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Quando a falta de divergência empobrece (o que explica muito nossa situação)

por Plataforma Brasil
3 min leitura
Quando a falta de divergência empobrece (o que explica muito nossa situação)

Por Victor Sarfatis Metta, sócio de Rosenthal e Sarfatis Metta Advogados, mestre em direito tributário pela PUC-SP e articulista da Plataforma Brasil Editorial.

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Noto que os debates sobre qualquer tema estão cada vez mais difíceis hoje em dia. Queria divagar um pouco acerca do porquê disso. Vejamos.

Toda posição que temos sobre qualquer assunto decorre em grande medida das informações que dispomos a respeito. Se duas pessoas não tiverem uma boa dose de identidade entre essas informações, qualquer debate é impossível. Não vale a pena nem tentar.

Assim, se o tema é conflito israelo-palestino, e uma das partes é alguém que conhece a história em questão nos seus detalhes, que lê tudo o que pode a respeito, e o outro é alguém que só conhece do assunto pelas manchetes dos jornais, vai ficar muito complicado chegar num denominador comum.

Afinal, o primeiro tem, em tese, ciência de uma série de questões que o segundo nem imagina existir, pois “comprou” as conclusões prontas (bastante similares entre si, por sinal). Olavo de Carvalho chama isso de horizonte da consciência, ou seja, o limite do conhecimento de uma pessoa sobre um assunto. Claro que ela não pode agir a respeito do que desconhece.

As informações que temos advém de várias fontes. A melhor de todas é a obtida pelo estudo do tema, por meio de fontes primárias e à luz da própria percepção crítica, em conjunto com as visões de diversos autores – desde que não pensem todos na mesma linha.

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Parece coisa de pesquisador, mas na verdade não é algo tão complexo assim. Ler diversos jornais e autores independentes, de diversas linhas, ao longo de algum tempo, já basta para adquirir uma boa visão do assunto.

Entretanto, são raros os que tem a paciência, ou real interesse sobre algum assunto, a ponto de se dedicar tanto ao seu entendimento. Além disso, as pessoas em geral não gostam de ler algo que as desagrade (uma visão oposta à sua preferida).

As formas mais comuns pelas quais as pessoas adquirem informação são via a chamada “grande mídia” (jornais e TV), e são justamente as piores, justamente porque já vem “mastigadas” e cabem num espaço muito pequeno, com ilustração, título e diversos subtítulos feitos para que a matéria em si não precise nem mesmo ser lida na íntegra.

Além do mais, seria inocência não reconhecer a quantidade de interesses exercendo pressão para que o conteúdo divulgado tenda para determinados lados. Justamente por ser concentrada em poucas mãos, a grande mídia brasileira é bastante homogênea em seus posicionamentos, sendo um belo foco de desinformação.

Vale esclarecer: em se tratando de mídia, mentira é algo que vem de uma fonte notadamente parcial ou que você não confia. Se vem de uma que você confia, mentira vira desinformação. O desinformado acredita que sabe sobre um tema, mas não só o ignora, como acredita no oposto do real. É o pior tipo de ignorante, pois ignora até esse seu estado.

Nos tempos atuais, ninguém gosta de mostrar desconhecimento. Todos aparentemente precisam ter uma opinião formada. Essa chantagem do “engajamento social” obrigatório, somado às mídias sociais, contribui muito com a proliferação de conhecimento superficial, quando não falso.

Um dos argumentos mais comuns quando uma pessoa se depara com algo que ela desconhece é o argumento da ignorância: “Nunca ouvi falar, então com certeza não existe” é a primeira linha de defesa de quem ignora um assunto.

A segunda é chamar a razão da discussão de “teoria da conspiração”, que soa como “xeque-mate” na cabeça de quem o profere, mas que é somente xingar um argumento, não refutá-lo. A terceira é xingar o próprio proponente da ideia com alguma pecha que evoque um sentimento bem negativo, como “preconceituoso”, “racista”, “qualquer-coisa-fóbico”, “fascista”, etc.

Na verdade, estas artimanhas raramente significam alguma coisa real, mas passam uma imagem muito ruim que paralisa intelectualmente o outro lado, que fica se defendendo desses supremos crimes e esquece de defender o seu ponto de vista. Resultado? A questão em debate some do cenário e o seu defensor é que passa a ser questionado.

Depois disso, se for dito algum xingamento pessoal, é porque o ofensor já está em pânico. Afinal, xingamento é aquilo que a pessoa solta quando perdeu a capacidade de contra argumentar. É bastante comum ao se propor as seguintes ideias:

  • As eleições de 2014 no Brasil foram fraudadas (“teoria da conspiração!”);
  • Quanto mais armas em circulação em um país, menos crimes (“absurdo, viraria faroeste!”);
  • A partir de certo ponto, quanto maior a carga tributária, menos se arrecada (“neoliberal!”);
  • O Estado é o perpetuador da maior parte dos males que ele se propõe a resolver (“anarquista insensível!”);
  • A política de imigração europeia vai trazer graves males ao continente (“racista, fascista!”);
  • A solução de dois Estados no conflito israelo-palestino é um mito (“radical, extremista!”).

São todos temas que podem ser comprovados de forma bem objetiva – no mínimo a ponto de deixar sérias dúvidas na mente de quem discorde. E mesmo assim são bastante ignorados pela população em geral, que, quanto mais “informada” pela grande mídia, mais crê nos mitos opostos.

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Assim, antes de debater, entendo que é muito mais produtivo expor o outro lado aos fatos nos quais você se baseia, não indo direto às conclusões. O problema é que isso leva tempo, e raramente alguém que discorda do que você diz tem qualquer interesse real sobre o tema a ponto de se informar de verdade a respeito (ai que preguiça).

Foto “Disagree”, Shutterstock.

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