O presidente do sindicato norte-americano de metalúrgicos United Auto Workers (UAW), Shawn Fain, afirmou nesta sexta-feira que a entidade não vai ampliar a greve contra as três montadoras de Detroit no momento, mas disse que novas paralisações em outras fábricas ocorrerão sem aviso prévio, em vez de a categoria esperar cada sexta-feira para cruzar os braços.
“Estamos entrando em uma nova fase dessa luta e ela exige uma nova abordagem”, disse Fain em discurso transmitido ao vivo nas mídias sociais. Ele mudou de tática na quarta-feira, quando anunciou paralisação na fábrica de picapes e SUVs da Ford em Kentucky a maior e mais lucrativa operação da montadora norte-americana no mundo.
“Não vamos mais esperar até as sextas-feiras (para iniciar paralisação)”, disse ele.
A greve organizada pelo UAW atingiu a marca de um mês, com mais de 34 mil membros do sindicato que trabalham em fábricas da Ford, da General Motors e da Stellantis em greve, incluindo os da unidade da Ford em Kentucky.
Embora Fain tenha alertado nesta sexta-feira sobre possíveis greves em todas as montadoras de Detroit, ele reservou suas falas mais duras para a Ford, acusada de tentar manipular as negociações com ofertas inadequadas, o que provocou a paralisação de quarta-feira.
Referindo-se ao lucrativo pacote salarial do presidente-executivo da Ford, Jim Farley, Fain disse que ele deveria “ir buscar o talão de cheques grande aquele que a Ford usa quando quer gastar milhões com executivos da empresa ou com brindes de Wall Street”.
Representantes da Ford não comentaram o assunto.
As montadoras mais do que dobraram as ofertas iniciais de aumento salarial, para uma faixa entre 20% e 23%, concordaram em elevar os salários de acordo com a inflação e melhoraram a remuneração dos trabalhadores temporários.
No entanto, o UAW defende reajustes maiores e outras demandas.
Nas últimas quatro semanas, Fain usou os discursos das sextas-feiras para anunciar outras paralisações ou delinear o progresso nas negociações.
O UAW negociou intensamente esta semana com a Stellantis, incluindo longas conversas na quinta-feira.
A entidade está discutindo com a GM sobre os parâmetros de um acordo para incluir trabalhadores de fábricas de baterias da empresa em um grande contrato de trabalho.
Stellantis e GM não comentaram o assunto.
Analistas da Wells Fargo estimaram que a Ford perderá cerca de 150 milhões de dólares por semana devido à greve na fábrica de Kentucky.
Alguns analistas disseram que a decisão de fechar a fábrica em Kentucky e outras operações de alto rendimento das três grandes montadoras de Detroit GM, Ford e Stellantis é um sinal de que o fim do jogo pode estar começando na disputa trabalhista.
“O fechamento da fábrica da Ford em Kentucky começou a aumentar a pressão sobre GM e Stellantis, e eles estão começando a fazer progressos”, disse Arthur Wheaton, diretor de estudos trabalhistas da Universidade de Cornell.
Na quinta-feira, um executivo sênior da Ford disse que a montadora estava “no limite” do que poderia gastar com salários e benefícios mais altos para o UAW. A última oferta incluiu um aumento salarial de 23% até o início de 2028.
“Deixamos bem claro que estamos no limite”, disse Kumar Galhotra, chefe da unidade de veículos de combustão da Ford. “Nós nos esforçamos para chegar a esse ponto. Ir além disso prejudicará nossa capacidade de investir no negócio.”
Fain respondeu na sexta-feira: “Achei uma ironia patética essa declaração. Sabe quem chegou ao seu limite? As dezenas de milhares de trabalhadores da Ford que não têm segurança na aposentadoria”.