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Um setembro aguardado pelos mercados e os efeitos para o agro

Entrada de capital estrangeiro pode levar à valorização do real, reduzindo a pressão inflacionária e afetando os preços de exportação do agro

por Enrico Manzi
3 min leitura
Enrico Manzi, Country manager da Biond Agro

O mês de setembro promete ser movimentado e decisivo para os mercados globais, especialmente para o agro brasileiro. No dia 18 de setembro, ocorrerá a tão esperada “Super Quarta”, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do Brasil e o Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos anunciarão suas novas taxas de juros. Além disso, o Banco Central Europeu (BCE) também está no centro das atenções, pois sinalizou possíveis mudanças ainda em setembro. Vamos entender as possíveis decisões desses bancos centrais e como elas podem impactar o setor agropecuário.

O Copom enfrenta um cenário econômico complexo e desafiador. Atualmente, a taxa Selic está em 10,50% ao ano, mantida nesse patamar desde maio, quando houve um corte de 0,25 ponto percentual. Na última reunião, em julho, o tom mais duro adotado pelo Banco Central indicou preocupação com a inflação persistente e a volatilidade cambial.

O Copom deve indicar um novo ciclo de alta da Selic com deterioração no cenário interno. A inflação permanece acima das metas estabelecidas, agravada pela desvalorização cambial e pelos recentes aumentos nos preços dos combustíveis. O mercado estima que o Brasil poderia subir de 0,25% a 0,5% na próxima reunião, indo na contramão das principais economias do mundo.

Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central, chegou a prever que haveria espaço para três altas consecutivas de 0,5 ponto percentual, o que elevaria a taxa de juros para 12%. A XP indica seu número em 11.75% para o final do ano.

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Enquanto isso, nos Estados Unidos, o Fed sinaliza um movimento oposto ao do Brasil. Dados recentes apontam para uma desaceleração na geração de empregos e inflação mais controlada, abrindo espaço para possíveis cortes nas taxas de juros.

Conforme a plataforma FedWatch, do CME Group, o mercado reforçou a expectativa de que o Federal Reserve abra o ciclo de relaxamento monetário com um corte de 50 pontos-base nos juros no próximo encontro de 18 de setembro. A aposta majoritária, entretanto, continua sendo por corte de 25 pontos-base na ocasião.

O BCE também entra em cena com possível afrouxamento monetário na zona do euro. Recentemente, o BCE reduziu a taxa de referência em 0,25 ponto percentual, levando-a para 3,75%, o primeiro corte desde setembro de 2019 e possou a afirmar que seria sensato voltar a cortar a taxa em setembro.

Implicações para o agro Brasileiro

As decisões dos principais bancos centrais têm efeitos diretos e indiretos sobre o agronegócio no Brasil.

Com possível aumento da taxa Selic, o Brasil se torna ainda mais atraente para o capital estrangeiro, especialmente através do “carry trade”, onde investidores captam recursos em países com juros baixos e aplicam em mercados com juros mais altos.

Apesar das questões fiscais e políticas, o Brasil se destaca entre os países emergentes devido à falta de opções mais viáveis e uma certa estabilidade relativa, uma vez que a maioria dos países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos) encontram-se com problemas geopolíticos sérios.

A entrada de capital estrangeiro pode levar à valorização do real, reduzindo a pressão inflacionária e influenciando os preços de exportação. Um real mais forte tende a diminuir a competitividade das commodities brasileiras no mercado internacional, afetando as receitas dos produtores, que já vêm bastante castigada pela derrocada das commodities.

Pelo prisma do custo do capital, taxas de juros mais altas encarecem o crédito, dificultando o financiamento de atividades agrícolas e a compra de insumos no agro. Embora muitos financiamentos já tenham sido contratados, há preocupação para as renovações de crédito na próxima safra. Dívidas atreladas ao CDI subirão com a Selic, reduzindo as margens dos produtores já que os custos financeiros estarão maiores.

Sendo assim, as políticas monetárias globais terão impacto direto na demanda e nos preços das commodities agrícolas. É essencial que o setor do agro acompanhe de perto essas movimentações para ajustar estratégias de exportação e gestão de riscos

O cenário econômico atual está bastante volátil e as políticas monetárias são desenhadas com precaução pelos Bancos Centrais, ajustando a postura sempre que os indicadores mudarem.  As decisões do Copom, Fed e BCE nos próximos dias serão determinantes para o ajuste de estratégias financeiras e operacionais no setor.

Portanto, para navegar por esse ambiente desafiador, é necessário manter-se informado para aproveitar oportunidades e mitigar riscos em um mercado agro cada vez mais interconectado e dinâmico. 

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