Os analistas do mercado financeiro concordaram com o nível dos reajustes nos preços da gasolina e do diesel implementados pela Petrobras (PETR3; PETR4) na quinta-feira, mas ligaram o sinal de alerta para uma possível aproximação da estatal com a Venezuela.
O preço médio do litro do diesel aumentará em R$ 0,25, enquanto o da gasolina cairá R$ 0,12 real a partir de sábado.
Para o head na área petróleo, gás e renováveis da StoneX, Smyllei Curcio, o reajuste do diesel “foi coerente” com a metodologia utilizada pela consultoria, embora o momento não fosse muito previsível.
No caso da gasolina, disse ele, o valor estava muito próximo do praticado no mercado internacional. “Não enxergávamos um ajuste (no momento)”.
“Mesmo assim, este patamar permite à empresa manter uma rentabilidade ainda elevada”, explica Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante. Segundo ele, o momento é bastante favorável para a petroleira.
“Com o petróleo negociado por volta dos US$ 93 o barril e com o aumento da produção anunciado de 7,8% referente ao mês de setembro, a companhia deve divulgar mais um resultado positivo referente ao terceiro trimestre de 2023” explica.
Após o início do conflito entre o Hamas e Israel, os preços do petróleo tiveram altas consecutivas, o que impulsiona as ações das petroleiras.
Segundo o Itaú BBA, com base nas últimas estimativas da faixa de preços da gasolina, a empresa ajustou o seu preço para perto do limite superior da faixa, seguindo o estreitamento do crack spread (diferencial entre o preço do petróleo e os produtos derivados) nas últimas semanas.
Faixas de Preço da Gasolina (R$/Litro)
Mas por que os preços da gasolina foram reduzidos?
Diante de um mercado internacional de petróleo Brent com preços firmes acima de 90 dólares o barril, a redução do preço da gasolina parece ser motivada pela situação atual de oferta e demanda doméstica e concorrência do etanol, avalia a consultoria Argus.
“Na avaliação da Argus, não haveria espaço para reduzir os preços com base nas cotações atuais no mercado internacional”, destacou.
Ele lembrou que, em maio, a Petrobras definiu em sua nova política de preços que consideraria as alternativas e a concorrência no mercado interno para efetivar seus reajustes.
“A companhia se encontra hoje num cenário de expansão do consumo de etanol hidratado no Brasil, que causa um recuo na demanda por gasolina”, destacou.
Em setembro, as usinas do centro-sul aumentaram em 18,45% as vendas de etanol hidratado na comparação com 2022, enquanto a comercialização de álcool anidro (misturado à gasolina) teve baixa, indicando continuidade de perda de mercado do combustível fóssil para o renovável registrada em agosto, segundo os dados mais recentes da reguladora ANP.
Participação de mercado
Para o consultor de Gerenciamento de Risco da StoneX, Thiago Vetter, a diminuição média de R$ 0,12 por litro foi acima da defasagem monitorada na quinta-feira de somente 3 centavos, “que significava um preço em linha com o preço internacional antes do reajuste”.
“E, portanto, não caberia um reajuste nesta métrica”, disse Vetter.
Segundo ele, “isso corrobora com uma leitura de que a empresa fez o reajuste no sentido do histórico recente do mercado internacional (de baixa), mas com intensidade maior em função das perdas de ‘market-share’ no Ciclo Otto frente ao etanol hidratado, sendo um produto substituto à gasolina C nos postos”.
Por outro lado, a Petrobras anunciou na véspera que aumentará em 6,58% o preço médio de venda do diesel às distribuidoras a partir de sábado.
No anúncio, a petroleira destacou que busca a prática de preços competitivos por produto e local, e que isso resultou “em movimentos distintos para cada produto (gasolina e diesel)”.
A maior competitividade recente do etanol aconteceu após o mercado reavaliar em meses recentes o tamanho da safra de cana do Brasil, mas essa perda de mercado da gasolina para o etanol pode ter vida curta.
Em breve, o centro-sul do Brasil entrará na entressafra de cana, quando os preços do biocombustível tendem a subir.
Impacto na inflação
Com a mudança dos preços, o efeito total na inflação, medida pelo IPCA, será de 8 pontos-base, dividido no mês de outubro (3 bps), que passa a 0,25%, e de novembro (5 bps), que vai a 0,32%, avalia a Órama Investimentos.
Segundo Alexandre Espirito Santo e Eduarda Schmidt, a projeção para 2023 passa a ser de 4,6%, de 4,7% anteriormente.
(Com Reuters)