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Qualicorp ‘esquece’ corrupção de fundador em troca de R$ 21,7 mi

José Seripieri Filho será "exonerado de responsabilidade" em acordo de leniência com a AGU e CGU sobre investigações

por Gustavo Kahil
3 min leitura
A ministra da saúde, Nísia Trindade, durante reunião com José Seripieri Júniorem 24 de outubro de 2023

Acionistas da Qualicorp (QUAL3) aprovaram em Assembleia Geral Extraordinária, por maioria de votos, a outorga, pela companhia, de exoneração de responsabilidade e quitação ao antigo administrador, acionista relevante e fundador José Seripieri Filho (Júnior), hoje dono da Amil, no contexto da potencial celebração do acordo de leniência relativo às Operações Paralelo 23 e Triuno.

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A proposta prevê como condição que ele cumpra integralmente com a obrigação de repartição de custos assumida no instrumento de cooperação, de 2021, com o pagamento de 50% do valor atualizado da obrigação a ser assumida pela companhia. Anteriormente, Júnior também havia proposto a metade, mas limitado ao valor de R$ 20 milhões.

O acordo de leniência da Qualicorp foi assinado com a Advocacia Geral da União (AGU) e a Controladoria-Geral da União (CGU) no valor total de R$ 43,5 milhões, constituindo uma “solução definitiva” no âmbito das duas operações.

A Operação Paralelo 23 investigava suposto caixa 2 na campanha de José Serra ao Senado em 2014. Já a Operação Triuno investigava pagamento de propina a servidores.

Livrando a barra

Em 21 de julho, Qualicorp divulgou a conclusão dos trabalhos de um comitê de apuração, criado em julho de 2020, para investigar os fatos que envolveram a empresa nas operações Paralelo 23 e Triuno da Polícia Federal. Foi nesta ocasião que a empresa propõe “livrar a barra” do seu fundador.

Ele foi citado na Paralelo 23 como o responsável por fazer doações eleitorais não declaradas de R$ 5 milhões à campanha de José Serra (PSDB) ao Senado em 2014. Na outra investigação, a Triuno, a empresa é citada por envolvimento em um esquema de corrupção com sonegação tributária que envolvia fiscais federais em São Paulo.

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Após a conclusão das investigações, a Qualicorp começou a colaborar com as autoridades competentes para esclarecer as investigações, considerando a possibilidade de negociar um acordo de leniência e disse que, para isso, fez um acordo com Seripieri para ele ser exonerado de responsabilidades, enquanto fornecia “informações e documentos do interesse das autoridades competentes”.

A Qualicorp chama o acordo de “instrumento de cooperação”. Nele, o executivo propôs a arcar com metade de qualquer valor a ser pago pelo acordo de leniência até o limite de R$ 20 milhões. Isso, contudo, só valeria caso os acionistas aprovassem a sua exoneração de responsabilidade.

“Em caso de rejeição de tal proposta pelos acionistas, o Instrumento de Cooperação deixará automaticamente de produzir efeitos”, disse a empresa. Ou seja, a companhia pagaria o valor total, sinalizado pela Controladoria-Geral da União (CGU) e a Advocacia Geral da União (AGU) em torno de R$ 43,5 milhões.

Quem é José Seripieri Filho

O empresário José Seripieri Filho, conhecido como Júnior, fundador da Qualicorp e da QSaúde, fez história ao adquirir a operadora de planos de saúde Amil, anteriormente pertencente ao UnitedHealth Group (UHG), por impressionantes R$ 11 bilhões. Esta transação se destaca como a maior fusão e aquisição (M&A) já realizada no Brasil entre uma única pessoa física e uma empresa. O acordo, fechado recentemente em 2024, incluiu a assunção de todos os passivos da UHG no Brasil, tanto passados quanto futuros, totalizando cerca de R$ 9 bilhões em dívidas, abrangendo questões tributárias e contingências relacionadas ao atendimento médico.

Júnior possui uma trajetória notável no setor de saúde. Em 1997, ele fundou a Qualicorp, que se tornou uma gigante do setor no Brasil, com cerca de 2,5 milhões de beneficiários, representando mais de 500 entidades de classe e 32 mil empresas. Em 2019, ele vendeu sua participação na Qualicorp para a Rede D’Or (RDOR3), marcando uma das maiores transações do setor na época. Em 2020, ele fundou a QSaúde, uma empresa inovadora que utiliza inteligência de dados para oferecer planos de saúde mais acessíveis e personalizados.

Apesar de seu sucesso empresarial, Júnior também enfrentou controvérsias. Em 2020, foi preso durante a Operação Lava Jato, acusado de doações não contabilizadas de cerca de R$ 5 milhões durante a campanha do ex-governador de São Paulo José Serra ao Senado Federal em 2014. Além disso, Júnior mantém uma relação de amizade com o presidente Lula.

(Com Estadão Conteúdo)

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