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Tio Sam, eu quero você (para dar um jeito nos juros)

O mercado brasileiro, e principalmente os ativos de renda fixa, precisam observar um alívio maior em relação aos juros norte-americanos para continuar sua trajetória de valorização

por Guilherme Cadonhotto
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Em 1917, as Forças Armadas norte-americanas contrataram o artista James Flagg para desenvolver um cartaz a fim de estimular os jovens do país a se alistarem para lutar na Primeira Guerra Mundial.

Flagg desenvolveu uma das imagens mais representativas dos últimos tempos dos EUA: o Uncle Sam (o Tio Sam), dizendo “eu quero você” para o exército do país.

Fonte: Wikipedia

O apelido Tio Sam foi criado em 1812 durante a Guerra Anglo-Americana, conflito ocorrido entre os Estados Unidos e o Reino Unido com o apoio de suas então colônias localizadas no continente americano.

A história diz que o Tio Sam foi uma criação dos soldados norte-americanos à época, que recebiam barris de carne como suprimentos com as iniciais US (United States). Porém, os militares brincavam dizendo que a sigla fazia referência ao Uncle Sam, que no caso era uma brincadeira com o dono da empresa fornecedora de carne Samuel Wilson.

E isso se tornou tão marcante, que, em 1961, o Congresso norte-americano reconheceu Samuel Wilson como figura que inspirou o Tio Sam.

Mas se o Tio Sam queria apoio dos jovens no início do século passado, atualmente, somos nós que queremos uma ajuda dele.

O mercado brasileiro, e principalmente os ativos de renda fixa, precisam observar um alívio maior em relação aos juros norte-americanos para continuar sua trajetória de valorização.

É importante mencionar que os juros nos EUA são uma referência para os juros globais e, consequentemente, para os brasileiros. Afinal, estamos falando da maior economia do mundo e do emissor da moeda utilizada para transações globais, o dólar.

A diferença entre a nossa taxa Selic e a de juros de curto prazo nos EUA não é das mais altas quando analisamos o histórico.

A média dessa diferença nos últimos 50 trimestres (ou 12 anos) é de 8,25%. Atualmente, com o último corte da Selic e com a elevação dos juros de curto prazo por lá, ela está em 7,75%.

No cenário mais favorável, essa distância chegou a ser de 1,75% no fim de 2020, e vimos como isso, alinhado a outros fatores, acabou trazendo uma desvalorização cambial relevante e uma volta da inflação para um patamar acima de dois dígitos.

Por esses motivos, acredito que agora o Banco Central será mais cauteloso.

“Gui, mas os títulos de renda fixa têm como base os juros futuros, certo?”

Sim, verdade. Por isso também é necessário analisar o diferencial dos juros de longo prazo entre Brasil e EUA.

Essa diferença entre os juros futuros aqui e lá pode nos mostrar a atratividade de um título de longo prazo brasileiro em comparação a um título de mesmo prazo nos EUA. 

Quanto maior essa distância, mais atrativo se torna o ambiente para que investidores estrangeiros coloquem seus recursos no Brasil e, consequentemente, tem-se uma margem mais propícia para que os juros brasileiros cedam.

No momento mais positivo, a diferença entre os juros de 10 anos do Brasil e dos EUA chegou a ser de 4,90%; já no mais negativo, foi de 14,30%.

Hoje, essa diferença é de 6,90%, um patamar inferior à média histórica, de 8,40%.

Em meados de 2022, pouco antes da eleição presidencial, esse diferencial estava em 10,40%, o que mostrava um espaço relevante para melhora dos juros brasileiros em relação aos norte-americanos.

Isso significa que o potencial de ganhos da renda fixa brasileira e dos ativos de risco ficou para trás?

Não! Mas é importante notar duas coisas.

A primeira é que os ganhos com esses segmentos daqui pra frente devem ocorrer em velocidade mais moderada, e a segunda é que retornos maiores vão estar necessariamente ligados a uma redução dos juros norte-americanos, tanto os de curto quanto os de longo prazo.

Somente assim o diferencial de juros em relação aos EUA vai permitir que nossas taxas continuem caindo de maneira relevante.

Então, Tio Sam, enquanto você quer apoio nas trincheiras, nós queremos (ou, na verdade, precisamos de) você e seus esforços para taxas de juros mais baixas.

Abraços,

Guilherme Cadonhotto

Especialista em renda fixa e estrategista-chefe da Spiti. Técnico em Administração de Empresas e bacharel em Economia, atuou na mesa de operações como trader de renda fixa na SulAmérica Investimentos e como analista de investimentos na asset da Porto Seguro.,

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