A Vale (VALE3) iniciou testes com carga da primeira fábrica de briquetes de minério de ferro na unidade de Tubarão, em Vitória (ES), e se prepara para começar a atender uma fila estimada de 18 meses de clientes interessados em testar grandes volumes do inédito produto desenvolvido pela empresa, capaz de reduzir em até 10% as emissões de CO2 na siderurgia.
Os testes de carga fazem parte do comissionamento da planta de 2 milhões de toneladas de capacidade e são uma das últimas etapas antes do início da produção, previsto para este ano, disse o vice-presidente-executivo de Soluções de Minério de Ferro, Marcello Spinelli, à Reuters.
Uma segunda unidade, com capacidade para produzir 4 milhões de toneladas, deve entrar em operação no início de 2024, somando investimentos de 1,2 bilhão de reais.
“Se colocar em fila todos os clientes, há pedidos que serão atendidos ao longo dos próximos 18 meses… é um produto novidade”, disse Spinelli.
O executivo pontuou que clientes europeus, japoneses e coreanos deverão receber primeiro o produto — que terá um prêmio de qualidade.
Os preços dos briquetes, segundo Spinelli, têm uma correlação com a pelota de minério de ferro (produto de maior valor agregado), mas dependendo do acordo que for feito com os clientes a precificação pode ser diferente.
“Não tem chance de ganhar essa batalha, essa guerra… se não for com parceria. É impossível fazer a descarbonização no mundo se não tiver uma interação forte cliente e fornecedor”, explicou ele, enquanto a companhia busca descarbonizar também suas operações e diversificar para produtos com maior valor.
A Vale já assinou mais de 50 acordos com clientes para oferecer soluções de descarbonização, que são responsáveis por 35% das emissões de escopo 3 da empresa.
O briquete, que começou a ser desenvolvido pela Vale há cerca de 20 anos e foi anunciado em 2021, é produzido a partir da aglomeração a baixas temperaturas de minério de ferro de alta qualidade utilizando uma solução tecnológica de aglomerantes, que confere elevada resistência mecânica ao produto final.
O produto poderá substituir sinter, pelota e granulado em altos-fornos e pelota em fornos de redução direta, reduzindo em até 10% a emissão de gases do efeito estufa na produção de aço em relação ao processo tradicional no alto-forno. A siderurgia é responsável por cerca de 8% das emissões do mundo.
O briquete reduz ainda a emissão de particulados e de gases como dióxido de enxofre (SOX) e o óxido de nitrogênio (NOX), além de dispensar o uso da água na sua fabricação.
Testes com o produto já foram realizados anteriormente em siderúrgicas no exterior, mas em volumes menores, produzidos em uma pequena planta da companhia em Pindamonhangaba (SP), com capacidade de 110 mil toneladas por ano.
“A diferença entre os testes do passado é que faziam testes em escala menor, de 20 mil toneladas, agora vou poder mandar um navio de 180 mil toneladas, 200 mil toneladas, o cliente consegue testar por um mês, é muito mais longevo”, adicionou.
Mercado de Pelotas
A iniciativa faz parte da estratégia da Vale para reduzir em 15% as suas emissões de escopo 3 até 2035, mas também de alavancar sua competitividade frente a suas principais concorrentes australianas.
O VP de minério de ferro afirmou que as siderúrgicas buscam cada vez mais por aglomerados de minério de ferro de alta qualidade, para descarbonizar e aumentar a eficiência.
A companhia, que já é a maior produtora global de pelotas, calcula que no fim da década haverá uma demanda de quase 70 milhões de toneladas de briquete ou pelota para a rota de redução direta (que gera menos emissões).
“O mercado hoje está justo, mas com chances de ficar em falta. Por isso estamos correndo para criar essas alternativas de briquetar e também de aumentar nossa capacidade de concentrar produtos que vão suprir esses 70 milhões de toneladas de demanda que estão vindo pela frente”, disse Spinelli.
“Quando olha o mercado, não tem ninguém (além da Vale) anunciando grandes investimentos nessa linha e tem essa diferença de oferta e demanda.”
Além das unidades que totalizarão 6 milhões de toneladas de capacidade de briquetes — com a segunda fábrica em operação até o início de 2024 –, a Vale planeja aprovar ainda neste ano mais dois empreendimentos do gênero e outros três no próximo ano, somando cinco novas unidades no Brasil e no exterior, com início da produção em dois ou três anos, adiantou Spinelli.
Novas unidades e Modelo de negócios
O executivo destacou que a nova tecnologia é flexível em termos de capacidade de produção e em modelos de negócios, o que permite a instalação, por exemplo, dentro de usinas siderúrgicas de clientes ou até em complexos industriais.
“Vão existir essas soluções quase que híbridas, uma planta minha com a do cliente, o máximo de simbiose, de sinergia, para atacar o inimigo em comum que é a emissão de CO2”, afirmou o executivo, prevendo soluções que quebrarão “muitos paradigmas”.
Entre os acordos assinados com clientes, três deles visam a instalação de “mega hubs” em países do Oriente Médio (Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Omã) para produzir “hot-briquetted iron” (HBI), visando suprir os mercados locais e transoceânico, com redução significativa das emissões de CO2.
Espera-se que nos hubs a Vale construa e opere as plantas de concentração e briquetagem de minério de ferro, fornecendo a matéria-prima para as plantas de HBI, que serão construídas e operadas por investidores e/ou clientes.
A Vale também estuda a criação de hubs semelhantes no Brasil, mas ainda não há definição de localização.