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Subprime, a recessão dos EUA e o seu bolso (I)

por Ricardo Pereira
3 min leitura

Dinheirama - Estrada para o futuro!Will comenta: “Ricardo, se a tal recessão norte americana que tanto falam realmente acontecer nos EUA, se é que ela já não começou, como isso poderia afetar o mercado aqui no Brasil? Acabei de investir num fundo de ações em busca de maior rentabilidade, mas não sei se foi uma boa hora. Quero entender melhor o que acontece lá fora e como isso tudo pode impactar no nosso bolso aqui no Brasil. Grato.”

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Will, obrigado pela visita. Você tem razão, falar em recessão nos EUA hoje nos lembra a expressão “chover no molhado”. Há forte consenso, entre todos os analistas, de que os primeiros sinais de crise já surgiram e devem agravar-se. Neste artigo, dividido em duas partes, abordaremos o tema, mostrando o quão profunda a crise, que começou no segundo semestre de 2007, pode ser e até que ponto ela ela influencia nos aspectos financeiros do dia-a-dia[bb] da população brasileira. Nesta primeira parte falarei sobre o perigo de recessão, as origens da crise e o efeito, anunciado esta semana, visto nos bancos.

“Os EUA já estão ou provavelmente irão entrar em breve em uma recessão”. Se levarmos em consideração as últimas notícias sobre a economia norte-americana, essas palavras poderiam ter sido ditas por qualquer mortal, com conhecimento ou não de economia. Entretanto, o autor da frase, dita em uma entrevista ao diário americano The Wall Street Journal, é Alan Greenspan, ex todo poderoso do FED (Federal Reserv – Banco Central norte americano), autor do livro “A Era da Turbulência”[bb] e denominado oráculo pelo mercado internacional. A entrevista continua e termina assim:

“As chances de uma recessão não são impressionantes, mas tendem para essa direção. Os sintomas estão claramente aí. Recessões não chegam de modo suave. Elas em geral são anunciadas por uma descontinuidade no mercado e os dados das últimas semanas podem muito bem ser caracterizados assim”

Fatores importantes começaram a aparecer e trazem uma realidade derradeira e cruel às palavras de Greenspan. A elevação da taxa de desemprego nos EUA para 5% em dezembro, mês teoricamente com maior expansão da economia dadas as festividades de final de ano, acenderam o sinal amarelo dos economistas de plantão.

Entendendo a Crise
Você, leitor do Dinheirama, já acompanhou por aqui, entre julho e agosto de 2007, artigos do Navarro sobre a crise do subprime. Como sempre, é bom recordar e mais uma vez tentar entender os motivos e razões do problema. Como tudo começou? A crise não é segredo e se iniciou com dados preocupantes do setor imobiliário norte-americano, que vinha de um boom nos últimos anos.

A oferta de crédito para esse setor foi enorme e sem critérios decentes que fundamentassem sua concessão. Traduzindo, muito crédito e pouco critério e garantia de solvência. Fácil assim! O grande cerne da crise surgiu quando a inadimplência do segmento chegou a índices alarmantes, causados por empréstimos de risco (subprime) para pessoas que já possuíam histórico de inadimplência. O crédito subprime representa o crédito de “segunda linha”.

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Por causa do alto volume de dinheiro disponível nessa modalidade de crédito, o subprime foi um setor que ganhou força e cresceu muito. Assim, fica evidente que o tamanho da crise é diretamente proporcional à desenfreada expansão do setor. A disponibilização do crédito saía com juros altos, dado o maior risco do empréstimo e isso atraia os gestores de fundos e bancos. Havia, claro, a expectativa de retornos maiores. Estes gestores permitem, ao comprar mais títulos das instituições que fizeram o primeiro empréstimo, que um novo montante de dinheiro seja novamente emprestado, antes mesmo do pagamento do primeiro.

Também interessado em lucrar, um segundo gestor pode comprar o titulo adquirido pelo primeiro. Estendendo o raciocínio, cria-se uma enorme cadeia de vendas de títulos. Uma montanha russa? Não, o tempo acabou mostrando que não tratava-se de uma montanha russa, mas sim uma roleta russa. Imagine que se a ponta (o tomador) não consegue pagar sua dívida inicial, ele dá inicio a um ciclo de não recebimento por parte dos compradores dos títulos. Foi o que aconteceu e está acontecendo.

Com a constante globalização financeira, fruto da globalização como um todo, os créditos gerados nos EUA podem ser convertidos em ativos que vão render juros para investidores em diversas partes do mundo. Da mesma forma, o temor de uma crise nos EUA gera pessimismo latente em todo o planeta.

Bancos perdem muito
As instituições financeiras tiveram perdas enormes com a crise imobiliária norte-americana. Muitos deles ainda não conseguiram dimensionar a real extensão de suas perdas. O gigante financeiro americano Citigroup anunciou ontem, terça-feira dia 15/01, que registrou um prejuízo líquido de US$ 9,83 bilhões (perda de US$ 1,99 por ação) no quarto trimestre de 2007. Segundo a instituição, o desempenho negativo está ligado às perdas de US$ 18,1 bilhões ligadas ao crédito de risco (subprime).

A receita do banco caiu 70% se comparada ao quarto trimestre do último ano, saindo de US$ 23,83 bilhões para US$ 7,22 bilhões. O banco também teve comprometido o pagamento de seus dividendos, anunciando um corte de 41% neste sentido. O objetivo claro é manter recursos em sua base de capital. O novo executivo chefe do Citi, Vikrim Pandit, classificou os resultados como inaceitáveis e atribuiu o desempenho sofrível a dois fatores:

  • Reduções significativas de valores de ativos, com a exposição direta ao subprime (crédito de risco);
  • Forte aumento nos custos de crédito na carteira de empréstimos ao consumidor nos EUA.

Os dados até agora apresentados pelo Citigroup são os primeiros de um conjunto que serão apresentados por outras instituições nos próximos dias. O problema da liquidez pode comprometer o sistema bancário como um todo. O mercado, operando com nervosismo e muita volatilidade, espera um pronunciamento do Fed sobre os desdobramentos da questão.

Aqui termina a primeira parte do artigo. Amanhã falaremos sobre os efeitos da crise na inflação e os aspectos relacionados ao seu bolso e à economia brasileira. Veremos quais os possíveis impactos da crise nos investimentos brasileiros, em nossa taxa de juros e sobre as oportunidades que podem surgir com a chegada do “furacão”. Será que o Brasil aguenta? Respostas no próximo capítulo. Até lá.

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Ricardo Pereira é Analista Financeiro Sênior da ABET Corretora de Seguros, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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Crédito da foto para Marcio Eugenio.

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