Andréa comenta: “Ricardo, estou desesperada. Minhas dívidas juntas (três cartões de crédito e cheque especial) hoje equivalem a mais do que o dobro da renda de minha família. Não sei mais o que fazer, pois só pago juros e mais juros. Ajude-me a encontrar uma forma de equilibrar minhas finanças. Obrigada”.
Equilibrar as finanças está se tornando um desafio para boa parte das famílias brasileiras, mas é importante acreditar que há solução. Já conversamos muito sobre tudo o que de positivo aconteceu na economia do Brasil nos últimos anos, mas não podemos deixar de comentar um componente novo que tem se tornado uma pedra no sapato de muita gente: o crédito.
A dificuldade em lidar com o crédito
Não é surpresa pra ninguém que a oferta de crédito é crescente no Brasil – e esse fenômeno se torna muito nítido na medida em que “brotam” nas cidades diversos pontos ocupados por financeiras.
Eu mesmo, poucos dias atrás, recebi em casa uma ligação de meu banco me oferecendo dinheiro. Algo tipo “O senhor tem à sua disposição uma linha de crédito extremamente vantajosa, só irá pagar pouco mais do que 5% ao mês em 60 meses”. Tive vontade de explicar meu trabalho, mas em pouco tempo essa motivação se transformou em preocupação.
Ao contrário do que eu fiz (agradeci e desliguei o telefone), muitas pessoas acabam aceitando a “linha de crédito vantajosa”. No Brasil de hoje podemos afirmar, categoricamente, que o crédito fácil não é sinônimo de crédito barato. Hoje em dia, conseguir uma aplicação com rentabilidade de 0,5% ao mês é um enorme desafio, então como aceitar um empréstimo qualquer com juros de 5% no mesmo período?
Pesquisas que preocupam…
A ProTeste (associação de defesa do consumidor) divulgou na semana passada uma pesquisa que aponta o Brasil como o país com a maior taxa de crédito rotativo entre sete países da América latina. O estudo mostrou que a taxa média do financiamento através do cartão de crédito é de 323,14% ao ano. Em segundo lugar ficou o Peru, com taxa de 55% ao ano.
Outra pesquisa com dados preocupantes foi divulgada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que constatou que a dívida de 35% das famílias endividadas supera o dobro de sua renda. O atual valor médio das dívidas é de R$ 4.943,88. O levantamento do Ipea apontou ainda que 30% das famílias endividadas possuem contas em atraso e que 28% desses inadimplentes alegam não ter condições de pagar as faturas vencidas.
É possível livrar-se das dívidas? Como?
A situação é grave e mostra que não amadurecemos bem financeiramente para lidar com o consumo através do crédito. Primeiro, porque conquistar as coisas simplesmente pegando dinheiro emprestado não é uma alternativa sustentável e, segundo, pelo simples fato de que vivemos em um país com crédito ainda muito caro.
Quem se encontra em uma situação delicada e com dívidas infelizmente não sairá da situação em um simples passe de mágica. Mas, com um pouco de planejamento e paciência é possível contornar a situação. Separei algumas ações capazes de ajudá-lo.
1. Assumir a responsabilidade. Em situações complicadas, como no caso das dívidas, é muito comum mascararmos a real fragilidade trazida pelos problemas. Eleger um culpado que não nós mesmos (o cartão de crédito, o cheque especial ou a “super liquidação”) é muito cômodo e faz com que nosso sono seja mais tranquilo.
No entanto, precisamos parar de nos enganar e aprender que as ferramentas de crédito são apenas ferramentas, mas seu uso foi originado de uma decisão pessoal – alguém foi lá e a usou. Esse, sim, é o verdadeiro responsável.
2. Atitude para mudar e sair da zona de conforto. Agora já descobrimos que somos os verdadeiros responsáveis pela má gestão financeira das ferramentas que temos à nossa disposição e isso é fundamental. O ponto aqui é mudar nossa conduta em relação ao consumo focando em novos hábitos (mais que em tentar acabar com hábitos ruins).
Consumir é importante para a sociedade e faz uma nação inteira prosperar, mas o consumo não precisa ser acompanhado de dívidas impagáveis. Chegou a hora de aprender a esperar e consumir com planejamento e respeito aos seus limites de orçamento. Comece do começo: anote seus gastos e suas receitas em um orçamento de forma categorizada e discuta a realidade familiar depois de 30 dias seguindo essa sugestão.
3. Buscar alternativas para quitar as dívidas. Agora já sabemos como e onde erramos e também que atitude é fundamental para o desenvolvimento financeiro. Agora chegou o momento de dar volta por cima, quitar as dívidas e aprender com o erro. Seu orçamento, seus limites e a readequação dos gastos serão fundamentais nesta fase.
Faça um levantamento completo e minucioso de suas dívidas, relacionando quem são os credores, os valores das dívidas e as taxas envolvidas. Na hora de negociar, é preciso muito sangue frio e você nem sempre deverá aceitar a primeira proposta que receber do credor. Esteja preparado para fazer uma contraproposta por escrito, não se esquecendo de documentar tudo isso.
Se não tem condições de pagar toda a dívida nesse momento, tudo bem, o importante é priorizar as dívidas com valores e juros maiores de forma a flexibilizar seu pagamento de acordo com seu orçamento (item anterior). Ou seja, você vai rever gastos, liberar parte do orçamento e usar esses recursos para pagar parcelas que encerrem a cobrança de juros e signifiquem que você está lidando com suas responsabilidades.
Uma alternativa interessante para quem tem dívidas caras, como cartão de crédito e cheque especial, é buscar outro tipo de empréstimo no banco – na prática isso significa tomar dinheiro emprestado a juros menores e quitar essas dívidas com juros maiores. Neste caso, não se esqueça de negociar um bom desconto. Insista.
4. Controle da vida financeira e respeito ao orçamento. Existem duas palavras muito importantes para se conquistar o sucesso financeiro: atitude, que falamos no item anterior, e disciplina. A atitude faz toda a diferença porque inicia a mudança – é através dela que conquistamos a força para transformar o ruim em bom, o feio em bonito e o fracasso em sucesso.
Quando pensamos em nosso bolso, a atitude de mudar algo que está sendo realizado de maneira errada deve ser somada à disciplina de manter o controle das finanças atualizado e respeitado. Muito brasileiros que passam por problemas financeiros chegaram nessa situação porque não controlavam suas finanças com a atitude e a disciplina necessária, optando por viver da contabilidade mental. O resultado não poderia ser outro: endividamento.
Não podemos mais sucumbir às más escolhas financeiras. Temos que aproveitar que o acesso à informação de qualidade está em níveis nunca antes vistos e buscar o conhecimento, além de praticar o que aprendemos. Se o Brasil fracassar, nós como cidadãos teremos boa parte da culpa. Simbora aprender com nossos erros e mudar?
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