A Telecom Italia aprovou no domingo a venda de sua rede fixa por 19 bilhões de euros (20 bilhões de dólares) para a empresa norte-americana de private equity KKR, tornando-se o primeiro grupo de telecomunicações de um grande país europeu a se desfazer de sua infraestrutura de linhas fixas.
O acordo, apoiado pelo governo da premiê italiana, Giorgia Meloni, envolve um ativo que a Itália considera de importância estratégica nacional, já que o país está trabalhando para reduzir sua exclusão digital com o restante da União Europeia. No Brasil, a Telecom Italia controla a TIM.
A venda é um elemento fundamental dos planos do presidente-executivo da Telecom Italia, Pietro Labriola, para reestruturar a empresa endividada e que não tem condições de arcar com os investimentos necessários em sua infraestrutura.
A diretoria iniciou uma análise da oferta da KKR na sexta-feira e estendeu a reunião até domingo, quando aprovou a venda com 11 diretores a favor e três contra, informou a Telecom Italia.
O preço de 18,8 bilhões de euros da venda, incluindo a dívida, pode chegar a 22 bilhões de euros se certas condições forem atendidas, disse a Telecom Italia.
A venda, que, segundo a companhia, deverá ser concluída em meados de 2024, permitirá que o grupo reduza sua dívida financeira em cerca de 14 bilhões de euros.
Com a transação, a base de pessoal da Telecom Italia, de 40 mil funcionários, vai cair pela metade, com a empresa se concentrando em operações de serviços.
“Dois anos de trabalho árduo (…) culminam em uma decisão histórica: criar duas empresas com novas perspectivas de crescimento”, disse Labriola em um comunicado.
Para supervisionar um ativo considerado de importância estratégica nacional, o governo da Itália autorizou o Tesouro a gastar até 2,2 bilhões de euros para assumir uma participação de 20% na rede, juntamente com a KKR, que já é um investidor minoritário na infraestrutura. O Tesouro já controla o segundo maior investidor da Telecom Italia, o banco estatal CDP.
A Telecom Italia afirmou que não vai submeter a decisão do conselho a uma votação dos acionistas, em um revés para o principal acionista, o grupo francês Vivendi.
A Vivendi, que detém 24% da Telecom Italia, tem buscado um preço mais alto e questionou a sustentabilidade de uma empresa de telecomunicações separada de sua rede fixa. A empresa disse no domingo que considera a decisão da diretoria “ilegal” e que usará “todos os meios legais à sua disposição para contestá-la”.
Na opinião da Vivendi, a venda da rede fixa exige uma votação extraordinária dos acionistas. A Vivendi também queria autorização de um comitê interno do conselho da Telecom Italia para transações com partes relacionadas, dado o duplo papel do Tesouro como proprietário do CDP e investidor na rede.
No domingo, a Telecom Italia também descartou, por não estar alinhada com sua estratégia, um plano alternativo apresentado nas últimas semanas pela empresa de investimentos Merlyn Advisors, sediada em Londres, que a Vivendi havia solicitado que o conselho avaliasse. Esse plano previa a venda da unidade brasileira da Telecom Italia.
“A Merlyn (…) se reserva o direito de tomar qualquer medida para levar o conselho a chamar de volta (…) uma assembleia de acionistas para decidir se o plano aprovado no domingo é o que os acionistas querem”, disse a Merlyn em uma nota.