A memória extrativista nômade, legado de nossos ancestrais mais longínquos, perpetuada durante toda a Antiguidade e Idade Média e remodelada durante a Idade Moderna continua a exercer uma forte influência sobre as relações de poder e o modo de produção vigentes. Se por um lado nossa supremacia como espécie foi viabilizada pelo extrativismo nômade por milhares de anos, hoje ele representa o maior obstáculo à continuidade da nossa espécie.
Apesar de, historicamente, não sermos mais considerados extrativistas nômades desde o Período Neolítico (8.000 A.C. – 4.000 A.C.), essa característica vem nos acompanhando desde o aparecimento do Homem sobre a Terra. Buscamos os recursos (naturais, gente, dinheiro), os usamos até a exaustão e partimos para novos lugares (regiões, mercados, instituições).
Assim como o Homem extrativista nômade do Período Pré-Histórico era basicamente um coletor, durante a Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Contemporânea, os grandes centros de poder também funcionaram e funcionam até hoje como grandes coletores.
Sim, esses centros eram fixos, como foi o caso do Império Romano, mas seus braços se estendiam sobre outras regiões para subjugá-las e extrair (sem repor) todo o tipo de riqueza que essas regiões poderiam oferecer: minerais, mão de obra, capital, recursos naturais e etc. E, quando uma dessas regiões era totalmente exaurida, esses braços se mudavam para outras regiões – daí o conceito de nomadismo.
Somos assim?
O extrativismo nômade assumiu várias formas durante todos esses anos: Imperialismo, Colonialismo, Globalização. Talvez um grande exemplo de extrativismo nômade que podemos observar atualmente aqui no nosso país é esse interesse “súbito”, principalmente por parte das instituições financeiras, pelas classes C e D, ou até mesmo o pré-sal.
O grande problema do extrativismo nômade é, como o próprio nome diz, a extração sem a devida reposição, o que gera o esgotamento de um recurso, de um povo, de um grupo, para saciar a fome de poder ou recursos de um ente maior – que, ao perceber esse esgotamento, redireciona a sua atenção e esforços para outros lugares (ou pessoas) que possam ser igualmente explorados.
A expectativa de vida aumenta os perigos da exploração!
A questão é que agora temos “um tal de longo prazo” que afeta diretamente essa equação extrair/esgotar/redirecionar. Nos últimos 200 anos, ganhamos um excedente de vida de impressionantes 30 anos. A curva de expectativa de vida humana é algo que se manteve praticamente estável até o final da Antiguidade, quando vivíamos em torno de 20 anos. Durante toda a Idade Média chegávamos aos 30, 35 anos.
E, de repente, a partir do século XIX essa curva entra numa ascendente vertiginosa, chegando hoje aos 75 anos. Se fôssemos traçar uma curva de tendência, hoje estaríamos vivendo em torno de 45 anos – e neste caso, caro leitor, eu não estaria escrevendo esse artigo, primeiro porque não estaríamos enfrentando o desafio que me levou a escrever o artigo e segundo porque eu provavelmente já “não estaria mais aqui”.
Onde isso vai nos levar?
Embasamos toda a nossa evolução no princípio de uma espécie de roda quadrada. E sinto que todo esse movimento em torno do tema sustentabilidade que vemos hoje parece ter como objetivo aperfeiçoar a “quadradice” dessa roda para que o nosso trajeto seja mais suave.
Do meu ponto de vista, é urgente abandonar essa memória e sair questionando e quebrando todos os paradigmas que envolvem o modo de produção e as relações de poder vigentes para então começar a vislumbrar a possibilidade de se construir uma roda redonda. Essa sim, apropriada e adequada para dar continuidade ao nosso trajeto como espécie.
Gostaria de saber sua opinião sobre o tema. Como você vê a “evolução” das relações de poder, o capitalismo, a globalização e essa insistência nos mesmos modelos de extrativismo nômade de nossos ancestrais? Sente que algo precisa mudar? Use o espaço de comentários abaixo para alimentar a discussão. Até a próxima.
Foto de sxc.hu.