Em desvantagem nas pesquisas de intenção de voto, o candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, deputado federal Guilherme Boulos, tem adotado uma estratégia mais agressiva neste final da disputa, com foco especial nos eleitores que votaram em Pablo Marçal (PRTB) na primeiro turno. A sabatina começou ao meio-dia e durou aproximadamente uma hora e meia. Acompanhe aqui os principais destaques:
- Invasões de propriedades
Boulos afirmou que não terá “invasões” de propriedades de movimentos sociais em seu governo, caso seja eleito.
Ele explica que fará o “maior programa” habitacional da capital para isso parar. “Sabe por que dou essa certeza de que invasões vão acabar? Pelo seguinte: conheço o movimento social de moradia por dentro. Estive 20 anos lá. Movimento social de moradia só faz ocupação de terreno abandonado quando não tem política habitacional. Eu vou fazer o maior programa de moradia habitacional da história dessa cidade. Isso é compromisso meu de vida, não é conversa de campanha. Não vai ter ocupação se o governo vai estar trabalhando por moradia”.
“Vou fazer um programa de regularização fundiária inovador, para dar o título de propriedade para essa pessoa”, afirmou o candidato.
Ele denuncia que, na gestão Ricardo Nunes (MDB), está havendo invasão de loteamento clandestino. “Tem um tipo de invasão que está acontecendo em São Paulo que não tem nada a ver com o movimento social: é invasão de loteamento clandestino ligado ao tráfico de drogas nas periferias da cidade. Os caras vão lá, invadem, desmatam, exploram a pessoa que está lá necessitada, vende o lote e ganha dinheiro com isso. Está acontecendo debaixo do nariz do prefeito”.
“Bandido que usa o sofrimento do povo para ganhar dinheiro, se vierem no meu governo fazer isso, não vai ser a mamata que tem sido com Nunes, não”, dispara Boulos.
- Propostas de Marçal
Marçal questionou Boulos se ele estaria “copiando” seu estilo de campanha e suas ideias de divulgação. “Teve uma ideia sua (de Marçal) que eu assumi, das escolas olímpicas”, respondeu o candidato.
“Não tenho problema de ver uma ideia boa do meu adversário. Nunes (o prefeito e seu adversário do MDB) acertou numa ideia, sobre faixa azul para motocicleta”, continuou o parlamentar. “O Centrão se juntou para tentar impedir a mudança, representada pelo 50. Eu defendo a mudança, e quem votou em você (no Marçal), também.”
Entre as perguntas do ex-coach, Boulos atribuiu as causas de sua alta rejeição ao fato dele “tomar lado” e disse que “nunca fica em cima do muro”. Sobre melhorar a cidade sem aumentar impostos, o candidato afirmou que não há “bala de prata”, mas não apresentou propostas que indicassem aumento em sua gestão caso eleito.
O psolista também ressaltou que nunca participou de esquemas de corrupção. “Não fazer corrupção é principal resposta para não mexer no bolso das pessoas”, disse.
- Arrependimento
Perguntado por Marçal se tinha algum arrependimento, Boulos disse que não se arrepende de nada. “Não me arrependo de nada que fiz na minha vida. Tive um caminho de tocar, desde menino, para lutar pelas pessoas que mais precisam. Saí da casa dos meus pais, fui lutar junto com as pessoas que não têm casa, com as pessoas sem-teto. Sei que muita gente questiona essa história, mas, se pesquisarem, vão ver. Nunca me acovardei. Sempre lutei pelas pessoas que mais precisavam”.
“Se eu cometer erros na gestão pública, certamente me arrependerei desses erros. Não tenho arrependimento do que fiz até agora na minha trajetória, tanto na minha vida pessoal, quanto na vida política”, disse Boulos.
- Empreendedorismo
Guilherme Boulos também afirmou que o governo tem de dar oportunidade para o trabalhador que queira se tornar empreendedor. “Assumi compromisso de criar agência municipal de crédito para ajudar empreendedor”, disse.
“Meu programa é aproximar o emprego de onde as pessoas moram. Há concentração de empregos na região central”, explicou o parlamentar. “Assumi compromisso de criar o Acredita Mulher, para ajudar a manicure, esteticista, salgadeira.”
O psolista também criticou a atual configuração da cobrança de impostos na cidade. Segundo ele, há vários call centers que estão se mudando de São Paulo para o Nordeste por conta do Imposto sobre Serviços (ISS), que prejudicaria pequenos negócios
- Janones
O candidato do PSOL afirmou que não se arrepende da sua atuação no parecer no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, em Brasília, a favor do arquivamento de denúncia contra o deputado André Janones (Avante-MG), por suposto crime de rachadinha. “Fui sorteado para relatar o caso Janones”, disse Boulos, durante sabatina online com Pablo Marçal (PRTB).
“Não absolvi o Janones, eu disse que critérios do Conselho a outros casos tinha que ser usados”, explicou o candidato do PSOL “Se a PF constatar que o Janones cometeu rachadinha, que ele seja preso. Assim como o Flávio Bolsonaro. Eu não passo pano para ninguém, Marçal”, afirmou.
- Prosperidade
Na sabatina, Boulos disse que acredita na “teoria da prosperidade promovida por Marçal. “Concordo que pessoas que sigam o caminho de empreender precisam ser valorizadas”, afirmou. “A prosperidade não é apenas os cifrões na conta bancária, emendou
Teoria da prosperidade, defendida pelo ex-coach, é uma doutrina teológica neopentecostal que defende que a abundância material é “o desejo de Deus para seus fiéis”.
“A prosperidade não é apenas os cifrões na conta bancária. Defendo que todo mundo possa prosperar, cada um do seu jeito”, disse Boulos. “Trabalhei a vida como professor, profissão que não dá dinheiro. Eu me considero próspero.”
- “Fuga” do debate da Veja
Boulos explicou que não foi ao debate da Veja por desacordo em relação às regras. Segundo o candidato, não houve “acordo” de sua campanha e a de outros candidatos sobre as regras. “Aquele foi o único debate em que não fui, porque não houve acordo com as regras.
A Veja, que organizava o debate, não atendeu o pedido da nossa e de outras campanhas de ter regras que evitasse baixaria e permitisse uma discussão sobre a cidade. Por isso, não fui naquele. Em todos os outros debates, quando houve acordo com as regras, como esse aqui, por isso estou aqui e não tive naquele”.
Antes da sabatina
Boulos anunciou, por exemplo, a incorporação de propostas defendidas por Marçal, como a criação de escolas olímpicas e o incentivo a empreendedores da periferia, em seu plano de governo. Além disso, tem reforçado a ideia de ser o candidato da “mudança”, se aproximando do discurso “antissistema” que o influenciador adotou durante a primeira fase da campanha.
Em entrevista à GloboNews nesta semana, o candidato do PSOL afirmou que o discurso da extrema-direita teve mais apelo entre o eleitorado da periferia do que a mensagem da esquerda. “A maneira como esse segmento aderiu à candidatura do Marçal acendeu um alerta. A extrema-direita soube passar uma mensagem mais sedutora, mas hipócrita, porque não está preocupada de verdade com essas pessoas.”
Nesta quarta, 23, Boulos divulgou um vídeo em suas redes sociais no qual eleitores dizem ter votado em Marçal no primeiro turno e, agora, apoiam o deputado. Ao fim da peça, esses eleitores aparecem usando bonés azuis com a letra “B” – em alusão ao “M” que se tornou símbolo da campanha do influenciador. No X, antigo Twitter, o “movimento” foi apelidado de “união Bouçal”.
No mesmo dia, Marçal propôs realizar uma sabatina com os dois candidatos que disputam o segundo turno em São Paulo – o adversário de Boulos é o prefeito Ricardo Nunes (MDB) – para ajudar seus eleitores a decidir o voto. “Aqui no meu canal, sem gracinha, sem diferenciação”, declarou, ao fazer a proposta. Às vésperas do primeiro turno, Marçal divulgou um laudo falso que associava Boulos ao uso de drogas.
O candidato do PSOL aceitou o convite. “Eu topo, nunca fugi de dialogar com ninguém”, respondeu. A campanha do prefeito disse que ele não deve participar. A sabatina, que será transmitida nos perfis de Marçal nas redes sociais, está prevista para esta sexta, 25, ao meio-dia. À noite, ocorre o último debate entre Nunes e Boulos antes da eleição, promovido pela TV Globo.
Pesquisa mais recente
O prefeito tem 50% das intenções de voto na disputa pela Prefeitura, segundo pesquisa Real Time Big Data divulgada nesta sexta-feira (5). Concorrendo com ele, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) aparece com 41% das menções.
Outros 5% dos entrevistados afirmaram que vão votar em branco ou anular o voto, e 4% não souberam ou não quiseram responder. O levantamento foi divulgado nesta sexta-feira, 25; é o último antes dos eleitores irem às urnas decidir o segundo turno das eleições municipais neste domingo, 27.
O resultado é o mesmo apurado pelo instituto há dois, nesta quarta-feira, 23. O novo levantamento ouviu 1.500 eleitores entre os dias 23 e 24 de outubro. Com nível de confiança de 95% e margem de erro de três pontos porcentuais, para mais ou para menos, a pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo SP-05803/2024.
Considerando apenas os votos válidos, ou seja, excluindo nulos, brancos e indecisos, Nunes tem 55%, ante 45% de Boulos.
O instituto também checou a rejeição de cada candidato pelos eleitores paulistanos. Boulos segue como o mais rejeitado, com 53% das menções, contra 36% de Nunes. Outros 5% afirmaram que não votariam em nenhum dos dois, e 3% não quiseram ou souberam responder.
(Com Estadão Conteúdo)