O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e seu rival da oposição, Edmundo González, reivindicaram vitória nas eleições presidenciais, enquanto Washington e outros governos estrangeiros lançaram dúvidas sobre os resultados oficiais que mantiveram o atual presidente no poder.
A autoridade eleitoral nacional disse, logo após a meia-noite, que Maduro conquistou um terceiro mandato com 51% dos votos – um resultado que estenderia um quarto de século de governo socialista.
Mas pesquisas de boca de urna independentes apontavam para uma grande vitória da oposição, depois de demonstrações entusiásticas de apoio a González e à líder da oposição María Corina Machado na campanha.
González obteve 70%, disse Machado, que foi impedida de ocupar cargos públicos em uma decisão que ela diz ser injusta.
González afirmou aos seus apoiadores que regras foram violadas no dia da votação.
“Nossa mensagem de reconciliação e mudança pacífica continua de pé… nossa luta continua e não descansaremos até que a vontade do povo da Venezuela seja respeitada”, disse ele.
Não ficou imediatamente claro qual seria o próximo passo da oposição. González também afirmou que não estava convocando seus apoiadores a saírem às ruas ou cometerem atos de violência.
Mas incidentes isolados ocorreram em todo o país antes do anúncio dos resultados, incluindo a morte de um homem no Estado de Táchira e brigas em locais de votação em Caracas e em outros lugares. A polícia dispersou um protesto em Catia, tradicionalmente um bastião do partido governista no oeste de Caracas.
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, disse que Washington tinha sérias preocupações de que os resultados anunciados pela autoridade eleitoral não refletissem os votos da população. A autoridade deveria ser um órgão independente, mas a oposição diz que ela age como um braço do governo de Maduro.
Caracas e Washington têm uma relação adversa há muito tempo, que remonta a era do populista de esquerda Hugo Chávez. Maduro – um ex-motorista de ônibus e ex-ministro das Relações Exteriores de 61 anos – assumiu o cargo pela primeira vez após a morte de Chávez em 2013 e sua reeleição em 2018 é considerada fraudulenta pelos Estados Unidos e outros, que o consideram um ditador.
Maduro presidiu um colapso econômico, a migração de cerca de um terço da população e uma forte deterioração nas relações diplomáticas, coroada por sanções impostas pelos Estados Unidos, pela União Europeia e por outros países, que prejudicaram um setor petrolífero já em dificuldades.
O presidente argentino, Javier Milei, chamou o resultado oficial de fraude, enquanto a Costa Rica e o Peru o rejeitaram e o Chile disse que não aceitaria nenhum resultado que não fosse verificável.
O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, disse que os detalhes de todas as seções eleitorais deveriam ser apresentados para garantir resultados totalmente verificáveis. “Pedimos que a calma e a civilidade com que o dia da eleição foi realizado sejam mantidas”, declarou ele.
Rússia, Cuba, Honduras e Bolívia aplaudiram a vitória de Maduro.
O presidente russo, Vladimir Putin, parabenizou Maduro e saudou a parceria estratégica entre os dois países, dizendo que eles continuariam seu trabalho conjunto em questões bilaterais e internacionais.
“Lembre-se de que você é sempre um convidado bem-vindo em solo russo”, disse Putin.
Cortando o bolo
Maduro reiterou sua afirmação de campanha de que o sistema eleitoral da Venezuela é transparente.
Ele assinará um decreto na segunda-feira para realizar um “grande diálogo nacional”, afirmou ele enquanto comemorava com seus apoiadores antes de cortar um bolo de aniversário para seu falecido mentor Chávez, que teria completado 70 anos no domingo.
A Edison Research publicou uma pesquisa de boca de urna mostrando que González, um ex-diplomata de 74 anos conhecido por seu comportamento calmo, obteve 65% dos votos, enquanto Maduro obteve 31%.
A empresa local Meganalisis previu uma votação de 65% para González e pouco menos de 14% para Maduro.
A oposição e os observadores da pesquisa levantaram questões antes da votação para saber se ela seria justa, dizendo que decisões das autoridades eleitorais e as prisões de membros da oposição tinham o objetivo de criar obstáculos.