Dias atrás eu conversei com um amigo sobre a situação dos brasileiros e sua relação com o dinheiro. Usando exemplos reais, de pessoas próximas, gente comum e colegas de trabalho, chegamos à conclusão de a educação financeira tem um caminho enorme por percorrer, especialmente quando se trata da consciência ligada ao investimento e à necessidade de planejar o futuro. Pouca gente valoriza o assunto; iniciativas de aprendizado e conscientização esbarram no crescente apelo ao consumo e necessidade de “inclusão social”.
Baseamos nossas impressões em detalhes explícitos bastante simples, que demonstram a falta de interesse pelo que o dinheiro realmente representa. Rapidamente, contamos, com os dedos das mãos, dez exemplos. Veja se você conhece alguém assim ou mesmo se enquadra em alguns dos aspectos:
1. Vergonha de pedir descontos. O vendedor parece estar fazendo um favor, quando o cliente é quem realmente deveria controlar a situação. Conhecendo bem a realidade financeira da família fica mais fácil definir limites para gastos, consumo e compras do cotidiano. Sabendo quanto você pode gastar, negociar, fica mais interessante.
2. Justificativas e desculpas sempre na ponta da língua quando falta dinheiro. Como já abordamos em outros artigos, o comodismo de culpar os outros facilita o dia a dia. É fácil viciar-se no hábito de apontar culpados e criar explicações: a culpa parece sempre ser de algo mais. O papel de vítima não tem lugar na vida de quem é realmente independente e dedicado ao próprio sucesso.
3. Inexistência de um orçamento doméstico minimamente atualizado. A contabilidade mental parece dar conta do recado – o que não acontece na prática. Confiar apenas nas referências e princípios que carregamos em relação ao dinheiro apenas conforta, mas não impede decisões econômicas equivocadas. Apontar, fazer contas e avaliar cenários gera compromisso.
4. Compra por impulso e de forma excessivamente parcelada. A TV LCD que poderia ser de 32 polegadas (levando em conta o tamanho da sala) acaba sendo substituída pela de 42 por conta da “oferta”. Brasileiros em geral creem que comprar parcelado é melhor porque agiliza a construção de patrimônio. Que patrimônio, se tudo está ainda por pagar? A velha relação entre necessidade, desejo, possibilidade e realidade.
5. Desinteresse pelo estudo do tema. Falta leitura, investimento em formação, envolvimento com cursos, palestras etc. A busca por soluções rápidas e o foco em mudanças complexas de vida traz ansiedade e frustração. É preciso ser mais dedicado em relação ao aprendizado e compartilhamento de informações financeiras, afinal não se pode negar sua importância.
6. Visão distorcida de curto, médio e longo prazo. Pensar o futuro já foi tarefa das mais complicadas por aqui. O passado de inflação galopante, juros estratosféricos e planos monetários inconstantes passou. É hora de compreender que planejar o futuro implica ter, respeitar e investir de acordo com objetivos corretamente posicionados ao longo do tempo. Curto prazo: até um ano; médio prazo: de um a cinco anos; e longo prazo: mais de cinco anos. Paciência, é preciso paciência.
7. Expectativa exagerada em relação ao trabalho. Associar a construção de patrimônio apenas à renda proveniente do trabalho remunerado vicia e impede as pessoas de perceber que o importante é dar condições para que o dinheiro também trabalhe e que o tempo livre é um excelente aliado das boas ideias.
8. Confundir realização com necessidade de autoafirmação. Quem não conhece aquele que troca de carro porque seu melhor amigo também o fez? O medo de “ficar para trás” ou passar a impressão de que o outro “vai mais rápido” coloca as famílias diante da necessidade de ter para se impor.
9. Agir com base em crenças ou raízes como se tais “verdades” fossem absolutas. Para muitos, bolsa de valores é um cassino. Outros têm que comprar logo a casa própria. Não há certo e errado, é verdade, mas decisões econômicas precisam levar em conta também variáveis contemporâneas e possibilidades futuras. Não é fácil, mas é relevante.
10. Dinheiro como fim e, logo, como um tabu, algo nunca plenamente alcançado. A necessidade de heróis e a constante publicidade em torno de características “mágicas” (milionário, bilionário, jovem empreendedor etc.) coloca o sucesso financeiro como meta clássica daqueles que hoje trabalham. “Ficar rico” é o que todo mundo quer. Mas hábitos tradicionais trarão resultados tradicionais: quem vence e alcança a independência financeira opta por qualidade de vida, novos negócios e investimento, não trabalho em excesso, emprego e consumo.
Os exemplos aqui citados são parte de opiniões pessoais, avaliações subjetivas, trabalho de observação. Os julgamentos são resultado de minha convivência com estas pessoas e com as próprias transformações a que me submeti para mudar meus conceitos e decisões em relação ao dinheiro. Repare como são óbvias as constatações; talvez por isso estejam tão enraizadas e camufladas. Desafie o óbvio, pois.
Que fique claro que o objetivo destas provocações é alertá-lo para a necessidade de reservar mais tempo para suas verdadeiras prioridades e discutir, refletir mais sobre decisões antes automáticas – as mesmas decisões que afastam você de chegar onde deseja, ainda que inconscientemente. Interessa que você dê mais atenção ao dinheiro como ferramenta, mais como ponto de apoio que razão de problemas.
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