O apetite dos investidores para a renda fixa nos últimos meses que foram marcados pela saída da renda variável, levou os spreads a um patamar muito próximo dos títulos do Tesouro Direto e perto das mínimas históricas, atingindo CDI + 1,4% ao ano a partir de julho, conforme o Índice de Debêntures Anbima. Desde maio de 2023, o recuo ficou próximo de 1 ponto porcentual. Isso significa um prêmio pelo risco praticamente ínfimo, o que é bom para as empresas que estão fazendo as emissões de crédito privado.
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Por outro lado, o cenário é péssimo para o investidor, que corre risco desnecessário em troca de parcos trocados. Para entender isso, é preciso lembrar que o spread de crédito é dado pelo risco, ou seja, a possibilidade de a empresa não pagar o empréstimo; pelas taxas de juros praticadas no mercado, mensuradas pela Selic e pelo prêmio de risco, que está relacionado ao cenário macroeconômico e custo de oportunidade do investidor. Será que o patamar atual engloba realmente todos esses fatores, principalmente quando falamos da probabilidade de inadimplência.
Os investidores parecem não fazer essa conta. Dados da Anbima mostram que, somente nos dez primeiros meses desse ano, os fundos de renda fixa registraram entradas líquidas de R$ 312,4 bilhões, ante resgates de R$ 41,5 bilhões no mesmo período de 2023.
Mas outro dado da entidade chama ainda mais atenção: o forte crescimento dos fundos de renda fixa que investem em crédito privado. Entre janeiro e agosto, eles acumularam captação líquida positiva de R$ 292,5 bilhões e a maior parcela (R$ 94,3 bilhões) foi direcionada para os fundos que alocam entre 50% e 70% nesse tipo de ativo, ou seja, aqueles que incorrem em risco maior de inadimplência.
Essa distorção do mercado deve levar a prejuízos aqueles que se sentem seguros em deixar seus recursos na renda fixa, acreditando que não incorrem em risco algum. É preciso lembrar que os fundos são marcados a mercado e, por esse motivo, exibem volatilidade. Para evitar cotas negativas futuras, alguns fundos já se fecharam a novas captações. Isso porque os títulos de crédito privado se encontram caros no momento. Sem novos aportes, tais fundos buscam evitar comprar papéis a prêmios tão baixos e sofrer um revés no futuro.
É questão de oferta e demanda. No momento, a demanda é elevada, o que faz o mercado pagar um prêmio pelo risco muito pequeno, mesmo diante dos riscos do mercado de crédito, com alguns segmentos exibindo mais fragilidade para honrar seus compromissos. De toda a forma, as empresas vêm captando barato, enquanto os fundos lutam para entregar um pouco mais que o CDI.
Obviamente, isso não é sustentável. No médio prazo, à medida que o Copom continuar elevando a Selic, a economia desacelera, o risco das empresas devedoras aumenta e os credores passam a exigir prêmios maiores pelo risco excedente que começam a assumir.
Desta forma, os spreads que estão achatados devem se abrir de novo e isso deve levar a perdas de investidores que se sentem seguros por estarem em renda fixa. Os ganhos que os investidores tiveram, carregando títulos ao longo do ano de fechamento dos spreads, começam a se perder quando estes mesmos spreads abrem. Começa, então, a vir cota negativa em renda fixa e a decepção daqueles que buscaram um porto nem tão seguro assim.