No último pregão de agosto, o Ibovespa (IBOV) cai e já abandonou a marca dos 136 mil pontos da abertura. O principal indicador da B3 é penalizado pelo avanço dos juros futuros, em meio à piora das contas públicas em julho e a sinais de deterioração deste quadro à frente, e ainda no recuo acima de 2,00% do petróleo no exterior na manhã desta segunda-feira, 30, e de 0,53% do minério de ferro na China, hoje.
“O Índice Bovespa está pesado por conta do petróleo, que vinha flertando com a estabilidade. Acaba gerando pressão em todo o setor, não só nas ações da Petrobras. Como é uma commodity muito arbitrada, espalha para outras matérias-primas outros papéis de commodities”, diz Matheus Spiess, da Empiricus Research.
Após mirar estabilidade, as cotações do petróleo passaram a ceder. Perto das 11 horas, recuavam acima de 2,00%, em meio a relatos de que Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) prosseguirá com o aumento planejado da produção da commodity a partir de outubro.
Em contrapartida, os índices das bolsas americanas avançam nesta sexta-feira, após a divulgação de dados de inflação de julho. “Os dados mostram que a inflação nos Estados Unidos está desacelerando com uma atividade forte. Agora, tende a botar mais pressão ainda em cima dos dados do payroll dado do mercado de trabalho que sairão na semana que vem. Mas os dados são positivos”, avalia o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus.
De acordo com Spiess, da Empiricus, se o cenário de inflação arrefecendo com atividade forte – dado que distancia a chance de recessão nos EUA – for mantido, seria o “melhor dos mundos.” Segundo ele, seria um quadro que tem sido chamado de “desaceleração organizada” pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. “Seria uma normalização da economia, mas que não muda o plano de voo em relação aos juros. Como temos dito, nosso cenário é de três reduções de 0,25 ponto porcentual no juro americano a apartir de setembro”, afirma Spiess.
Na mínima até agora o Ibovespa atingiu 134.910,48 pontos (-0,83%), após ter começado o pregão aos 136.041,35 pontos (máxima, com variação zero). Desta forma, pode fechar com ligeira queda semanal depois de avançar nas últimas três semanas. Em agosto, contudo, tende a terminar com valorização de cerca de 6,00%, por ora – a maior desde o final de novembro de 2023.
“O que está pesando hoje são os números das contas públicas e o processo de realização de lucros na Bolsa”, diz Marcelo Vieira, head da mesa de renda variável da Ville Capital.
Em meio à escalada do dólar, o Banco Central anunciou ontem que faria leilão nesta sexta. No leilão, vendeu US$ 1,5 bilhão de dólares à vista. Ainda assim, a divisa ante o real subia (0,3%, a R$ 5,6434), mas perdia força ante a máxima intradia de R$ 5,6919.
Além de preocupações com o avanço do dólar, o rombo fiscal em julho no Brasil elevar as preocupações dos investidores com as contas públicas em 2025 e com o rumo da política monetária, dado o momento de transição no Banco Central (BC) e expectativas de inflação desancoradas. Hoje, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que entenderá se Galípolo defender o aumento da taxa de juros em algum momento, desde que apresente a fundamentação para isso. Disse ainda que o BC tem que ter meta de crescimento também.
“As afirmação acabam sendo ruins e podem elevar a percepção de intervenção no BC”, alerta Bruno Takeo, estrategista da Potenza Capital.
Hoje, o Banco Central informou que houve rombo nas contas públicas de julho. O déficit foi maior que o esperado pelo mercado financeiro.
Ao mesmo tempo, novos sinais de aquecimento do mercado de trabalho por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) no trimestre até julho tendem a elevar a percepção entre especialistas de que é chegada hora de o BC promover aumento da taxa Selic.
Conforme Rafael Perez, economista da Suno Research, as sucessivas quedas na taxa de desemprego e o aumento contínuo na criação de empregos formais reforçam a solidez e o dinamismo do mercado de trabalho. “Contudo, esse cenário deve afetar negativamente o balanço de riscos do banco central na sua reunião de setembro”, estima Perez em nota.
Ontem, o Ibovespa fechou com queda 0,29%, aos 135.649,14 pontos, acumulando ganho de 0,01% na semana e de 6,25% em agosto.
Às 11h22, o Índice Bovespa cedia 0,73%, aos 135.052,85 pontos, depois de recuar 0,83%, na mínima aos 134.910,48 pontos. O dólar à vista tinha alta de 0,99%, a R$ 5,6789, perto da máxima de R$ 5,6919.
(Com Conteúdo Estadão)