” e 1,15% para a carteira mediana.

Quando se leva em consideração o índice de Sharpe, também existe uma melhora bastante significativa. Só para ficar claro, esse índice mostra o quanto um investimento rendeu em relação ao risco oferecido pela média de mercado. Enquanto a estratégia com fundos de performance alta gerou um índice de 0,25 as carteiras mediana e perdedora obtiveram quase o dobro desse valor, com 0,42 e 0,48.

Em outras palavras, se um agente tivesse apenas parado de correr atrás de fundos com retorno alto, e optado pelos fundos medianos, teria melhorado de forma muito alta o retorno dessas carteiras. Por fim, nota-se que o melhor retorno em relação a média veio precisamente dos piores fundos, seguido pelos fundos medianos e, em último lugar, os melhores fundos — contrariando a expectativa de quem investe.

Tabela 1 – Resultados dos portfólios com as estratégias vencedoras, medianas e perdedoras. Fonte: Cornell, Hsu, Nanigia.

Rendimento passado: um problema até para quem sabe o futuro

A pesquisa de Cornell, Hsu e Nanigia não para nas análises que mencionamos acima. Tomando como base a performance futura dos fundos. Isto é, construindo carteiras que iriam investir nos fundos que viriam a ter a melhor performance, mas selecionando dessa base aqueles que tiveram a melhor performance no passado recente.

 Isso foi feito selecionando os 25% melhores fundos, mas selecionando dessa base os 10% com o melhor histórico recente (36 meses) e os 10% com o pior histórico recente (36 meses).

Os resultados são surpreendentes. Enquanto uma estratégia que pega os 25% melhores fundos (total) gera um retorno nominal de 12,13%, uma estratégia que filtra dessa base os 10% com melhor performance recente obtém um retorno inferior, de 11,70%. Ao mesmo tempo, a estratégia composta pelos 10% que tiveram o pior rendimento recente gera um resultado superior à média, chegando a 13,15% — cerca de 1% a mais por ano do que a média e 1,4% a mais que vencedores recentes. 

Como podemos ver abaixo, esse padrão se repete em todas as métricas de risco analisadas pelo trio de pesquisadores. 

Performance tende a regredir para a média

Os dados apontados pela equipe de pesquisadores reforçam uma hipótese muito relevante, que é a de que a performance dos fundos tende a regredir para a média do mercado. Isso explica, em larga medida, porque fundos que foram muito bem no passado recente se saem tão mal no futuro recente, tendo os fundos medianos ocupando uma posição intermediária.

Isso definitivamente não é algo irrelevante quando levamos em conta que, tanto entre profissionais quanto entre quem investe por conta própria, a performance recente é muitas vezes o único critério adotado para selecionar ou descartar um fundo. Só que, como ficou claro no estudo, essa prática tende a afetar de forma intensa e negativa os rendimentos de quem está alocando dinheiro nesses ativos.

Cabe lembrar que essa conclusão está em linha com o consenso científico de que tentar superar a média de um mercado sempre envolve riscos adicionais, e que esses riscos precisam ser os riscos corretos – que são muito mais complexos de serem capturados. Nessa medida, buscar prêmios em linha com o risco e retorno médio costuma ser, de longe, a melhor opção para praticamente todas as pessoas e instituições. Seja através de índices como IBRX 100 ou S&P 500, ou capturando um percentual do CDI (110%, 120%…).

Por favor, não invista nos piores fundos

Esse texto, assim como o estudo de Cornell, Hsu e Nanigia, não defende de forma alguma que você corra atrás dos fundos com os piores retornos para tentar, dessa forma, ganhar do mercado. Aliás, basta dar uma olhada rápida nas tabelas que constam acima para ver que mesmo as melhores carteiras renderam menos que os benchmarks. 

Além disso, os fundos com as piores performances recentes tendem a sofrer de uma série de outros problemas, dentre os quais estão uma chance muito maior de fechamento, suspensão de resgates, apostas ainda mais arriscadas visando retornos do tipo “tudo ou nada”, possível uso de alavancagem, etc.

A ideia aqui é simplesmente alertar para como uma prática muito comum — analisar fundos com base na performance recente — tende a destruir valor. Isso mostra que correr atrás dos “melhores fundos” e buscar uma superação constante dos índices de mercado tende a gerar prejuízos potencialmente irrecuperáveis na vida financeira de quem se aventura por esse caminho.

Como escolher bons fundos?

Uma primeira lição para quem tem interesse em buscar bons fundos de investimento é entender que existem fatores muito mais relevantes do que o retorno de curto prazo. Por exemplo, na renda variável, tanto nacional quanto internacional, é praticamente certo que fundos ativos não vão obter retornos maiores que a média.

Um ETF como o BRAX11, que replica um índice com as 100 maiores empresas do Brasil, seria uma escolha muito superior. Além disso, outro fator que joga contra fundos de ações são seu custo altíssimo, geralmente na casa dos 2% de administração e 20% de performance, que são subtraídos do patrimônio de quem investe. O BRAX11, enquanto isso, cobra meros 0,2% ao ano e não possui taxa de performance.

Ao migrarmos para a renda fixa, vale muito mais a pena analisar quão diversificada é a carteira do fundo, especialmente considerando que se ele obteve retornos muito acima do CDI, ele provavelmente está tomando riscos que irão penalizar o retorno no futuro. A mesma premissa da taxa se aplica aqui, com fundos mais baratos geralmente entregando retornos mais altos.

Uma consultoria pode te ajudar

Caso você sinta que precisa de uma ajuda mais direta para investir bem, uma opção é buscar uma consultoria. Aqui na Dinheirama, recomendamos fortemente a Portfel, consultoria de investimentos do Grupo Primo. Além de um compromisso forte com o bem-estar das pessoas, ela é uma das poucas do mercado que se aprofunda no estudo científico dos investimentos, o que tende a gerar carteiras muito mais bem alocadas do que a média.

Caso tenha se interessado, você pode entrar em contato pelo link.

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