É curioso como temos a tendência de ver histórias de pessoas bem-sucedidas como romances novelescos. Observamos algumas figuras importantes, no seu auge, e quase que instintivamente relativizamos sua posição. Dizemos coisas como “Ele é talentoso” ou “A pessoa certa, na hora certa e no lugar certo” não para reconhecer seus feitos, mas para justificar o porquê de nós não estarmos (ou sermos) como ele.
É interessante refletirmos sobre a nossa reação diante de histórias de sucesso. Muita gente age na defensiva, como o exemplo do parágrafo anterior, ou age de forma indiferente. Poucos são os que vislumbram a história como a rica fonte que é de aprendizado.
O que quero dizer é que, em geral, queremos ser como o nosso ídolo, mas não estamos verdadeiramente dispostos a passar por tudo que ele passou antes de ser quem é. Se você prefere o português mais direto, a verdade é que fantasiamos demais e lidamos muito mal com a frustração, um ingrediente comum em qualquer história de sucesso.
O talento existe mesmo?
Ao confrontar pessoas com essa minha opinião, logo recebo um fulminante contra-ataque: “Nós não temos o talento que essas pessoas têm, por isso dificilmente atingiríamos tal posição”. O argumento é válido e conforta a um sem número de pessoas, mas não me satisfaz.
Eu não acredito nessa história de nascer com um dom específico e sou assim por uma razão muito simples: tudo o que eu conquistei (e que perdi), tudo o que eu vivi (frustrações devidamente incluídas) e tudo o que eu recebi (ou doei) são consequência de quanta disciplina, energia e humildade eu doei em cada etapa de minha vida.
Disciplina para fazer, todo santo dia, o que for necessário para aprender mais. Energia para fazer mais do que esperam de mim, aliando produtividade e resultados de forma coerente. Humildade para reconhecer que o caminho é longo e que o sucesso não é um objetivo, mas uma consequência.
O que isso quer dizer? Que acredito que o sucesso é ao mesmo tempo subjetivo e bastante palpável. Subjetivo porque cada pessoa deve ter sua própria definição do que é ser bem-sucedido (para uns pode ser uma conta bancária milionária e para outros ter tempo livre, por exemplo); e palpável porque ele será uma consequência do quão duro trabalhamos nossas prioridades.
Trabalho duro, a saída garantida
“Exige muito de ti e espera pouco dos outros. Assim, evitarás muitos aborrecimentos” – Confúcio
Usar a frase “Mas ele nasceu com talento pra isso” para definir o estágio das pessoas bem-sucedidas é uma forma de dizer “Eu não consigo porque não nasci com esse dom”. Ou seja, é escolher o fracasso sem tentar.
Você não imagina quantas pessoas me disseram que abandonar uma carreira bem-sucedida para tentar virar um escritor e palestrante era uma decisão da qual me arrependeria muito. Essa opinião não era infundada, mas baseava-se em apenas parte da realidade sobre mim.
Poucos sabiam que eu lia e escrevia muito (quantidade) desde a infância e investia desde os 18 anos. Eu treinava muito, aproveitando todo e qualquer tempo livre para ler e escrever, bem como para investigar e testar estratégias de investimentos. Eu trabalhava duro em um sonho, mas isso era algo que dizia respeito apenas a mim.
Exemplos de sucesso precoce precisam ser profundamente conhecidos. Tomar como referência a idade e o sucesso para dizer “Ele é o cara” é ser ingênuo. Quem nunca ouviu algo como “Tão novo, o cara já ganhava tudo”, em relação a Tiger Woods ou Rafael Nadal?
Tiger, por exemplo, joga golfe desde os dois anos de idade, pelo menos 4 horas por dia, tendo sido ensinado por seu pai, um experiente professor (sabe ensinar e treinar, portanto) e golfista amador com excelente handicap.
Sucesso é experimentar, fazer e arriscar!
Sucesso para muita gente é uma palavra que se transforma em meta, e só! A essas pessoas, recomendo uma tarefa enriquecedora: perguntar às pessoas bem-sucedidas qual a razão de seu sucesso. A resposta não será “Sou talentoso”, mas “Trabalhei muito duro para chegar até aqui”.
Sucesso, portanto, não é ler isso ou aquilo, fazer esse ou aquele curso, é praticar muito (mesmo!) o que se quer aprimorar e aprender, dia após dia, faça sol ou faça chuva, com ou sem dor de cabeça. É como correr uma maratona: não se faz isso apenas querendo; é preciso treinar muito, abrir mão de certas coisas (dormir tarde, beber, comer mal etc.) e saber lidar com dores.
Torço muito para que tudo isso que escrevi soe óbvio para você, afinal de contas muitos gurus já escreveram toneladas de livros sobre isso. A questão crucial, então, é essa: se sabemos que sucesso é uma consequência e não um lugar a ser alcançado, então é hora de praticar a lição.
Sendo mais claro, entre a sorte, o simples talento para algo e a possibilidade de trabalhar muito para me aprimorar, vejo na terceira opção um caminho com mais desafios, oportunidades de aprendizado e diversão.
É hora de fazer mais e esperar menos dos outros. É hora de treinar mais e deixar a preguiça de lado. É hora de arriscar mais e lidar melhor com nossas escolhas. Não tome essas decisões achando que elas o levarão ao sucesso, mas porque só assim o sucesso será uma consequência.
Se quiser ir além e aprofundar-se na relação entre sucesso, talento e trabalho, recomendo a leitura de dois livros curtos, porém repletos de exemplos: “Outliers”, de Malcolm Gladwell, e “Talent is Overrated”, de Geoff Colvin.
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