A fusão proposta pela Eneva (ENEV3) à Vibra (VIBR3) traz mais benefícios à companhia de gás e energia do que à maior distribuidora de combustíveis do Brasil que também já tem algumas operações no setor elétrico, avaliaram analistas nesta segunda-feira, apontando uma precificação desfavorável à Vibra no negócio e desafios sob a ótica “ESG”.
A Eneva anunciou na véspera ter apresentado uma proposta não vinculante de fusão com a Vibra, em transação que mira a criação de uma gigante de energia ao agregar os negócios de exploração de gás natural e geração termelétrica e renovável à distribuição de combustíveis.
Entre as sinergias apontadas pela Eneva, estão ganhos de eficiência e alocação de capital, redução de riscos do negócio atual da Vibra e a possibilidade de ampliar o portfólio comercial de produtos oferecidos a clientes B2B da Vibra com energia elétrica e gás natural.
A proposta de uma fusão de iguais, com os acionistas de cada lado representando 50% da base acionária da companhia combinada, foi vista como desequilibrada por analistas, uma vez que o atual valor de mercado da Vibra, de cerca de 25,9 bilhões de reais, é 25% maior que o da Eneva.
“Embora o acordo possa fazer algum sentido sob alguns aspectos…, à primeira vista, do ponto de vista da Vibra, o valuation proposto pode ser visto como desbalanceado”, disse o Bradesco BBI.
Por volta das 11h30 (horário de Brasília), as ações da Eneva operavam perto de uma estabilidade, enquanto as da Vibra caíam mais de 2%.
Segundo o banco, parte das sinergias indicadas pela Eneva relacionadas à geração de energia renovável já podem ser capturadas pela Vibra com a Comerc Energia, plataforma de energia solar e eólica da qual a empresa é co-controladora.
“A visão do mercado sobre a aquisição da Comerc pela Vibra foi que ela foi feita com um valuation alto, portanto acreditamos que a Vibra deve ter cuidado para não seguir o mesmo caminho novamente”, apontou o BBI.
O Safra lembrou que um aumento da exposição à geração termelétrica, com potencial aquisição de novas usinas do BTG conforme foi proposto, não estaria em linha com a estratégia da Vibra de focar em geração de energia renovável.
A equipe do Safra apontou ainda que, se concretizado, o negócio seria benéfico para a Eneva ao reduzir sua alavancagem, atualmente em 4,22 vezes a dívida líquida sobre Ebitda.
Pelos cálculos do Safra, a nova companhia pós-fusão teria uma alavancagem de 2,8 vezes, “ajudando a empresa a rolar o pagamento de sua dívida em condições mais favoráveis e financiar os seus projetos a um custo menor”.
Já o Citi apontou que há “sinergias claras” entre os negócios das empresas, e que um movimento de verticalização iria ao encontro do plano da Vibra de ser uma “one stop shop” de energia para clientes B2B.
O banco disse ver desafios do ponto de vista “ESG” atrelados à operação, mas apontou que eles poderiam ser contornados com vendas de ativos, como as termelétricas a carvão da Eneva.
“Muitos dos acionistas da Vibra parecem felizes em esperar que os dividendos da empresa aumentem. Uma eventual fusão com a Eneva significaria trocar o conforto dos dividendos de curto prazo pelas oportunidades (e riscos) de alocação de capital”, concluiu o Citi.