O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, esteve nesta terça-feira (20) em um evento promovido pelo BTG Pactual, em São Paulo, o mesmo que conta com a presença do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Haddad falou sobre os temas de controle fiscal, trajetória da Selic, programas sociais, entre outros. Confira, abaixo, os principais trechos da sua conversa com Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG.
Resultado fiscal será melhor
O ministro afirmou que o resultado fiscal de 2024 será muito melhor do que o do ano passado e que há muitos setores com potencial para se desenvolver e impulsionar o crescimento econômico.
“Nós estamos tirando o pé do fiscal. Esse ano não tem como não ser muito melhor do que o ano passado, não tem como. Aconteça o que acontecer, o ano que vem vai ser melhor do que esse ano, aconteça o que acontecer. Eu estou acompanhando os dados. Nós estamos tirando o estímulo fiscal de maneira organizada, sensata, sem prejudicar os pobres. Não vejo nenhum diagnóstico que aponte um erro grave na condução dessa questão”, afirmou Haddad.
Ele ponderou que a questão fiscal, que preocupa a Fazenda, é importante, mas que é preciso olhar para o todo. O ministro apontou que o conjunto de medidas tomado pelo governo melhorou o ambiente de crédito e há espaço para mais. Ele também destacou a importância da construção civil para a economia, com a geração de empregos e renda e o potencial do mercado de seguros diante da crise climática, que depende de aprovação de projetos no Congresso.
“Veja o que aconteceu no Rio Grande do Sul também. Todo mundo dizia que seria uma década perdida e o discurso acabou em dois meses”, destacando a melhora na arrecadação do Estado no primeiro semestre, a produção industrial e o estancamento das demissões. Haddad também destacou o potencial do País no agronegócio. “Hoje nós não somos só o celeiro do mundo, nós somos o supermercado do mundo”, afirmou Haddad.
Diante desse cenário, o ministro avalia que não se precisa fazer grande coisa no Brasil para o País crescer. “Eu só vejo possibilidades para a gente explorar. Precisa distensionar um pouco na política, continuar esse trabalho de agregar, de adensar as pessoas que querem o bem do Brasil. O Brasil está pronto para dar um salto. Essa é a minha convicção total: nós temos condições de dar um salto”, disse.
Calibragem da Selic
Haddad destacou que o País já está vivendo um período de bastante restrição na política monetária e que há confiança técnica nas decisões do Banco Central, mas é preciso cuidado com a calibragem dos juros.
“Estou falando aqui por hipótese. Se você apertar demais o monetário no momento em que você pode ter uma turbulência externa, momentânea, e não está olhando para a inflação do final de 2025, começo de 2026, você pode abortar um processo virtuoso de combate à inflação pelo lado da oferta. Estamos começando a ter formação bruta de capital no país. Se, de repente, você erra na dose, você aborta esse processo de ampliação da capacidade instalada, você vai ter problema inflacionário também. Então, óbvio que o Banco Central tem que olhar para a curva de demanda, mas tem que olhar para a curva de oferta também e o fiscal tem que ajudar”, afirmou.
O ministro reforçou que monetário e fiscal são braços do mesmo organismo e precisam estar harmonizados para promover o crescimento do País. Ele também reforçou que os setores da economia estão preparados para economia decolar.
“Está todo mundo preparado, está todo mundo se preparando e já com medidas tomadas para decolar. Quer dizer, ninguém está deixando de perceber que nós temos uma oportunidade diante de nós”, afirmou Haddad.
Programas sociais
O ministro ressaltou que corrigir distorções em programas sociais não podem ser chamadas de corte e defendeu que, sem controle, essas políticas públicas perdem o sentido. Ele defendeu que o governo faz um escrutínio para colocar o “dedo na ferida” dos benefícios.
“Ninguém pode ser contra você ter um programa consistente. Ninguém pode ser contra você ter um programa transparente, em que as condições de elegibilidade sejam verificadas mês a mês. Porque, senão, você vai perdendo o controle da situação. E o programa vai perdendo o seu sentido de corrigir desigualdades”, disse.
Haddad avaliou que o País está em um momento particularmente favorável para fazer esse tipo de ajuste nos programas sociais.
Ele pontuou que havia um truque para represar benefícios previdenciários, que geravam precatórios. “Esse truque valia a pena porque você não pagava o benefício e o precatório ia entrar ali depois de dois anos na contabilidade. Com um detalhe, não entrava necessariamente na regra fiscal, porque você pagava extrateto. Você deixava de pagar uma despesa primária e ia pagar uma despesa depois de dois anos que não ia entrar na contabilidade oficial do cumprimento do teto de gasto por conta da PEC dos Precatórios. Parece um bom negócio, mas é um péssimo negócio para o País”, declarou.
(Com Estadão Conteúdo)