Por Gustavo Chierighini, fundador da Plataforma Brasil Editorial.
Se o objetivo da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio +20, era o de servir como um encontro que garantisse espaço e eco para a melhor expressão da diversidade terrestre, tanto no campo cultural, como no ideológico, ou mesmo para a revisão de antigos ou novos posicionamentos do universo politicamente correto, então, seguramente podemos afirmar que foi mesmo um sucesso.
Rio +20: sucesso ou fracasso?
Um grande workshop multicultural, multi-ideológico. Uma verdadeira festa das multicausas. Para ficar em um exemplo, o discurso do líder iraniano – o mesmo que pregou a necessidade da extinção do estado de Israel – sobre paz, harmonia e renovação espiritual dos povos foi imperdível. A todo o tempo e para qualquer circunstância, as respostas parafraseavam a campanha de Obama em 2008: “Sim, nós podemos”.
Em meio a um ou outro protesto paralelo ou a uma ou outra manifestação mais nervosa sobre posições não integralmente respeitadas nos textos oficiais, a reação dos organizadores era a contemporização empática, tolerante e, em muitos casos, o recuo em atendimento.
Dizem as boas e as más línguas que a melhor maneira de se esquivar de uma “saia justa” é sempre dizer a palavra mágica, “Sim”. E desta forma se desenvolveu o evento, em “banho maria”. Sem decisões, sem uma agenda futura com o mínimo de concretude, mas com muitos, muitos discursos e muitas, muitas encenações.
A sustentabilidade carece de engajamento?
O leitor me perdoe pelo tom ácido e um tanto irônico. Mas saiba que não faço isso por desdenhar da causa ambiental ou da importância da sustentabilidade. Muito pelo contrário, acho o tema relevante, sério e merecedor de atenção e preocupação.
Mas é importante também entendermos que o fraco engajamento da sociedade não existe por acaso. Ele é fruto dos exageros da narrativa que envolve o assunto, da patrulha ideológica que não admite uma discussão séria e crítica (nem sequer qualquer questionamento) – e acaba operando, na verdade, como uma norma comportamental. Experimente dizer em uma entrevista de emprego que você não perde o sono quando pensa na questão ambiental. Pois é…
Alguns críticos afirmam que a reunião do G20 prejudicou a efetividade do evento carioca por conta da urgência da problemática econômica que ali seria tratada, absorvendo a atenção total dos chefes de estado. De fato, em algum aspecto isso pode ter acontecido, mas na minha modesta opinião a questão é mais profunda.
Falar é fácil, fazer…
A sociedade de forma geral, seus cidadãos comuns, assim como muitos de seus líderes, simplesmente não suportam mais o festival retórico no qual foram mergulhados (pulando de cabeça). Ao mesmo tempo, sentem-se massacrados pela Patrulha Politicamente Correta que lhes cobra posições estáticas comumente aceitáveis, sem espaço para o contraditório e nem para críticas mais estruturadas.
O fato é que nesse ritmo, sem uma abordagem clara, científica, econômica, direta e focada, em pouco ou nada avançaremos além de performances. Um cenário onde as respostas serão sempre superficiais, pasteurizadas e encenadas para mascarar ceticismo e cansaço, quando não para o palco político e sua frenética busca por popularidade e votos.
E, no meio do caos, brincando na corda bamba, um joguinho divertido (mas perigoso) de empurrar a batata quente pelo único, óbvio e simples motivo: ninguém quer pagar a conta da sustentabilidade sem compensações efetivas. O jeito é esperar pela Rio +40…
E você, o que achou da Rio +20? Avançamos, de fato? O que podemos fazer para, cada um a seu modo, contribuir com a agenda proposta (ou o que deveria ter sido melhor resolvido)? Use o espaço de comentários abaixo. Até a próxima.
Foto: divulgação.