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Dia a dia do profissional liberal: atendimentos

por Valéria Meirelles
Dia a dia do profissional liberal: atendimentos

Olá leitor, no artigo de hoje falarei sobre os nossos atendimentos em consultório. Lembrando que embora minha base seja a Psicologia, o que escrevi certamente também pode ser aplicado em outras áreas da saúde. Vamos lá!

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Que clientes atender?

Muitos colegas em início de carreira me perguntam sobre qual nicho de mercado atender. Esta pergunta é complexa.

Posso começar respondendo de maneira simples: escolha o seu nicho, sua especialidade e, aos poucos, tente ser o melhor que puder. Certo? Mais ou menos, pois existem complexidades na relação cliente/paciente com terapeuta ou outro cuidador da área de saúde e explicarei mais abaixo.

Junto com a primeira pergunta, vem também outra: o número de clientes que se deve atender. A resposta é: depende de cada um e de inúmeras variáveis.

Começando pelo mais prático e concreto: quantas horas da semana você se dispõe a atender: 5, 10, 20, 30, 40, 50 horas? É você quem definirá esse volume, de acordo com sua disponibilidade e necessidade financeira, baseada em seu planejamento financeiro.

Aliás, a palavra disponibilidade envolve não apenas horas e sim o aspecto psicológico, que merece atenção especial. Pergunto: quais e quantos clientes você emocionalmente terá disponibilidade ou conseguirá atender, acolhendo cada um deles em suas demandas?

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Para isto, gosto do conceito de expansividade emocional, do criador do Psicodrama Jacob Levy Moreno, que envolve a capacidade das pessoas em manterem relacionamentos, “sustentar o afeto de outros indivíduos durante certo tempo”, o que se aplica aqui também, uma vez que tanto a terapia ou outro tratamento consistem na relação entre cliente e profissional, que precisa fluir.

E sejamos realistas: nem sempre teremos necessariamente empatia por todos os clientes que nos procurarem, da mesma forma que a recíproca será verdadeira. Nada de mal, desde que isto seja considerado respeitosamente.

Leitura recomendada: Consultório e profissional liberal: dia a dia, captação de clientes e divulgação de seu trabalho

Que tipos de atendimentos realizar?

Aliás, voltando ao conceito de expansividade emocional, ele se aplica também para identificarmos e definirmos os tipos de atendimentos que temos mais facilidade em realizar, o que nos ajuda muito a focar em nossos talentos, interesses e claro, nos desenvolver cada vez mais na profissão.

Há terapeutas que conseguem e preferem atender grupos, outros casais, outros apenas pacientes individuais e tipos específicos de casos com os quais se sintam mais identificados ou confiantes.

E tudo isto, sem que percebamos, foi sendo moldado em nossa família, na convivência nossos pais e irmãos inicialmente e também demais familiares: avós, tios e outros.

Por exemplo: se viemos de uma família pequena, grande, mais calma, mais turbulenta/agitada, tudo isto irá influenciar e mais ainda, modelar nossa capacidade de atenção e de dar conta emocionalmente de certo número de seres humanos e nos dedicarmos a eles. Consegue perceber?

Darei meu exemplo: venho de uma família bem pequena, o que me fez ter um jeito natural para cuidar melhor das pessoas em atendimentos individuais. Atendo também casais e famílias, mas sei que nestas circunstâncias terei que ficar mais atenta, estudar mais e “afinar” minha escuta a tudo que me dirão.

No começo, ficava aflita com várias pessoas falando ao mesmo tempo e tive “que me virar” para atender bem. No quesito atenção, também sei que a partir de um certo número de clientes, minha capacidade de acolher, ficar junto na dor do outro sem me deixar emaranhar nela, torna-se limitada e, portanto, daí também estipulo para mim mesma quais e quantos clientes consigo atender bem não só na semana toda, mas também ao longo dos dias.

Dentro do possível, acabo distribuindo casos, mesclando num mesmo dia aqueles menos e mais complexos, para evitar um desgaste meu que certamente repercutirá no cliente. Para que tenha mais clareza, sugiro também pensar na empatia, que é aquela capacidade de “calçar o sapato do outro” a fim de se conectar com sua dor e poder ajuda-lo.

Conte sempre com colegas de profissão

Caso você, leitor, por alguma razão não consiga fazer isto com lhe pede ajuda, pense se não será o caso de encaminhar o cliente a um colega. Sem empatia, não há encontro com o outro. E como ajudá-lo sem este importante componente, ainda mais em casos de dor, seja ela física ou psicológica?

Além da expansividade emocional e da empatia, existem também os valores do cliente, que se forem mais próximos dos seus, melhor. Veja bem, mais próximos, não iguais. Isto vale para todas as relações humanas e se inclui aqui também.

E isto não significa que você não poderá atender alguém cujos valores de vida sejam bem diferentes dos seus. O que sei é que isto pode se tornar um obstáculo ao atendimento, mas se não for para você, vá em frente.

Leitura recomendada: Dia a dia do profissional liberal: dinheiro, valores e pagamento – Parte 1

De todo modo, se reconhecer que os valores daquele cliente, casal ou família são muitos diferentes dos seus, de maneira a dificultar ajudá-los, seja honesto consigo mesmo e com eles e encaminhe-os para um colega que poderá fazer mais por eles que você. É uma questão de ética e compromisso com todos aqueles que o procura, concorda?

E uma sugestão: não deixe passar muitas sessões, pois o resultado pode não ser positivo; palavra de quem já passou por isto.

Como andam as suas emoções como profissional?

Vale ressaltar aqui a importância do terapeuta em fazer a sua própria psicoterapia para ser capaz de oferecer o acolhimento necessário ao sistema atendido, evitando inclusive de ser paralisado pelas ressonâncias, que nada mais são, na linguagem popular, do que profundo sentimento (positivo ou não) que nos acomete, a partir daquelas histórias que os clientes nos contam, que  encontraram “eco” em alguma parte de nossa existência que não lidamos bem, vamos dizer assim, até que um dia ela é despertada e sem perceber, perdemos o controle sobre ela, comprometendo os atendimentos.

Nestes casos, uma dica: quando tiver algo que seu cliente quer lhe contar que o incomode muito, pergunte-se as razões daquela emoção, busque identificar quais memórias são ativadas a partir de determinada fala e cuide disto o mais rápido possível, a fim de evitar que tais sentimentos sejam transferidos de maneira negativa ou excessivamente positiva, disfuncional e inconsciente para a relação com seu cliente.

Por isso mesmo que também é importante fazer supervisão dos casos atendidos, seja individual ou em grupo, com algum colega mais experiente, afinal, um olhar “de fora”, contribui e muito para o bom andamento de nosso trabalho.

Em épocas de crise e não necessariamente, pois também já fiz isto anos atrás, alguns colegas montam o próprio grupo de estudos ou supervisão, seja mensal, quinzenal, o que ajuda muito na troca de visão dos casos atendidos, pois são novos olhares, outras perspectivas.

E por fim, uma última questão: o tempo que se deve guardar material do cliente. O nosso conselho profissional (CFP- Conselho Federal de Psicologia) recomenda 5 anos. Devemos fazer isto com o máximo de cuidado, em local seguro, sem deixar material exposto, respeitando fielmente o Código de Ética.

Leitura recomendada: Dia a dia do profissional liberal: dinheiro, valores e pagamento – Parte 2 

Conclusão

Procurei transmitir neste artigo aspectos mais subjetivos da prática clínica que merecem atenção, pois envolvem, de maneira subjetiva, o principal pilar do trabalho terapêutico, que é relação com o cliente.

Como você certamente notou, conhecimentos técnico, administrativo e financeiros são importantíssimos, mas sem a parte emocional da relação com o cliente, pouco se constrói.

Relendo este artigo, vejo que estamos nos aproximando do final da “série” sobre prática clínica. No próximo e último, escreverei sobre como administrar o consultório em tempos de crise.

E caso tenha algum aspecto que você, leitor, queira saber e que não foi contemplado por aqui, não hesite em escrever para mim, seja no espaço de comentários deste material ou diretamente ([email protected]). Será ótimo ouvi-lo e colocar em artigo, se possível, a sua sugestão. Até breve!

Foto “Group therapy”, Shutterstock.

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