Um experimento descrito no Wall Street Journal revelou que, mesmo com acesso a uma “bola de cristal” informando manchetes econômicas, os traders não conseguem acertar consistentemente o rumo do mercado. O jogo de simulação, chamado “Crystal Ball Trading Game“, foi criado por Victor Haghani, ex-fundador do Long-Term Capital Management.
Nele, jogadores receberam 15 páginas do WSJ ao longo de 15 anos e tentaram prever movimentos dos mercados. Apesar de sua experiência, a maioria dos jogadores falhou em aumentar o capital inicial, e muitos perderam tudo.
O experimento começou com a ideia de que ter uma prévia das notícias que impactariam o mercado garantiria sucesso financeiro. O cenário proposto incluía manchetes importantes, como “Hiring Blows Past Expectations” (Contratações Superam Expectativas), que em 2019 ajudou a elevar o Dow Jones a um recorde.
No entanto, na prática, os traders não conseguiram transformar esse conhecimento em lucros consistentes. Muitos participantes, mesmo com a capacidade de alavancar suas apostas, acabaram com perdas substanciais.
“Se você desse a um investidor as notícias do dia seguinte com 24 horas de antecedência, ele iria à falência em menos de um ano”, ensinou o estatístico matemático Nassim Taleb.
Para Haghani, embora o experimento não tenha testado a declaração de Taleb precisamente, “em geral, achamos que ele está certo. Sua proposição contraintuitiva é tanto perspicaz quanto instrutiva”.
O fracasso não foi limitado a pequenos erros de julgamento. Os jogadores, na média, terminaram o experimento com uma perda de 31%, demonstrando que, mesmo com informações aparentemente privilegiadas, prever os movimentos de mercado é extremamente complexo. Como relatado pelo Wall Street Journal, o problema foi, em parte, atribuído ao comportamento de manada dos mercados, em que traders reagem de forma imprevisível a notícias, seja pela volatilidade intrínseca ou pelas reações emocionais dos investidores.
Resultado do experimento
Victor Haghani destacou que o experimento mostrou como mercados são influenciados por fatores irracionais e comportamentos coletivos que não podem ser facilmente decifrados, mesmo com informações claras à disposição. “Traders que receberam uma prévia das notícias econômicas importantes falharam em sua maioria”, destaca o WSJ.
Isso levanta a questão sobre o verdadeiro poder de previsões econômicas, mesmo para investidores com alta especialização e acesso a informações privilegiadas.
O jogo incluía 8.000 jogadores, muitos deles profissionais do setor financeiro, o que torna os resultados ainda mais surpreendentes. Mesmo pessoas experientes no mercado, que teoricamente deveriam ser capazes de utilizar essas informações de maneira eficaz, tiveram dificuldades em acertar a direção correta dos mercados. “Eles acertaram a direção do mercado de ações menos da metade das vezes”, relatou o WSJ.
O mercado é caótico
Haghani também realizou um experimento com dinheiro real em 2015, envolvendo 61 participantes com experiência financeira. Esses participantes, mesmo com uma moeda viciada que oferecia 60% de chance de sucesso em suas apostas, falharam em maximizar seus retornos. Apenas 21% dos jogadores saíram com o prêmio máximo, enquanto 28% perderam tudo, revelando o quanto o gerenciamento inadequado do risco pode prejudicar até as estratégias aparentemente mais vantajosas.
O segundo aprendizado do experimento foi a natureza caótica e emocional dos mercados. Mesmo diante de manchetes claras, os investidores subestimaram a complexidade das reações do mercado. Em muitos casos, os mercados se moveram na direção oposta ao esperado, desafiando a lógica tradicional.
“Ver uma manchete audaciosa não lhe diz como o mercado reagirá”, afirma Haghani.
Essa imprevisibilidade é uma característica fundamental dos mercados, onde as variáveis emocionais e psicológicas desempenham um papel tão importante quanto os fundamentos econômicos. No experimento, alguns participantes tentaram alavancar pesadamente com base em notícias que pareciam garantidas, o que muitas vezes resultou em perdas ainda maiores.
A conclusão do estudo sugere que não há garantias em investimentos, mesmo com uma vantagem informacional. O mercado, como demonstrado no experimento da bola de cristal, responde de maneiras inesperadas e muitas vezes ilógicas. Mesmo quando os investidores têm acesso a previsões, o resultado pode ser contrário ao esperado.
“Mercados são feitos de multidões com emoções complexas”.
Esse fator humano torna o comportamento do mercado imprevisível, desafiando a ideia de que informações privilegiadas podem garantir sucesso financeiro. Isso reforça a importância de estratégias de longo prazo e gestão adequada de riscos, ao invés de tentativas de prever o comportamento do mercado com base em dados imediatos.
Ou sela, a aleatoriedade e a irracionalidade dos mercados, combinadas com a complexidade das reações humanas, tornam a tarefa de prever o futuro uma empreitada arriscada e, na maioria das vezes, infrutífera.
Você pode jogar este jogo aqui: Desafio da bola de cristal