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XP opera esquema de pirâmide? Saiba tudo sobre a polêmica

Grizzly Research questiona as operações de dois fundos da XP, e a atuação dos agentes autônomos na venda de COEs

por Gustavo Kahil
XP Inc

A XP Inc. (XP; XPBR31), dona das corretoras XP Investimentos, Rico e Clear, está no centro de uma polêmica após a divulgação de um relatório da Grizzly Research (veja abaixo) que alega que a empresa opera um esquema Ponzi. A casa de análise afirma que os lucros da XP dependem de vendas de derivativos para clientes de varejo, canalizadas através de fundos específicos e apresentadas como lucros de negociação proprietária. A XP nega as acusações (veja a resposta completa no final do texto).

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“A XP tomou conhecimento de informações falsas, incorretas e imprecisas divulgadas recentemente pela Grizzly Research e reforça seu comprometimento com a ética, a transparência, a conformidade regulatória, a governança e o cumprimento da lei”, mostra uma nota encaminhada à imprensa.

No cerne do suposto esquema está um fundo da XP chamado GLADIUS FIM CP IE (“Gladius”), que obteve retornos de mais de 2.419% nos últimos cinco anos, com uma volatilidade considerada “inacreditavelmente baixa”. A Grizzly Research destaca que os retornos do Gladius e de seu fundo afiliado, COLISEU FIM CP IE (“Coliseu”), são superiores aos lucros da XP. “Sem Gladius e Coliseu, a XP não seria lucrativa”, afirma o relatório.

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COEs

O segredo da rentabilidade do Gladius estaria em um produto chamado COE (Certificado de Operações Estruturadas), que a Grizzly Research descreve como “produtos de investimento predatórios” que a XP promove agressivamente para seus clientes de varejo brasileiros.

Os COEs (Certificados de Operações Estruturadas) são produtos financeiros que combinam renda fixa e variável, oferecendo diferentes níveis de proteção ao capital investido. Eles permitem exposição a ativos como ações, câmbio e commodities, com ganhos atrelados a índices de mercado e prazos definidos.

A casa de análise consultou ex-funcionários da XP e pessoas com conhecimento do funcionamento interno do Gladius, que confirmaram que o fundo estaria pagando lucros com os novos prêmios recebidos da venda de produtos COE para a XP.

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“O que vemos com esses altos retornos [em Gladius e Coliseu] é uma métrica de desempenho errada porque o que realmente vemos é a quantidade de entradas nominais em dinheiro em moeda brasileira”, disse um dos especialistas consultados pela Grizzly.

De acordo com ex-funcionários da XP, o esquema só continua funcionando enquanto a XP conseguir vender mais COEs. “Assim que as entradas pararem de crescer, o sistema desmorona e a XP pode ser responsável por enormes obrigações que não pode cumprir”, alerta o relatório. Os denunciantes chegaram a comparar o Gladius a um “esquema Ponzi semelhante ao de Madoff”.

A suspeita de que o Gladius estaria empregando meios ilícitos para produzir seus retornos é reforçada pela análise de outros fundos brasileiros do mesmo segmento. “Outros fundos comparáveis de concorrentes da XP produzem apenas retornos medíocres que não são de forma alguma comparáveis aos do Gladius”, aponta a Grizzly Research.

O Gladius opera sob uma estrutura complexa e utiliza uma ampla variedade de classes de ativos. A XP descreve o Gladius como uma ferramenta para os negócios estruturados, formador de mercado, gestão de liquidez e otimização tributária da XP. “Apenas alguns insiders estão cientes da verdadeira natureza do Gladius e do esquema subjacente”, afirma o relatório.

A Grizzly questiona a validade dos lucros do Gladius, argumentando que a magnitude do fluxo de caixa gerado pelo fundo não pode ser explicada apenas por operações lucrativas. “É provável que envolva atividades nefastas, incluindo predominantemente o que os insiders da XP descrevem como um esquema Ponzi”, diz o relatório.

A casa de análise também levanta dúvidas sobre a ausência de outros players globais no mercado brasileiro de formadores de mercado. “Se tais oportunidades de lucro existissem no mercado brasileiro, então outros provedores de liquidez globais líderes (por exemplo, Citadel) também seriam players ativos no espaço. Suas ausências falam muito”, argumenta a Grizzly Research.

Erro do relatório da Grizzly

A Grizzly Research destaca a importância do Gladius e do Coliseu para a XP Inc. Os fluxos de caixa desses fundos excedem o lucro líquido da XP em todos os anos desde 2021. “A XP parece, em uma inspeção mais detalhada, altamente dependente dos fluxos de caixa de Gladius e Coliseu, que excedem o lucro líquido da XP em todos os anos desde 2021”, afirma o relatório.

De 2020 a 2024, a XP retirou R$ 27,66 bilhões do Gladius e do Coliseu, enquanto o lucro líquido corporativo da XP foi de apenas R$ 17,52 bilhões. “Sem receber dinheiro desses dois fundos, a XP teria um lucro líquido cumulativo negativo nos últimos anos”, aponta a Grizzly Research.

Segundo a Ativa Investimentos, contudo, o relatório cometeu um erro ao comparar os R$ 167 bilhões em ativos da XP Asset com o volume total de ativos sob custódia do conglomerado.

“Atualmente, os ativos de clientes assessorados pela XP somam R$ 1,08 trilhão, o que torna totalmente factível que os fundos tenham gerado essa contribuição de receita, especialmente devido à alta penetração de produtos predatórios em sua base de clientes, como o próprio relatório mencionou. A XP apresenta um ROA (Retorno sobre Ativos) exclusivo de investimentos próximo a 1%, o que vai em linha com uma receita de R$ 11 bilhões”, explica uma análise divulgada a clientes nesta quarta-feira (12).

Os analistas, portanto, discordamos da tese do Grizzly Research, que sugere que os resultados da XP estejam relacionados a um esquema Ponzi.

“Contudo, reconhecemos que relatórios como este ajudam a destacar preocupações legítimas sobre a sustentabilidade do modelo de negócios da companhia, especialmente com a alta participação de produtos predatórios e a baixa alíquota efetiva de IR. Consideramos, inclusive, que relatórios como esse aumentam o risco tributário ao expor a forma contábil como a empresa opera”, ponderam.

A Ativa tem recomendação neutra aos BDRs da XP, com preço-alvo de R$ 120. As ações recuam cerca de 5% em um movimento que parece ter ligação com o relatório da Grizzly.

Venda agressiva de COEs

A casa de análise questiona a atuação da XP na venda agressiva de COEs para clientes de varejo, utilizando uma rede de 18 mil assessores. “A XP é a principal provedora de COE no Brasil. A XP aborda seus clientes por meio de uma vasta rede de 18 mil assessores”, diz o relatório.

A Grizzly entrevistou um ex-assessor de investimentos da XP, que comentou sobre o cenário brasileiro para COEs: “Eles [BTG, Santander Brasil ou Banco do Brasil] têm COEs, mas não os usam muito porque viram que as pessoas não gostam desse tipo de investimento. Mas a XP usou esse investimento com uma grande narrativa, dizendo às pessoas por que deveriam investir em COE. E eles insistem o tempo todo. Eles têm esse tipo de comercial agressivo que faz você investir com esse tipo de investimento por pressão, não porque você realmente gosta. Então, eles começam prometendo um tipo de percentual de retorno que não é normal no mercado. E, infelizmente, aqui no Brasil, as pessoas não têm esse conhecimento em investimento.”

FIIs Fundos Imobiliários 3 XP Investimentos
(Imagem: Gustavo Kahil/ Dinheirama)

Veja o posicionamento da XP

A XP tomou conhecimento de informações falsas, incorretas e imprecisas divulgadas recentemente pela Grizzly Research e reforça seu comprometimento com a ética, a transparência, a conformidade regulatória, a governança e o cumprimento da lei.

A companhia cumpre com a lei e segue todas as normas estabelecidas por órgãos reguladores, como CVM, SEC, Banco Central, dentre outros, e tem suas operações auditadas regularmente por instituições independentes.

Serão tomadas todas as medidas legais cabíveis contra a Grizzly Research.

A XP reitera seu compromisso com a integridade e a confiança de seus clientes, parceiros e acionistas, e continuará a operar com os mais altos padrões de ética e transparência no mercado financeiro.

Veja o relatório da Grizzly Research sobre a XP

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