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Em 2007, todos queríamos a Copa. Por que mudamos de ideia?

por Ricardo Pereira
3 min leitura
Em 2007, todos queríamos a Copa. Por que mudamos de ideia?

O dia 30 de outubro de 2007 foi um dia de muita festa no Brasil. O então Presidente Lula, no auge de sua popularidade, demonstrava frente as câmeras de TV muito otimismo ao ver o Brasil ser escolhido como sede do campeonato mundial de futebol de 2014.

Enfim o país teria a chance de organizar um dos maiores eventos do mundo, 64 anos após o vice-campeonato de 1950, derrota extremamente doída e que ficou conhecida como “Maracanazo”.

Uma verdadeira comitiva de personalidades brasileiras estava na sede da entidade que controla o destino do futebol no mundo e todos, sem exceção, defendiam o “direito” do país em promover a competição.

Vale a pena destacar as ilustres presenças dos então governadores de Minas Gerais Aécio Neves, e de Pernambuco, Eduardo Campos, hoje pré-candidatos à Presidência do Brasil.

Depois de 7 anos, o que temos?

Passaram-se quase 7 anos desde então. Tempo para que o país pudesse se organizar para receber as delegações, turistas e fãs brasileiros, oferecendo a melhor estrutura possível para o megaevento.

Seria, sem dúvida, uma ótima oportunidade para colocar o Brasil como uma rota importante no cenário do turismo mundial, bem como para mostrar nossa capacidade de organização e potencial de realização. Infelizmente, porém, durante esse tempo percebemos como temos muitas dificuldades em tirar do papel aquilo que prometemos. E prometemos muito.

Muitos que antes estavam sedentos pelas glórias de levar o evento para seus respectivos estados hoje recebem com alguma reflexão os sinais de reprovação nas ruas. O teor de muitas manifestações diz respeito aos valores gastos na realização do evento, que poderiam ser mais úteis se destinados a outras áreas, como educação e saúde.

De fato, a população tem razão. Percebemos no Brasil deficiências graves em diversos setores, o país não cresce como deveria e os problemas se multiplicam à medida que o governo opta por “peitar o mercado” e conduzir uma série de medidas bastante duvidosas e autoritárias.

Nesse ponto, podemos destacar o controle de preços em setores cruciais da economia e também a promoção, “na marra”, da diminuição dos juros básicos da economia (e do crédito, por consequência) – juros estes que voltaram a subir e estão em níveis mais elevados do que quando Dilma assumiu.

Presidente Dilma mexeu com fogo e acabou se queimando

O mau humor desses setores tão importantes desencadeou uma inquietação geral no mercado financeiro, que experimentou anos de queda na Bolsa, resultado do mix de problemas econômicos do exterior e a perda da confiança nos rumos da economia nacional.

Ao baixar os juros, durante o governo Dilma o país conseguiu, ao menos por algum tempo, ter juros baixos – para o nosso padrão, é bom lembrar: em dezembro de 2012, o COPOM (Comitê de Política Monetária do Banco Central) conduziu a Selic à 7,25%. Hoje, a taxa é de 11% (veja aqui o que esperar para o restante do ano).

Ao contrário do que se esperava, os juros baixos não foram suficientes para alavancar o crescimento do país, o crédito se tornou um agente de consumo que só fez avançar o perigo inflacionário criando então um tripé extremamente perigoso: consumo alto da população via crédito + governo gastando muito + desconfiança do mercado em alta.

O resultado negativo surgiu e em pouco tempo o Banco Central (BC) teve que adotar uma postura ortodoxa e elevar os juros para conter o consumo e, mais, para também tentar resgatar sua credibilidade arranhada perante o mercado (há quem diga que há interferência política no BC).

A tempestade perfeita chegou!

Recentemente, o economista Alvaro Bandeira, em sua coluna no Dinheirama, descreveu o que chamou de “tempestade perfeita” (clique e entenda). O seu texto foi muito feliz, pois mostra com precisão os enormes desafios que temos em frente, acompanhe:

“Sem querer ser taxado de alarmista, ao que tudo indica a ‘tempestade perfeita’ parece ter chegado à costa brasileira. O “céu de brigadeiro” que vigorou em outros tempos tornou-se plúmbeo, sem que o governo introjetasse qualquer culpa por isso. Nossos dissabores são invariavelmente atribuídos ao ambiente externo.

Ocorre que novamente estamos na contramão do mundo. O mundo está se ajustando, contendo gastos, reduzindo nível de endividamento, com inflação muito baixa e temor de deflação em muitos países, mas também com claros sinais de que as economias começam a recuperar.”

Os desafios que o Brasil precisa encarar são desafios que vão na contramão dos anseios populares. As manifestações cobram mais investimentos por parte do país, já o mercado busca redução de gastos; o desafio é entender como agradar a todos e enfrentar a situação.

Escrevi recentemente um artigo contando sobre o que dizem os gurus econômicos dos presidenciáveis (clique para ler). Como eleitores, precisamos conhecer muito bem a realidade e a opções políticas disponíveis, afinal é ano de Eleições.

O que tudo isso tem a ver com a Copa?

Comecei comentando a euforia com a Copa no Brasil, passei pela realidade dos fatos que envolvem a nossa economia e agora volto aos preparativos para o evento. Todos estes aspectos estão interligados e compõem um pouco do nosso jeito de administrar e gerir o bem público.

Os gastos elevados destinados à preparação de novos estádios, que ficaram prontos “em cima do laço” (ficaram?), são reflexos dos inúmeros problemas do país. Nossa mão de obra é cara e despreparada, e não conseguimos produzir o mesmo que outros profissionais em áreas diversas.

A burocracia na concessão de licenças ambientais e outras tantas que são impostas por diversos órgãos também é um tremendo empecilho, tornando tudo mais caro e mais lento. O que dizer da corrupção, um mal enraizado e que toma proporções cada vez maiores? Ou sempre existiu e só agora começa a ter o espaço devido na grande imprensa?

O ponto fundamental aqui é: um país que pretende crescer não pode depender apenas de eventos grandes para investir em infraestrutura. O legado prometido como um trunfo do evento hoje não é nada parecido com o esperado anos atrás. Inclusive já publicamos um texto sobre os desafios para deixarmos os emergentes para trás (leia aqui).

A torcida pelo Brasil continua…

Em breve teremos, além da Copa, uma das mais importantes e equilibradas disputas presidenciais. É fundamental conhecermos as história e propostas de cada candidato, bem como avaliar a capacidade que possuem para oferecer ao país o que de fato é preciso.

O desafio será conciliar os interesses das pessoas e os anseios do mercado, resgatando a credibilidade do país lá fora, mas principalmente internamente. O próximo mandato será de muita responsabilidade. Recentemente, publicamos 16 atitudes para quem deseja prosperar no Brasil (clique para ler).

Para começar, vale analisar o passado de cada um dos candidatos, mas sem ufanismo ou torcida irresponsável. O fato é que todos têm responsabilidade e brigaram para trazermos a Copa para o país e levá-la para seus redutos eleitorais. Ninguém é 100% inocente em política, arrisco-me a dizer.

Já que vamos ter Copa, dentro de campo vou continuar torcendo pelo Brasil. Fora de campo, a torcida é para encontrarmos um caminho com mais oportunidades e menos disputas eleitoreiras. É disso que precisamos. Você concorda? Obrigado e até a próxima.

Foto “Brazilian soccer player”, Shutterstock.

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