O candidato à presidência dos EUA, Donald Trump, disse em uma entrevista recente à Bloomberg Businessweek que os EUA têm um “enorme problema no câmbio”, o que deu a entender que a ideia do republicano é a de enfraquecer o dólar para, como consequência, fortalecer a competitividade dos produtos norte-americanos globalmente. O que isso pode representar para a economia dos EUA e internacional?
Em uma análise publicada nesta quinta-feira (25), Chris Turner, chefe global de mercados do banco ING, explora as declarações de Trump e argumenta que elas têm muito a ver com a concorrência com países como Japão e China.
Embora o objetivo seja melhorar a competitividade manufatureira dos EUA, as implicações econômicas e financeiras são vastas e multifacetadas, exigindo uma abordagem cuidadosa e coordenada entre o Tesouro e o Federal Reserve para evitar consequências adversas significativas para a economia americana e o sistema financeiro global.
Turner discute, em um texto com perguntas e respostas, a possibilidade e as implicações de uma política de dólar fraco, incluindo o impacto potencial no mercado e na economia americana. Confira:
Por que a questão da política de dólar fraco está em destaque agora?
A questão ganhou destaque após a entrevista de Trump à Bloomberg Businessweek em 16 de julho, onde ele destacou problemas no setor manufatureiro dos EUA e o “grande problema cambial” do país. Trump mencionou especificamente o USD/JPY e USD/CNY, citando a vantagem competitiva injusta que empresas como Komatsu têm sobre a Caterpillar. Sua escolha de JD Vance como vice reforça o foco nos estados-chave do Meio-Oeste, com forte presença manufatureira, nas eleições de novembro.
O que significa exatamente uma política de dólar fraco?
A política cambial dos EUA é conduzida pelo Tesouro e é expressa por comunicados dos G7 e G20, que enfatizam a necessidade de taxas de câmbio flexíveis que reflitam os fundamentos econômicos e evitem desvalorizações competitivas. A escolha do Secretário do Tesouro sob uma administração Trump seria crucial; por exemplo, Jamie Dimon provavelmente não buscaria um dólar mais fraco, enquanto Robert Lighthizer, visto como protecionista, poderia promover tal política.
Quais outras ferramentas o Tesouro dos EUA possui para impactar os mercados cambiais?
Em teoria, o Tesouro poderia intervir vendendo dólares e comprando moedas estrangeiras ilimitadamente, mas isso é improvável. Mais relevante seria o uso do relatório semestral de FX do Tesouro para rotular a China como manipuladora cambial e ameaçar ou estender tarifas caso a China enfraqueça ainda mais sua moeda. No entanto, essas ações históricas não fizeram grande diferença no mercado cambial.
Deveríamos distinguir entre Trump querer um CNY/JPY mais forte e um dólar mais fraco?
Sim. O foco de Trump está nas vantagens competitivas que China e Japão obtêm de suas moedas fracas. Durante sua última presidência, ele evitou uma política de dólar fraco. Assumindo que o Tesouro esteja em mãos sensatas, os riscos de desestabilizar os títulos do Tesouro dos EUA, aumentando os custos de empréstimos e pressionando as ações, desencorajariam uma política ativa de dólar fraco.
A política cambial do Tesouro dos EUA fará muita diferença?
O contexto macroeconômico é crucial. Se Trump vencer a presidência e o Congresso, estendendo cortes de impostos e aumentando o protecionismo, isso seria positivo para o dólar. As ameaças contra o iuane subvalorizado teriam pouco impacto no mercado cambial. Se a economia enfraquecer, a pressão para buscar mais estímulos via um dólar mais fraco aumentará.
Se o Tesouro tentar promover uma política de dólar fraco, até onde o dólar poderia cair?
Modelos do ING sugerem que o EUR/USD tem oscilado ±5-6% em torno de seu valor justo de curto prazo. Isso pode ser uma forma de avaliar o impacto potencial de uma política de dólar fraco do Tesouro.
Trump realmente deseja um dólar mais fraco?
Embora Trump destaque os problemas do dólar forte, ele provavelmente busca um CNY/JPY mais forte para nivelar o campo de jogo competitivo. Contudo, uma política de dólar fraco poderia ter implicações adversas significativas para a economia dos EUA.
Quais seriam as consequências de uma política de dólar fraco para os EUA?
Uma política de dólar fraco poderia desestabilizar os mercados financeiros, aumentando os custos de empréstimos e pressionando as ações. Além disso, a credibilidade do dólar como moeda de reserva global poderia ser afetada.
Como o mercado reagiria a uma potencial política de dólar fraco?
A reação do mercado dependeria de vários fatores, incluindo a composição do governo e as políticas econômicas implementadas. Se o protecionismo aumentar e os cortes de impostos forem estendidos, isso poderia inicialmente beneficiar o dólar, mas a incerteza e a volatilidade aumentariam.
Existe um precedente para uma política de dólar fraco nos EUA?
Historicamente, os EUA raramente buscaram ativamente uma política de dólar fraco, preferindo taxas de câmbio que reflitam os fundamentos econômicos. As intervenções cambiais foram limitadas e muitas vezes vistas como um último recurso.
Qual seria o papel do Federal Reserve em uma política de dólar fraco?
O Federal Reserve tem uma influência significativa sobre a política cambial através de suas decisões de política monetária. Uma postura mais dovish do Fed poderia contribuir para um dólar mais fraco, mas coordenar isso com o Tesouro seria complexo.
Como uma política de dólar fraco impactaria o comércio internacional dos EUA?
Um dólar mais fraco poderia tornar as exportações americanas mais competitivas, mas também aumentaria o custo das importações, afetando a inflação e o poder de compra dos consumidores americanos.
Quais são os riscos de longo prazo de uma política de dólar fraco?
A longo prazo, uma política de dólar fraco poderia minar a confiança na moeda americana, levar a uma fuga de capitais e enfraquecer a posição dos EUA como líder econômico global. A estabilidade financeira interna também poderia ser comprometida.