Há dez anos, um grupo de analistas de bancos trocou a Faria Lima por bibliotecas em campi da Ânima Educação (ANIM3). Na última quarta, driblaram o trânsito para chegar à uma antiga fábrica da Alpargatas na Mooca, em São Paulo, erguida em 1908, hoje um dos prédios de uma de suas 25 marcas, a Universidade Anhembi Morumbi (UAM).
Era a primeira apresentação comandada por alguém de fora do grupo de controle. Paula Harraca assumiu a companhia em julho, com o desafio não só de fazê-la crescer em diferentes frentes como tentar chamar a atenção de um mercado arredio para o grupo.
“De alguma maneira, o grande desafio é valorizar uma empresa, num setor desvalorizado como outros tantos”, diz ela. “Temos vários desafios externos, que vão de bets à inflação, desequilíbrio fiscal e juros altos, mas o que mostramos não é desprezível.”
Entre outros indicadores, estavam na apresentação 11 trimestres de ganhos de margem, após o baque da pandemia. Também crescimento da geração de caixa medida pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 50,5% em dois anos e recuo da desalavancagem de 4,1 vezes, no quarto trimestre de 2022, para 2,71 vezes, no terceiro trimestre deste ano.
Mesmo assim, a empresa que teve receita líquida de R$ 3,7 bilhões no ano passado, com quase 400 mil alunos, não tem visto reação por parte dos investidores. Seus papéis perderam 1,57% de valor em novembro, 35,97% no ano e 37,41% em 24 meses.
Seu valor de mercado atual, de R$ 1 bilhão, é de cerca de um terço de seu patrimônio líquido.
Com trajetória na indústria do aço, depois de trabalhar por 20 anos na Arcelor Mittal, Paula chegou à Ânima após passar pelo conselho consultivo da mineira Una, a primeira marca adquirida pelo Ânima.
No início deste ano, passou ao comitê de auditoria e risco do grupo, até ser anunciada presidente executiva, em junho.
Os primeiros meses de sua gestão foram dedicados a visitar unidades e a ouvir conselheiros, acionistas, corpo docente e alunos.
Além de uma reestruturação interna recente, Paula detalhou aos analistas as grandes vias de crescimento. Em linhas gerais, elas incluem a expansão num mercado ampliado, de R$ 100 bilhões.
A Ânima pretende ir da educação superior, uma área que movimenta R$ 50 bilhões ao ano, para uma que envolve educação continuada, executiva e B2B. Em todas as frentes de negócios, incluindo a Inspirali, a rentável vertical de medicina.
“É um ponto de partida totalmente diferente”, diz Paula. “A gente amplia o escopo e abre os dois olhos para o mercado de educação e não apenas de ensino superior.”
Repercussão
Os analistas leram com bons olhos, apesar de destacarem a falta de prazo para o objetivo. “A empresa expressou confiança de que o crescimento orgânico da linha superior melhorará, impulsionado por uma nova estratégia comercial projetada para alavancar seu forte portfólio de marcas e, ao mesmo tempo, respeitar a dinâmica regional”, escreveram os analistas do BTG Pactual. “Sem detalhar um cronograma específico, a Ânima acredita ser possível dobrar de tamanho.”
O Santander teve uma leitura parecida. “No geral, foi um evento qualitativo para mostrar o forte portfólio de marcas da Anima e o potencial para continuar crescendo o negócio por meio de diferentes segmentos”, escreveram Caio Moscardin e Karoline Silva Correia, analistas do Santander.
Para impulsionar o movimento planejado, estão sendo feitas campanhas regionais de fortalecimento das marcas bastante específicas, com um pool de dez agências de publicidade, sobretudo no interior do Brasil.
Também o fortalecimento da área médica sob a Inspirali, que há tempos nutre um plano de IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês).
“O mercado está num momento difícil para se pensar nessas questões, mas os planos de crescimento estão bem consolidados em diferentes frentes”, diz ela. “Como diz meu amigo (e técnico de vôlei) Bernardinho, ‘a vontade de se preparar tem de ser maior do que a de vencer’. É o que estamos fazendo.”