O presidente russo, Vladimir Putin, aproveitou um discurso em uma cúpula de líderes do Brics nesta quarta-feira para defender a guerra da Rússia na Ucrânia e elogiar o grupo como um contrapeso ao domínio global dos Estados Unidos.
Falando por videoconferência aos líderes do grupo, ele repetiu a narrativa do Kremlin de que a invasão, condenada pela Ucrânia e pelo Ocidente como uma apropriação de terras imperialista, foi uma resposta forçada da Rússia às ações hostis de Kiev e de Washington.
“Nossas ações na Ucrânia são ditadas por apenas uma coisa: acabar com a guerra que foi desencadeada pelo Ocidente e seus satélites contra as pessoas que vivem em Donbas”, disse Putin, referindo-se à parte oriental da Ucrânia onde representantes russos têm lutado contra o Exército ucraniano desde 2014.
“Quero salientar que foi o desejo de manter a hegemonia deles no mundo, o desejo de alguns países de manter esta hegemonia que levou à grave crise na Ucrânia.”
Putin falava num fórum de países que se abstiveram de condenar as ações da Rússia na Ucrânia. Os Brics – que incluem também Brasil, Índia, China e África do Sul – assumiram uma importância adicional para Moscou, à medida que procura atenuar as sanções ocidentais, impulsionando o comércio com a Ásia, a África e a América Latina.
A Rússia tem afirmado repetidamente que está aberta a conversações para acabar com a guerra de 18 meses – mas apenas se estas levarem em conta as “novas realidades” criadas pelas suas forças que controlam quase um quinto da Ucrânia. A Ucrânia exige a restauração de todo o seu território e a remoção das tropas russas.
O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, que em junho apresentou um plano de paz africano separadamente a Putin e ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, disse em resposta ao discurso do presidente russo que os membros do Brics continuariam a apoiar os esforços para pôr fim ao conflito.
O fortalecimento do Brics faz parte da visão da Rússia de minar o domínio dos EUA e construir o que Putin, no seu discurso, chamou de “uma ordem mundial multipolar”.
Ele não pôde comparecer pessoalmente à cúpula devido a um mandado de prisão emitido contra ele em março pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), acusando-o de crimes de guerra na Ucrânia.
A Rússia rejeitou a acusação como ultrajante e disse que a medida não tinha significado legal porque não é membro do TPI. A África do Sul, porém, é membro, o que significa que seria obrigada a prendê-lo se ele tivesse viajado para lá.