O escritório do Dinheirama.com fica na Av. Coronel Carneiro Junior, também conhecida como Rua Nova, principal rua do comércio em Itajubá-MG e lugar perfeito para observar o comportamento de lojistas e consumidores. Acabei reparando que certas lojas estão sempre em liquidação, com promoções chamativas, grandes faixas coloridas, papel picado, bexigas e sempre anunciando seus “saldões”.
Comprar produtos com preços mais atraentes, aproveitando as promoções, é uma dica recorrente no trabalho de consultores e especialistas em finanças pessoais. Mas o que dizer de lojas que estão sempre em promoção? Como pode uma loja lucrar (muito) mantendo seus produtos sempre em liquidação? Ela lucra, é fato. A questão a ser discutida é outra: os produtos estão mesmo em promoção? Seu preço é de fato mais baixo?
Eu sempre me sinto desafiado quando vejo um anuncio oferecendo 70% de desconto. É uma tentação não comprar algo que está “tão barato”. É aquela história: mesmo sem estar precisando daquilo, o consumidor fica tentado pelo preço e acaba comprando.
Pense em um tênis qualquer. Então, ao passar por uma loja, um grande anúncio mostra a foto do tênis, seu preço “oficial” devidamente riscado e, ao seu lado, o novo preço, escrito em letras grandes, acompanhado da indicação “50% de desconto”. Responda rápido: o tênis está barato ou caro? Pode ser que o negócio valha a pena. Pode ser que não. Depende. Qual é o valor real do tênis, aquele praticado no mercado?
O que fazer? Pesquisar preços. Faça uma busca rápida em sites de compras e também em outras lojas para descobrir o preço praticado no mercado. Só então faça uma análise em relação ao preço da liquidação. A dica é óbvia, chega a ser simplista, mas é deixada de lado por muita gente. É prudente também evitar a compra na primeira vez que você vê o produto. Você precisa mesmo dele? Se precisa, busque as especificações, compare preços, peça explicações. Decida-se com calma.
A sensação de experimentar o produto, os sentimentos que ele traz e o prazer associado ao consumo encobrem a determinação em busca pelo preço justo. Além disso, parece que “promoção” e seus sinônimos criam alvoroço em nossas emoções. Relembro um episódio de “Os Simpsons”: eles estão em um grande supermercado, que anuncia o preço de um produto e o associa a uma oferta relâmpago. Até ai, nada de novo. O engraçado é que eles aumentaram o valor do produto antes de anunciá-lo nos alto falantes da loja e, mesmo assim, todos no mercado saem correndo para pegar o produto na prateleira.
É claro que a manipulação, o trabalho com nosso subconsciente, vai além de inventar descontos. Os próprios preços praticados vivem com sugestões mentais de preços menores: os famosos “,90” e “,99” estão sempre presentes nas mercadorias. Passada a febre das lojas de R$ 1,99, agora produtos com outros valores insistem em usar a mesma tática. O tal GPS custa R$ 299,00, a TV LCD R$ 1.490,00, o que força nossa mente a arredondar valores para um valor menor e nos fazer acreditar que pagamos menos por um produto. Ora, R$ 1.490,00 está muito mais para R$ 1.500,00 que para R$ 1400,00. Óbvio, de novo.
Li recentemente uma coisa bacana: algumas cidades estão criando leis que obrigam o mercado a fornecer o preço por unidade de medida. Tal mudança facilita bastante a vida do consumidor e evita seu esforço com contas para saber se compensa levar a embalagem com 1 kg ou com 2,5 kg de sabão em pó, por exemplo. Ganha quem pesquisa preços, analisa as opções disponíveis e planeja suas compras.
Nem tudo está sempre em liquidação. Isso não existe! E nem toda liquidação deve ser olhada com desconfiança. A diferença não está no lojista ou no mercado, mas em aceitar que é dever do consumidor comparar preços, condições comerciais e pesquisar. Pagar o preço justo é o mínimo que todos devemos buscar. Continuo com a ideia de que educação financeira é um aprendizado diário. Analisar muito bem nossas decisões nos ajuda a conquistar nossos objetivos.
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