O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou insatisfação com seus ministros em discurso proferido neste sábado (22) no aniversário de 45 anos do PT, comemorado no Rio de Janeiro. Lula disse que nem mesmo o primeiro escalão do Executivo conhece as ações de seu governo.
Essa falta de informação, segundo ele, reduz a capacidade dos militantes petistas de defender sua gestão (2:11:00 do vídeo).
“Cabe ao governo fazer as coisas corretas e dar as informações para vocês. Porque o governo que não dá informações, às vezes não tem como militante defender. E eu sei que nós não demos informações. Eu fiz uma reunião ministerial faz mais ou menos 20 dias. Eu descobri na reunião que o ministério do meu governo não sabe o que nós estamos fazendo. Se o ministério não sabe, o povo muito menos”, declarou o presidente da República.
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O petista afirmou que a oposição usa a mentira como arma, e que o País tem uma extrema-direita radicalizada que precisa ser enfrentada. Também disse que é preciso enaltecer a democracia sem bravatas. Lula afirmou que defenderá esse regime “em qualquer lugar do planeta Terra”. Segundo ele, 2026 será o ano para “derrotar a mentira” no Brasil e no mundo.
Trump não é o xerife do mundo
O presidente fez críticas ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e disse que o país mudou o discurso sobre livre mercado e outros temas. Lula também mencionou uma série de atritos criados por Trump com países aliados dos EUA e disse que o americano não foi eleito para ser “xerife” do mundo.
“Os Estados Unidos, desde a Segunda Guerra Mundial, venderam a ideia de que eram o paladino da democracia, venderam a ideia de que eram o xerife da paz, venderam a ideia de que tinha que ter mercado livre, sobretudo depois de Ronald Reagan e de Margareth Thatcher. Hoje, o que eles falam é totalmente o contrário do que se falava nos anos 1980”, declarou o petista, durante evento em comemoração ao aniversário de 45 anos do PT.
“A América para os americanos. O Canal do Panamá é deles. O Canadá não é mais um país, é um Estado. A Groenlândia é deles. O México não tem mais o golfo, o golfo agora é da América. Esse cidadão não foi eleito para ser xerife do mundo, ele foi eleito para governar os Estados Unidos. E ele que governe bem. E quem vai governar o Brasil somos nós”, disse Lula.
PT mais vivo do que nunca
Lula disse que o PT está “mais vivo e forte do que nunca”.
“Quero dizer aos que acham que podem destruir o PT e a integridade de um homem, que eu estou mais vivo e forte do que nunca. E, quem quiser nos derrotar, vai ter que ir para o lugar onde a gente mais sabe combater, que é nas ruas, conversando com homens e mulheres, porque a gente não veio de forma temporária. A gente veio para mudar a história do Brasil”, disse.
Lula voltou a contar o passo a passo do acidente em que bateu a cabeça no banheiro e afirmou que os dias seguintes foram os mais delicados de sua vida, com médicos dizendo que ele poderia ter entrado em coma e morrido.
“Chegaram a dizer que eu poderia morrer por causa disso e, graças a Deus, ontem eu fui fazer exame e Lulinha está 100% curado da cabeça, de cabeça nova, limpa. Ontem eu fiz todos os exames que um ser humano tem o direito de fazer”, disse Lula à plateia formada por cerca de 3 mil militantes do PT.
Lula citou a perseguição a Getúlio Vargas e João Goulart e repetiu o que disse quando preso: que não trocaria dignidade por liberdade. Segundo ele, a elite do País “não suporta” o PT porque o partido foi o responsável por mais de R$ 300 bilhões em investimentos para políticas sociais e de inclusão.
“Se não fossem as nossas políticas de inclusão social e eles (elite) estivessem governando esse país, esse dinheiro iria para as mãos dos mesmos que sempre governaram. Quero dizer, em alto e bom som, que vamos cuidar dos mais pobres, do povo trabalhador, dos empreendedores, dos pequenos, de quem precisa do estado. É para isso que o PT veio, para isso que nasceu”, disse Lula.
Na sequência, ele teceu elogios à presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffman e disse que, agora, a bola da vez é a primeira dama Janja da Silva. “Para me atingirem, atacam a Janja”, afirmou Lula, para em seguida agradecê-la. “Graças a Deus, tenho uma mulher com quem converso sobre política”.
Lula defende Janja
O presidente defendeu a primeira-dama Janja da Silva sobre as críticas que recebe de que se intrometeria no governo.
“Ah, porque a Janja se intromete no governo’. Graças a Deus, eu tenho uma mulher com quem eu converso de política. Graças a Deus ela não é uma pessoa que tem medo de falar com o marido. Lá em casa, foi assim com a Marisa e é assim com ela. Cada uma fala o que quiser, na hora que quiser. Eu não sou obrigado a concordar, mas, se discordar também, tenho que perder alguns debates”, concluiu Lula.
Segundo ele, os críticos de seu governo começaram a criticar a primeira-dama visando atingi-lo. Em discurso na festa de 45 anos do PT, no Rio, Lula acenou a Janja para ela seguir atuante.
“A Janja agora é a bola da vez. Agora, para me atingir, eles começam a atacar a Janja. E eu digo sempre a ela: você tem duas opções. Ou você para de fazer o que você gosta, eles vão parar de te incomodar, ou você continua falando até eles perceberem que não vão mudar a tua ideologia, não vão mudar o teu pensamento. Isso é uma guerra”, disse Lula.
“Portanto, Janja, continue de cabeça erguida, fazendo o que você gosta, não ligue para a oposição”, continuou.
A influência de Janja sobre Lula incomoda aliados do petista e é criticada nos bastidores desde a campanha eleitoral de 2022. O tema voltou à tona recentemente devido a carta escrita pelo advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay. No texto, ele afirma que Lula está isolado e capturado, sem conversar com vários políticos. O conteúdo foi entendido no mundo político como uma crítica a Janja e ao ministro da Casa Civil, Rui Costa.
(Com Estadão Conteúdo)