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Trump pode criar bomba fiscal e por dólar sob risco, diz Fitch

Queda na coerência e na credibilidade das políticas pode prejudicar o status do dólar como moeda de reserva

por Gustavo Kahil
3 min leitura
Donald Trump, presidente eleito dos EUA

A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais de 2024 e a provável manutenção do controle republicano no Congresso devem impactar significativamente a política econômica e fiscal dos Estados Unidos, segundo a análise da Fitch Ratings divulgada nesta quinta-feira (7).

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A Fitch prevê que o cenário político resultante facilitará a renovação dos cortes de impostos de 2017, instituídos pela Lei de Cortes de Impostos e Empregos (TCJA), assim como a possível implementação de novas medidas fiscais, o que pode pressionar ainda mais o déficit federal.

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Com os republicanos no comando do Executivo e do Legislativo, a Fitch acredita que o debate sobre o teto da dívida federal, previsto para ocorrer em janeiro, será resolvido sem grandes conflitos. Essa estabilidade política permitirá o avanço das principais promessas de campanha de Trump, incluindo a imposição de tarifas de importação de 10% a 20% em geral, com taxas de até 60% para produtos chineses, e restrições à imigração.

No entanto, tais políticas podem ter consequências econômicas complexas, ao mesmo tempo em que os planos de expansão dos cortes de impostos aumentam as pressões sobre o déficit, a menos que sejam equilibrados por cortes de gastos e arrecadação de tarifas.

Situação fiscal delicada

A Fitch destaca que a extensão dos cortes de impostos já está incluída em sua projeção fiscal, mas o aumento do endividamento dos EUA é um ponto crítico. Desde que a agência rebaixou a classificação de crédito dos EUA para ‘AA+’ em 2023, a dívida do governo federal em relação ao PIB subiu para 115% e é esperada uma elevação para 122% até 2026, acima das previsões iniciais de quando o rebaixamento foi feito.

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Além disso, a Fitch estima que o déficit do governo geral permanecerá em torno de 7,6% do PIB em 2025 e 2026, o que representa uma situação fiscal delicada, independentemente do resultado das eleições.

Ainda assim, a agência alerta que a concretização de outras promessas fiscais de Trump, como a redução da alíquota de imposto corporativo de 21% para 15% e a isenção de tributação sobre algumas rendas, como pagamento de horas extras, gorjetas e benefícios da seguridade social, traria novos riscos ao orçamento. Segundo a Fitch, a arrecadação do imposto corporativo em 2024 representou 1,8% do PIB e qualquer redução adicional teria impacto direto nas receitas.

Candidato a Presidência dos EUA Donald Trump
(Imagem: Facebook/Donald Trump)

Outro ponto de atenção para a Fitch são os juros crescentes, que já fazem com que o pagamento da dívida consuma uma parte significativa do orçamento, ultrapassando as despesas com defesa e Medicare. A agência observa que a alta recente nos rendimentos dos títulos de dez anos, que subiram cerca de 80 ponto-base desde setembro, indica que o custo da dívida está se tornando mais expressivo, projetando-se que os pagamentos de juros alcancem 11,8% das receitas em 2025. Para comparação, a média entre países com classificação ‘AA’ é de menos de 4%, o que destaca a vulnerabilidade fiscal dos EUA.

As tarifas de importação planejadas poderiam ajudar a compensar a perda de arrecadação provocada pelas reduções de impostos, assim como os cortes de gastos prometidos. Em 2023, os EUA arrecadaram US$ 72 bilhões com tarifas, dos quais US$ 44 bilhões foram provenientes de importações chinesas.

No entanto, a Fitch alerta que a imposição de tarifas mais amplas poderá desacelerar o crescimento econômico e pressionar a inflação, especialmente se as políticas de imigração forem significativamente endurecidas, restringindo a oferta de mão de obra. Embora o crescimento econômico possa ser impulsionado pela redução do imposto corporativo, o impacto geral das tarifas deve ser acompanhado de perto.

Dólar sob risco

A dívida pública dos EUA continua a ser um fator crucial para o rating soberano do país. A Fitch ressalta que um aumento substancial da dívida em relação ao PIB, devido à falta de ação em abordar os desafios estruturais de receitas e despesas, pode ser um ponto negativo para a classificação. Em contrapartida, um ajuste fiscal que reduza a proporção da dívida em relação ao PIB poderia ter um efeito positivo, especialmente se a redução do crescimento das despesas obrigatórias fosse combinada com um aumento nas receitas.

Além das questões fiscais, a governança é outro fator importante na avaliação de crédito dos EUA. A Fitch adverte que uma queda na coerência e na credibilidade das políticas pode prejudicar o status do dólar como moeda de reserva e limitar a flexibilidade do governo em financiar suas operações. No entanto, a agência destaca que uma reversão sustentada na queda de governança poderia contribuir positivamente para a classificação do país.

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