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Verão terá chuvas fracas para hidrelétricas do Norte do Brasil e risco de ondas de calor

"Para o norte, a chuva aumenta, mas muitas vezes não atinge a média e vai chover muito menos do que no verão 22/23"

por Reuters
3 min leitura
(Imagem: Pixabay/russmac)

O verão que se inicia agora no Brasil deverá ter chuvas abaixo da média na região Norte, desfavorecendo a geração de grandes hidrelétricas, e risco de novas de ondas de calor e temporais com fortes ventanias, disseram especialistas à Reuters, o que poderá trazer desafios à operação do setor elétrico.

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Ainda sob influência do padrão climático El Niño, o país enfrenta atraso do início do período úmido, que é importante para encher reservatórios das hidrelétricas e garantir a forte produção sazonal das grandes usinas do Norte.

De acordo com a Nottus Meteorologia, o período úmido está atrasado há pelo menos 45 dias, com chuvas até agora irregulares, e a expectativa é de que a estação chuvosa não se estenda além do normal, devendo se encerrar por volta de abril.

“Para o norte, a chuva aumenta, mas muitas vezes não atinge a média e vai chover muito menos do que no verão 22/23”, apontou Desirée Brandt, meteorologista e sócia executiva da Nottus.

Isso, porém, não tem colocado em risco o nível dos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste, região considerada a “caixa d’água” do país, já que a boa hidrologia dos últimos anos garantiu a recuperação do armazenamento a patamares confortáveis. Atualmente, a capacidade do subsistema está em 61,3%, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

O principal ponto de atenção para os próximos meses é a região Norte, que enfrentou seca recorde neste ano, situação que chegou a levar à paralisação temporária das operações da usina hidrelétrica Santo Antônio, no rio Madeira, devido ao baixo nível de vazão.

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(Imagem: Reprodução/REUTERS/Bruno Kelly)
(Imagem: Reprodução/REUTERS/Bruno Kelly)

“O pico das chuvas (no Norte) deve ser mais para o final do verão, em março e ao longo do começo do outono, também em abril. Mas a tendência é que as chuvas fiquem abaixo da média histórica”, afirmou Vinicius Henrique de Lima, climatologista do Climatempo.

“Serão chuvas abaixo da média nessa época, entre fevereiro e abril, mas ainda assim a gente fala de chuvas volumosas que, no geral, vão passar de 200, 250 e 300 milímetros em várias áreas”, ressaltou.

A situação deve afetar as hidrelétricas do Norte construídas “a fio d’água” — isto é, sem reservatórios de acumulação –, mostrando-se bem distinta da verificada no verão de 2023, quando várias usinas da região e do resto do país abriram suas comportas para verter água.

A concessionária responsável pelo complexo de Belo Monte –a segunda maior hidrelétrica do país, atrás de Itaipu Binacional–, já havia dito à Reuters que o El Niño deveria reduzir a geração no início de 2024, bem como diminuir seu potencial exportável de energia para países vizinhos.

Já para a região Sul, que vem registrando chuvas bem acima da média como reflexo do El Niño, deve ver chuvas mais espaçadas no início de 2024.

“A situação para agora, para janeiro, é de poucas frentes frias passando e as chuvas vão ser mais concentradas na forma de pancadas…. Para fevereiro e março, as chuvas vão aumentando, o cenário volta a ser de mais risco para chuvas muito intensas, volumosas, com potencial para transtorno”, disse Lima.

Segundo o ONS, o período úmido de 2023/2024 começou com volume de precipitação abaixo da média, e a previsão é de que a afluência no Sistema Interligado Nacional (SIN) deva variar entre 57% e 98% da média histórica (MLT) de dezembro de 2023 a maio de 2024.

“O ONS vem acompanhando e permanecerá nesta vigilância através de cenários e previsões hidrometeorológicas para a tomada de decisões operacionais, de modo a garantir a segurança energética”, afirmou o órgão à Reuters, ao ser questionado sobre o impacto das chuvas abaixo da média na operação do sistema.

Eventos Climáticos Extremos

O Brasil também pode enfrentar novas ondas de calor durante este verão, além de temporais extremos como o registrado no início de novembro no Estado de São Paulo, que deixou milhões de consumidores sem luz.

“A umidade mais elevada, em geral, atenua extremos de calor. Mas nós devemos ter sim ao longo desse verão… alguns períodos em que o tempo vai ficar mais seco e, por consequência disso, a temperatura vai subir mais”, disse o climatologista do Climatempo, citando a possibilidade de ondas de calor no setor leste do país, como interior da Bahia e norte de Minas Gerais, além de Mato Grosso do Sul e Estados do Sul.

Ondas de calor registradas desde setembro foram responsáveis por elevar a carga diária de energia elétrica a níveis recordes, chegando a superar 100 GW, com os consumidores ligando mais equipamentos de refrigeração como ar-condicionado.

O ONS afirmou que, após experiências e dados obtidos nas recentes ocorrências de ondas de calor, sua atenção está voltada aos momentos de ponta de carga em dias de demanda elevada.

Hidrelétricas
(Imagem: unsplash/ Vlad Solomon)

Nesses momentos, disse o ONS, é preciso injetar um montante expressivo de energia, em intervalo de poucas horas, para suprir imediatamente o que deixa de ser gerado por grandes e pequenas usinas solares nos períodos sem irradiação do sol.

Também há previsão para a ocorrência de novos temporais que podem colocar em risco o fornecimento de energia, dado os potenciais danos às redes de transmissão e distribuição.

“Enquanto o verão de 2022, 2023 foi marcado pelo volume de chuvas, por chuvas abrangentes e persistentes, esse verão deve ser marcado mais pela ventania. Muitas vezes teremos episódios de pancadas de chuvas em forma de tempestades, acompanhadas por fortes rajadas de ventos”, apontou Brandt, da Nottus.

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