Tudo muito bonito, tudo cheio de magia, de piadinhas, de emoção, mas o recadinho dos Obamas na segunda noite da convenção democrata era bem claro: não é fácil ganhar de Trump.
Se na convenção do Trump ficou aquele clima de já ganhou (que se esvaiu no fim de semana seguinte, assim que o Biden abandonou a corrida), na convenção da Kamala, eles não estão iludidos com as pesquisas que mostram que ela está na frente. A mensagem dos Obamas foi: é uma eleição difícil, vai ser ganha com a diferença de poucos votos, vai ter muita coisa ruim sendo dita sobre Kamala e todo mundo tem que parar de mimimi, trabalhar para conseguir mais e mais votos e votar porque se não, não vai rolar.
Tanto que a Kamala nem ouviu os discursos dos Obamas e estava em Wisconsin fazendo comício para 15 mil pessoas, na mesma arena em que Trump fez sua convenção. Sim, ela queria mostrar que ela pode.
Wisconsin, como já cansei de dizer aqui, mas sempre vale repetir, é um dos campos de batalha que definem a eleição americana.
Sim, darling, teve magia nos discursos dos Obamas e não foi pouca (essa galera ama o Obama e realmente ama a Michelle, como disse um analista), mas o que teve de piada…
Trump é um bizarro
A estratégia de tratar Trump como um bizarro, uma pessoa esquisita e estranha está consolidada. Chega daquele papo de Trump com o poder de acabar com a democracia, ele é só um obsessivo por tamanho. Sim, darling, Barack Obama estava todo trabalhado nas piadinhas.
“Um bilionário de 78 anos que não parou de choramingar sobre seus problemas desde que desceu sua escada rolante dourada nove anos atrás. Tem sido um fluxo constante de queixas e queixas que na verdade piorou agora que ele tem medo de perder para Kamala.”
E seguiu:
“Os apelidos infantis e as teorias da conspiração malucas e a estranha obsessão com o tamanho da multidão.”
A referência é porque Trump andou dizendo que era fake uma foto que mostrava uma multidão em um comício da Kamala. Mas quando Obama disse isso, fez um gesto com as mãos, afastando e aproximando, deixando-as a apenas alguns centímetros de distância. Sim, foi entendida como uma piada sobre anatomia em vez de multidões. Tixa do Céu, rolou isso? Rolou.
Michelle realista
1. “Essa será uma batalha difícil.”
A Michelle Obama já antecipou que a Kamala vai errar, porque errar é humano, que vão ser inventadas muitas mentiras sobre a Kamala, como já aconteceu com eles quando Trump inventou que o Obama não era americano.
2. “Não podemos ter um complexo de Cachinhos Dourados sobre se tudo está certo”. A declaração foi vista como uma crítica sobre o pessoal que está protestando em vez de apoiar a Kamala. Os protestos de democratas sobre a guerra em Gaza continuam em Chicago.
3. Mas vale dizer que Michelle chegou chegando: “Há algo maravilhosamente mágico no ar, não é? É o poder contagiante da esperança.”
Sim, os Obamas estão dizendo que Kamala é a herdeira dos movimentos que eles mesmos lançaram há décadas.
4. Ponto alto de Michelle foi quando ela disse que alguém precisa avisar o Trump que o emprego que ele anda querendo pode ser um desses “emprego de negros”. Sim, em algum momento da campanha Trump mandou essa de “emprego de negros” e a Michelle Obama não perdeu de dar essa cutucada.
Obama quer pegar qualquer voto solto por aí
Além de tirar sarro com a obsessão de Trump por tamanhos de multidões, Obama também tentou fazer um discurso de união. Trump bem que tentou pregar união na sua convenção, mas logo saiu do teleprompter e começou a disparar contra todo mundo.
Algumas frases de Obama:
1. “Se um pai ou avô ocasionalmente diz algo que nos faz estremecer, não assumimos automaticamente que eles são pessoas más. Nossos concidadãos merecem a mesma graça que esperamos que eles nos concedam.”
2. “A vasta maioria de nós não quer viver em um país amargo e dividido. Queremos algo melhor. Queremos ser melhores.”
3. “Não será fácil. O outro lado sabe que é mais fácil jogar com os medos e o cinismo das pessoas.”
4. “Nossa política se tornou tão polarizada hoje em dia que todos nós, em todo o espectro político, parecemos tão rápidos em presumir o pior nos outros, a menos que eles concordem conosco em cada questão.”
As citações dizem tudo:
Obama quer mesmo é conquistar votos de quem não é democrata. Kamala precisa disso para ganhar.
Nota. Se na convenção republicana a galera estava gritando “deportação em massa”, Obama pediu tratamento humano para os imigrantes, para manter as famílias unidas.
Vote
Saiam e votem tem sido um tema da convenção democrata. Enquanto Michelle falava, todos erguiam plaquinhas escritas “vote”. Aliás, as convenções americanas têm muito disso de plaquinhas iguais distribuídas às multidões para serem erguidas em determinados momentos. É para dar um visu na transmissão da TV.
O ataque ao Trump
Se duvidar, os democratas têm falado mais de Trump do que da Kamala.
Eles falam dos problemas com a Justiça (Trump é um condenado por 34 crimes), das propostas políticas, dos problemas da gestão da Covid (sim, até isso ressuscitaram) e das bizarrices de Trump. Falar mal de Trump também une o partido.
O governador de Illinois, JB Pritzker, disse que ele como um bilionário de verdade (querendo dizer que Trump nem é assim tão bilionário) pode dizer : “Trump é rico em apenas uma coisa: estupidez”.
De olhos nas pesquisas
TUDO IGUAL. Aqui nesse cantinho a gente mostra um agregado de pesquisas que reflete qual a média para um candidato e outro. Pela média calculada pelo RealClearPolitics, Kamala está 1,5 ponto à frente do Trump (era o mesmo ontem). Na média do New York Times, com base no projeto FiveThirtyEight da ABC, Kamala está com dois pontos à frente de Trump (também era o mesmo ontem).
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