Os EUA irão se dividir mais do que se unir após a tentativa de assassinato do candidato à presidência Donald Trump, avalia Ian Bremmer, presidente da consultoria de riscos Eurasia Group, em um relatório enviado a clientes nesta quarta-feira (17).
Segundo ele, a transformação de uma retórica perigosa e divisiva em bélica tornou-se demasiada lucrativa e politicamente útil, e não há pessoas suficientes em posições de poder que estejam dispostas a sacrificar as suas próprias ambições, carreiras e bolsos pelo bem público.
“Este último ponto fala de uma doença ainda maior que aflige os EUA: estamos a tornar-nos uma nação de vencedores, mas não de líderes. Trump é a sua expressão mais pura e desenfreada, mas a podridão é muito mais profunda do que ele”, relata.
Bemmer pontua que a resposta ao quase assassinato irá se parecer menos com a unificadora e de mobilização do “11 de Setembro” e mais com a divisiva e politizada do “6 de Janeiro”, dilacerando ainda mais o país “e pressagiando mais, e não menos, violência e instabilidade social que virão. Vai piorar antes de melhorar”.
Em 6 de janeiro de 2021, apoiadores do então presidente dos EUA, Donald Trump, invadiram o Capitólio em Washington, D.C., durante a sessão do Congresso que certificaria a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais de 2020. Incitados por um discurso inflamado de Trump, os manifestantes ultrapassaram barreiras de segurança, confrontaram a polícia e causaram danos significativos ao edifício.
O ataque resultou em cinco mortes, mais de 140 policiais feridos e a prisão de mais de 1.100 pessoas. Este evento, amplamente considerado uma tentativa de insurreição, continua a ser um ponto de discórdia política nos EUA.
Campanha de Trump
O site do ex-presidente exibiu uma imagem dele com o rosto ensanguentado na manhã de segunda-feira para pedir aos apoiadores que doassem para sua campanha e se unissem no espírito de unidade e paz após o tiroteio do fim de semana.
O site redirecionou os possíveis doadores para uma página na plataforma de arrecadação de fundos WinRed que mostra uma imagem em preto e branco tirada por um fotógrafo da Associated Press que Trump descreveu como “icônica”.
Ela mostra o rosto do candidato republicano coberto de sangue e com o punho erguido em sinal de desafio depois que uma bala perfurou a parte superior de sua orelha direita em um comício na Pensilvânia.
A imagem foi legendada com as palavras “FEAR NOT” (não tema) escritas em letras maiúsculas.
Uma mensagem abaixo da imagem dizia: “Unity. Peace. Make America Great Again” (Unidade. Paz. Faça a América Grande Novamente). A página também trazia a assinatura de Trump e dava aos visitantes do site opções de contribuição em diferentes níveis.