Um dos principais motivos que levou o Banco Central a subir a Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, foi a “politização da política monetária” inflada pelas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a liderança de Roberto Campos Neto na autarquia, avalia a Capital Economics em uma análise enviada a clientes nesta quarta-feira (18).
“Junto com o cenário econômico desafiador, os membros do Copom provavelmente sentiram que precisavam apertar a política para reforçar sua credibilidade em meio a ataques persistentes do presidente Lula e preocupações entre investidores sobre a politização da política monetária”, opinou o economista-chefe-adjunto de mercados emergentes da Capital Economics, Jason Tuvey.
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Segundo ele, o fato de a decisão de hoje ter sido unânime e de o Copom ter deixado a porta aberta para novos aumentos ajudará ainda mais nesse sentido.
A consultoria estima que o ciclo de aperto será provavelmente limitado, com a Selic atingindo 12% no início de 2025 e com um retorno aos cortes no final do próximo ano.
Inflação
“O Copom pareceu mais preocupado com a perspectiva de inflação em sua última reunião em julho e isso foi seguido por comentários agressivos de autoridades nas últimas semanas. Refletindo isso, a mudança de hoje na Selic foi totalmente precificada nos mercados financeiros”, ressalta.
Tuvey destaca que os temores das autoridades foram reforçados pelos dados mais recentes. A inflação geral (IPCA) caiu para 4,2% na comparação anual em agosto, mas ainda esteve acima da meta de 3% e com outro aumento na inflação subjacente de serviços. Enquanto isso, o PIB expandiu-se em 1,4% na passagem trimestral entre abril e junho, com o mercado de trabalho ainda aquecido.
Fiscal e a Selic
“O déficit orçamentário continuou a aumentar, o que dificilmente ajudou a aliviar as preocupações sobre as finanças públicas. Tudo isso foi refletido na declaração, com autoridades afirmando que “o conjunto de indicadores de atividade econômica e mercado de trabalho mostrou maior dinamismo do que o esperado”. As autoridades agora consideram que há uma lacuna de produção positiva e declararam que há uma “assimetria ascendente em seu balanço de riscos” para a inflação”, diz o economista.
Por fim, Tuvey explica que é difícil fazer um caso convincente para grandes aumentos da Selic daqui, dado o quão restritivas as configurações de política já são.
“Parece que muito dependerá dos desenvolvimentos do mercado de trabalho e como estes afetam a perspectiva de inflação. Do jeito que as coisas estão, esperamos apenas mais modestos (para os padrões do Brasil) 125 pontos-base de aumentos na Selic, para 12%, até o início de 2025. É provável haver um retorno aos cortes de taxas no final do ano que vem”, conclui.