O mercado recebeu da Vale (VALE3) um pacote de boas notícias que pode ajudar a reconquistar os investidores das ações da mineradora, que só em 2023 derrubaram os papéis em 21%, enquanto o Ibovespa (IBOV) sobe quase 13%.
A mineradora apresentou melhora no seu balanço do segundo trimestre após um período de janeiro a março visto como “altamente decepcionante”. Segundo o BTG Pactual, os números podem “ajudar a elevar o sentimento em torno do caso.
O Ebitda ficou em US$ 4,14 bilhões no período, 12% acima do trimestre anterior e 10% acima da projeção do banco (US$ 3,762 bilhões). A queda refletiu, principalmente, os menores preços realizados de finos de minério de ferro e níquel.
“Atribuímos o melhor desempenho em relação às nossas projeções de embarques de minério de ferro mais fortes (4% acima de nós) e preços de pelotas ligeiramente mais altos (+5%)”, avaliam os analistas Leonardo Correa e Caio Greiner.
O número também ficou acima do esperado pela XP Investimentos, de US$ 4 bilhões.
A receita líquida de vendas foi de US$ 9,673 bilhões, um pouco acima do estimado pelo BTG e XP, e 15% maior do que o visto no mesmo trimestre do ano anterior. O lucro líquido chegou a US$ 892 milhões, 63% inferior ao projetado pelo BTG e 43% abaixo pela XP, e 85% abaixo dos US$ 6,151 bilhões um ano antes.
“A Vale passou por uma série de contratempos operacionais durante o primeiro semestre de 2023, o que vem impactando o sentimento sobre o nome. Agora estamos mais confiantes de que a baixa operacional da empresa ficou para trás e que a produção/exportação e desempenho de custos devem continuar a melhorar à frente – acreditamos que há muito pouco disso precificado nas ações neste momento”, analisa o BTG.
Dividendos
A Vale também anunciou que irá distribuir R$ 8,276 bilhões em juros sobre o capital próprio (JCP). O valor bruto corresponde a R$ 1,917008992 por ação, apurados conforme o balanço de 30 de junho de 2023.
VBM
A mineradora assinou uma joint venture que tratá investimentos na Vale Base Metals Limited (VBM), empresa controladora do negócio de Metais para Transição Energética da Vale, que opera em níquel e cobre. Esta unidade faz parte de uma série de ações estratégicas levadas nos últimos 18 meses para posicionar a mineradora no fornecimento de minerais essenciais para as megatendências globais de descarbonização e eletrificação.
A nova empresa será constituída com a Manara Minerals, uma joint venture entre a estatal saudita Ma’aden e o PIF (Fundo Soberano da Arábia Saudita), no qual a Manara investirá na VBM considerando um valor implícito para a companhia de US$ 26 bilhões.
Ao mesmo tempo, a Vale e a empresa de investimento Engine No. 1 celebraram um acordo vinculante no qual a Engine No. 1 realizará um investimento na VBM sob os mesmos termos econômicos. O valor total a ser pago à VBM com os dois acordos é de US$ 3,4 bilhões, pagos à vista pela Manara, que levará 10%, enquanto a Engine No. 1 deterá uma participação de 3%.
“Esta parceria estratégica irá acelerar o crescimento da VBM, apoiando a transição energética global. Ao longo da próxima década, espera-se que a VBM invista entre US$ 25 a US$ 30 bilhões em projetos minerais estratégicos, possibilitando um potencial aumento de produção significativo em cobre de cerca de 350 kt/ano para 900 kt/ano e em níquel de cerca de 175 kt/ano para mais de 300 kt/ano”, estima a Vale.
O fechamento da transação está previsto para o 1º trimestre de 2024.
Barragens
Outro documento divulgado pela Vale foi à respeito da gestão das barragens de rejeitos, as Estruturas de Armazenamento de Rejeitos (EARs), e a adesão ao Padrão Global da Indústria para a Gestão de Rejeitos (GISTM, em inglês), o primero do tipo do setor mineral.
Do total de suas 50 EARs, a Vale implementou o GISTM em 48 estruturas, sendo 35 da unidade de Minério de Ferro no Brasil e 13 do negócio de Metais para Transição Energética (11 no Canadá e 2 no Brasil).
As outras duas EARs de Ferrosos no Brasil possuem classificação de consequência mais baixa e estarão em conformidade com o Padrão até agosto de 2025. As 48 EARs em conformidade atendem aos requisitos do GISTM e alguns deles possuem planos de ação em andamento, conforme os Protocolos de Conformidade, explica a Vale.
A Vale também informou que segue avançando na descaracterização das suas estruturas alteadas a montante no Brasil.
“Desde 2019, das 30 barragens deste tipo previstas no Programa, 12 já foram descaracterizadas, o que equivale a 40% do total. A previsão é concluir a descaracterização da próxima estrutura ainda neste ano, com a conclusão total do Programa prevista para 2035”, mostrou a Vale.
Projeções
Por fim, a mineradora revelou ter estimado um custo caixa C1 do minério de ferro – excluuindo as compras de terceiros para um intervalor entre US$ 21,5 e 22,5 por tonelada. O valor inclui uma mudança na expectativa da taxa de câmbio média USD/BRL para 4,94 para 2023 (versus US$ 5,20 anteriormente).
O custo all-in minério de ferro² (US$/t) foi projetado em US$ 52 a US$ 54, que inclui impacto potencial de fatores externos, como a redução dos prêmios pagos por produtos de alta qualidade, levando os prêmios all-in da Vale para cerca de US$ 4/t (vs. cerca de US$ 8/t anteriormente).
Por fim, o custo all-in níquel³ (US$/t) foi a US$ 15.500-16.000/t, que assume impactos dos preços mais baixos do que o esperado para os subprodutos, nomeadamente cobalto e PGMs, que caíram 30-40% desde o guidance de mercado, volumes de subprodutos mais baixos do que o esperado, principalmente resultantes do impacto mais alto do que o previsto da mudança no método de mineração na mina Colema e preços de níquel e cobre mais altos do que o esperado, impactando os custos de compra de feed de terceiros.