Por Cláudia Martinelli, especialista em Economia Sustentável e articulista da Plataforma Brasil Editorial.
Em tempos em que a falta de ética de diversas instituições públicas e privadas está na pauta dos jornais e nas conversas, é importante lembrar que esse conceito é uma das bases da sustentabilidade.
De acordo com Flávia Moraes, consultora de sustentabilidade e professora do Curso de Sustentabilidade e Responsabilidade Social Corporativa da FGV, a “ética é um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade. A ética, embora não possa ser confundida com as leis, está relacionado com o sentimento de justiça social”.
É importante lembrar que a ética está ligada à relação com o outro e este não precisa ser necessariamente um indivíduo próximo ou que viva na mesma época que você. Ao pensarmos eticamente nossa relação com o outro, é importante considerar aqueles que serão afetados direta e indiretamente pelas suas decisões e também como estas afetarão as gerações futuras.
Quando a empresa tem processos produtivos questionáveis, mantém um relacionamento desigual com seus fornecedores, age de forma desrespeitosa com a comunidade do entorno e/ou não se preocupa com o bem-estar de seus funcionários, essa empresa está sendo antiética.
No entanto, nessa análise precisamos ir um pouco além. Muitas vezes consideramos a empresa como uma entidade independente das pessoas que nela trabalham. Isso faz com que, quando a empresa possui práticas antiéticas, esqueçamos as responsabilidades dos indivíduos envolvidos nas decisões tomadas. Dessa forma, uma empresa é o resultado do conjunto de decisões e ações das pessoas que trabalham nela.
Nos tempos atuais, é importante lembrarmos da nossa responsabilidade para com o outro no nosso dia a dia. Como é minha conduta no trabalho, na minha empresa? Como lido com os meus funcionários ou subordinados? Eu tenho práticas que considero antiéticas, mas faço “porque todos os meus concorrentes também fazem” ou “porque é a cultura da empresa”?
A reflexão sobre as decisões éticas individuais, que também se refletirão na empresa, não é apenas uma questão moral. Ela pode ser vista também como uma questão de competitividade. O Relatório Global de Corrupção da Transparency International 2009 aponta diversas vantagens que uma empresa ética pode obter:
- Quando a empresa possui forte governança interna e integridade empresarial, esta gera “dividendos de integridade”, o que contesta a alegação de que as instituições não poderiam deixar as práticas antiéticas sem comprometer as possibilidades de negócios;
- Empresas que possuem mecanismos de combate à corrupção e normas éticas sofrem até 50% menos corrupção. Essas empresas também possuem menor probabilidade de perder oportunidades de negócios do que as empresas sem esses programas;
- Muitas empresas com boas práticas de cidadania corporativa muitas vezes superam suas concorrentes;
- Companhias com governança empresarial robusta, localizadas em economias emergentes, estão associadas ao melhor desempenho e à valorização no mercado.
Para finalizar, proponho a você, caro leitor, que examine suas atitudes e decisões dentro da sua empresa, especialmente se você for um empreendedor, e questione se elas estão dentro do que a sociedade e você consideram éticos.
O que poderia ser feito para a sua empresa ter práticas mais próximas do seu ideal ético? O que você pode fazer, no seu cotidiano, para ser mais ético e honesto com seus princípios de cidadania? Tais questionamentos ajudarão você a ajustar suas ações e terão um reflexo grande no seu entorno. Experimente! Até o próximo.
Foto “Good and evil”, Shutterstock.