A imprensa cansou de relatar a falta de disposição da presidente Dilma em lidar com o segmento político, postura antagônica a de seu mentor, o ex-presidente Lula. Não é só a Vale e a Petrobras que vivem seu inferno astral. A presidente Dilma parece atravessar essa mesma fase. Isso começa a interferir no desempenho de seu nascente segundo mandato.
Só na semana que passou a presidente sofreu algumas derrotas no embate com o Legislativo. Basta lembrar a devolução da MP 669 pelo presidente do Senado Renan Calheiros sobre revogação de desonerações sobre folha de pagamentos e faturamento, seguida pela aprovação da PEC da Bengala (amplia limite de 70 para 75 anos da aposentadoria de magistrados), quando a presidente deixará de indicar 4 novos ministros do Supremo (caso em que todos teriam sido indicados nos governos de Lula e Dilma), e ainda as medidas propostas pelo ministro da Educação, Cid Gomes, e a fusão de partidos de Kassab.
Chega de derrotas! Assim o governo começa a ficar encilhado e não conseguirá dar novos rumos à política econômica. É bem verdade que no caso da MP 669 o governo foi ágil o suficiente para emitir projeto de Lei com igual teor, o que minimiza os efeitos danosos sobre o ajuste fiscal. Ocorre que ao invés de entrar em vigor em 27/02 (para contar os 90 dias), o Senado terá 45 dias para votar, seguido de mais 45 dias para o parecer da Câmara. Caso não votem a pauta ficará trancada.
Tudo isso tem atraído forte instabilidade aos mercados, além da percepção de que a implementação das mudanças de rumo da economia e ajuste fiscal podem ficar comprometidos ou dificultados. Com isso também aumenta o risco do Brasil perder o grau de investimentos por uma ou mais agencias de classificação de risco de porte. Aliás, nessa semana desembarca no Brasil para encontros com Tombini a S&P, e depois a Fitch. Para completar, nossas contas públicas e externas seguem em deterioração, ao mesmo tempo em que a inflação segue mostrando suas garras e se afastando cada vez mais do teto da meta.
Tudo indica que teremos recessão com inflação em 2015, e a valorização do dólar não garante que teremos melhor performance da balança comercial, já que as commodities seguem em queda no mercado internacional. Resultado disso, nos dois primeiros meses de 2015 já acumulamos déficit na balança comercial de US$ 6,02 bilhões, com o MDIC insistindo em superávit para o ano.
Os agentes do mercado – que nada têm de bobos – deixam a Bovespa em “banho-maria”, apesar dos recordes em outras bolsas, o dólar segue pressionado e vazando a faixa de R$ 3,00 e até a taxa de juros de mais longo prazo que poderia estar declinante pelos ajustes e convergência de longo prazo acabam não caindo. O pior é que Joaquim Levy tem prazo para começar a mostrar resultados, e ele não passa do início do próximo ano, já que teremos eleições municipais e a base de apoio de Dilma precisa sair vencedora para fortalecer as eleições majoritárias de 2018.
É nesse clima que vamos viver 2015 e 2016 e os mercados refletindo todas essas situações. É por isso que volto a sugerir a leitura do eBook “Cenários e investimentos para 2015”, escrito por mim e Sandra Blanco, onde apontamos as tendências para os mercados do ano, além de indicar os melhores investimentos para 2015. Você pode baixar o novo eBook gratuitamente no site da Órama!
Até a próxima!
Nota: Esta coluna é mantida pela Órama, que contribui para que os leitores do Dinheirama possam ter acesso a conteúdo gratuito de qualidade.
Foto: Brazilian Flag in front of vivid, sunny, cloudy sky, Shutterstock.