A Raízen (RAIZ4) registrou um prejuízo líquido de R$ 2,571 bilhões no terceiro trimestre da temporada 2024/25, que compreende o período entre 1º de outubro e 31 de dezembro de 2024, revertendo o lucro de R$ 793 milhões obtido no igual intervalo da safra anterior.
“Um trimestre (ou talvez até mesmo um ano) confuso e com desempenho abaixo do esperado. O período marca o primeiro desde o anúncio de mudanças estratégicas e de gestão na tentativa da Raízen de ‘voltar ao básico'”, pontuam Thiago Duarte, Guilherme Guttilla, Gustavo Fabris, Luiz Carvalho e Pedro Soares, analistas do BTG Pactual. A recomendação ainda é de compra, mas o preço-alvo de R$ 7 poderá ser revisado com base em estimativas mais conservadoras.
Segundo o documento apresentado após o fechamento dos mercados na sexta-feira (14), o resultado foi afetado pela “menor contribuição dos resultados operacionais e aumento das despesas financeiras, incluindo efeitos não recorrentes”.
As ações operam em queda de 1,13% em reação ao balanço, a R$ 1,75. A receita líquida da Raízen cresceu 14,3%, de R$ 58,492 bilhões para R$ 66,872 bilhões.
Já o Ebitda ajustado (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) somou R$ 3,123 bilhões, uma queda de 20,5% ante os R$ 3,923 bilhões registrados no terceiro trimestre da safra anterior. Os números ficaram 12% abaixo do consenso.
“Considerando o ambiente mais difícil para a distribuição de combustível no Brasil e as margens mais fracas do que os pares apresentadas nos últimos trimestres, acreditamos que os resultados da distribuição de combustível no Brasil foram o principal destaque do trimestre”, opinam os analistas Vicente Falanga e Ricardo França, do Bradesco BBI.
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O desempenho foi atribuído ao avanço nas vendas de açúcar e etanol, compensado pelo menor resultado das operações de trading em todos os negócios. Além disso, a empresa mencionou impactos climáticos e queimadas ocorridas em agosto do ano passado, que afetaram a qualidade da cana e o mix de produção.
“Houve redução substancial da produção de açúcar e menor disponibilidade de produto, resultando em uma dinâmica de custos menos favorável devido ao efeito de menor diluição sobre a parcela fixa dos custos e impactos inflacionários. É importante destacar também a forte base de comparação em Mobilidade, dada a conjuntura favorável, tanto no Brasil quanto na Argentina, no ano passado”, destacou.
Segundo a XP Investimentos, embora a queda no Ebitda consolidado tenha sido impulsionada principalmente pelas operações de Mobilidade, a base de comparação foi desafiadora. “As margens, apesar de menores ano a ano, melhoraram sequencialmente mesmo em um ambiente desafiador para ambas as operações”, ressaltam Leonardo Alencar, Pedro Fonseca e Samuel Isaak, analistas da XP.
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Alavancagem
A alavancagem financeira encerrou o trimestre em 3 vezes a relação entre dívida líquida e Ebitda dos últimos 12 meses, ante 1,9 vez no mesmo período da safra passada. Os investimentos recuaram 7,7%, para R$ 2,795 bilhões, enquanto a dívida líquida aumentou 22,6%, atingindo R$ 38,590 bilhões.
“A queima de caixa foi maior do que o antecipado, totalizando R$ 907 milhões”, ressaltam Alencar, Fonseca e Isaak. Eles consideraram o resultado “fraco”.
“A alavancagem financeira continua sendo a principal preocupação em relação à Raízen e, em nossa opinião, a principal razão para o desempenho negativo das ações, embora possa ser revertida à medida que as ações da nova equipe de gestão para lidar com a questão continuem sendo implementadas”, destacam Conrado Vegner e Vinícius Andrade, analistas do Safra. O banco manteve a recomendação de desempenho acima da média do mercado, com preço-alvo de R$ 5,60.
A empresa aparece entre as maiores taxas de aluguel, refletindo as preocupações do mercado com a dinâmica dos resultados e o aumento da alavancagem.
Produção e vendas
A Raízen processou 77,5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar até o fim do terceiro trimestre da safra 2024/25, uma queda de 6,9% em relação ao mesmo período do ciclo anterior. No período, o ATR teve um leve aumento de 1,5%, passando de 134,1 kg/tonelada para 136,1 kg/tonelada, enquanto o TCH caiu 9,6%.
A produção de açúcar recuou 12,5%, totalizando 5,075 milhões de toneladas até o fim do terceiro trimestre. A produção de etanol de primeira geração aumentou 0,4%, chegando a 3,113 milhões de metros cúbicos, enquanto a produção de etanol de segunda geração (E2G) cresceu 97,2%, atingindo 49,7 mil metros cúbicos. O mix de produção foi equilibrado, com 50% destinado ao açúcar e 50% ao etanol.
No acumulado da safra, o volume de vendas de etanol próprio cresceu 14,8%, atingindo 2,540 milhões de metros cúbicos, enquanto as vendas de açúcar próprio avançaram 6,5%, somando 4,037 milhões de toneladas.
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Um novo capítulo para a Raízen?
A Raízen afirmou, no release de resultados do terceiro trimestre da temporada 2024/25, que tem avançado em sua estratégia de reestruturação, com a venda de ativos para otimizar sua estrutura de capital e gerar valor aos acionistas. A empresa diz que a nova fase se iniciou em novembro de 2024, sendo marcada por mudanças na gestão e um foco maior na eficiência operacional
“A mudança demanda uma maior eficiência operacional e a revisão do portfólio de ativos, com o objetivo de acelerar o processo de simplificação e otimização da companhia”, destacou a administração no release. O foco principal da empresa será na distribuição de combustíveis e na produção e venda de açúcar, etanol e bioenergia.
Entre as iniciativas de reciclagem de portfólio no último trimestre, a Raízen concretizou a venda dos direitos de exploração de 900 mil toneladas de cana-de-açúcar por R$ 384 milhões. Além disso, alienou projetos de geração distribuída solar, resultando em um montante bruto de caixa de aproximadamente R$ 475 milhões. A empresa também reduziu sua participação na operação de mobilidade no Paraguai de 50% para até 27,4%, evitando um desembolso de até US$ 54 milhões até novembro de 2026.
O Itaú BBA lembra que, desde novembro de 2024, a empresa passou por transições de liderança e uma mudança estratégica para aumentar o valor para os acionistas e otimizar sua estrutura de capital.
“Isso envolve melhorar a eficiência operacional e revisar ativos para simplificar e fortalecer os negócios principais em distribuição de combustível e açúcar e energias renováveis”, disse a analista Monique Greco.
Segundo ela, a longo prazo, a história oferece uma proposta intrigante de risco-recompensa devido aos resultados potenciais de seu processo de recuperação recém-iniciado. “No entanto, as fraquezas atuais em seu balanço e a visibilidade limitada sobre os processos de recuperação de eficiência e desalavancagem podem prejudicar o otimismo dos investidores de curto prazo”, pondera. A recomendação é de desempenho acima da média com preço-alvo de R$ 4,50.
Considerando a média dos preços-alvo do BTG, Safra e Itaú BBA, de R$ 5,70, o potencial de valorização para as ações chega a 227%.
Veja o resultado da Raízen