Você já reparou como tem tanto jovem engajado, emitindo opiniões sensacionais, revolucionárias e transformadoras sobre política, trabalho e vida? Eles têm a solução para muitos problemas sem saber arrumar a cama, sem conseguir ir do ponto A ao ponto B sem ajuda e sem trabalhar (ou empreender). Confesso que essa realidade me sensibiliza e preocupa.
Você é assim? Conhece alguém assim? O que podemos esperar em termos de futuro quando muitos de nossos jovens (que serão os líderes de amanhã) são ótimos em propor transformações, mas não conseguem implementar sequer um rearranjo de móveis dentro de seu próprio quarto? É um tal de saber o que é melhor pra nós sem nunca ter decidido o cardápio do almoço. Não dá medo?
Flavio Gikovate, médico psiquiatra renomado, oferece sua interpretação: “Muitos das pessoas que têm comportamentos imaturos e infantis não veem interesse em crescer, pois implica responsabilidades e perda de determinados direitos e privilégios próprios de uma faixa etária à qual não pertencem mais”.
“Um exemplo é o de moços e moças que, mesmo depois dos 30 anos de idade, continuam a viver na casa dos pais, beneficiando-se de privilégios filiais e não vendo vantagem em morar sozinhos, pois isso lhes traria ônus e perda de benefícios. Não percebem que seu comportamento os fragiliza, que estão se acomodando a uma situação que pode ser revertida contra eles a qualquer momento”, completa Gikovate em seu livro “Mudar”.
Você que está ai cobrando que se faça mais pelos outros, que quer melhor distribuição de renda e diminuição da desigualdade, mas está no conforto do seu quarto, quentinho no inverno e fresquinho no verão, com roupas limpas no armário sem esforço, um banheiro só seu, tudo porque papai e mamãe trabalham muito para mantê-lo nesta “bolha”, não seja hipócrita. Não seja bobo.
Se você quer mesmo mudanças e melhorias, aprenda a se virar sozinho, arrume o próprio quarto e faça alguma coisa por alguém. É fácil exigir dos outros mundos e fundos quando se está digitando de um computador novo em folha, comprando roupas nas lojas mais caras da cidade e tendo comida todo dia à mesa sem sequer saber como tudo isso lhe aparece. Até quando? 30 anos? 40? 50?
Vá trabalhar, estudar, solucionar algum problema. Vá ser útil. Vá ser voluntário. Vá daqui ali sem depender da carona do papai ou do vovô. Vá morar longe dos pais para cuidar sozinho da suas necessidades e anseios. Abra uma empresa. O que você precisa é de experiência, frustrações e fracassos, não de um dia inteiro à espera de curtidas nas postagens revolucionárias, impressionantes de sua timeline. É hora de sair do Facebook e fazer alguma coisa da vida, não acha?
Se depois de enfrentar o mundo real e criar seu próprio caminho de transformações e realizações pessoais, você quiser mais mudanças, será respeitado. E ouvido. Até lá, cresça e apareça.
Sugiro dois textos recentes sobre o essa problemática dos jovens, postados aqui mesmo no Dinheirama (clique abaixo):
PS: Não me leve a mal, nem pense que estou generalizando. Tampouco considere esse texto um dedo na sua cara ou uma polêmica tola. Eu sei que existem muitos jovens realmente engajados e prontos para mudar o país. Também sei que o tom do texto foi mais duro que o normal. Se você achou exagerado, ótimo, você não é um desses jovens. Se você se incomodou um pouquinho, ótimo, assim sei que a reflexão proposta faz sentido. Se acha que alguém mais deve ler o texto, compartilhe-o!
Foto “Young girl with laptop”, Shutterstock.