Anderson comenta: “Navarro, tenho muitas dificuldades com o controle financeiro da família e gostaria de ajuda. A renda da família está comprometida com dívidas e não temos reservas para períodos de sufoco (recentemente, precisei de mais empréstimo porque minha esposa perdeu o emprego). Quais as regras de ouro no cuidado com o dinheiro para virar esse jogo? Obrigado”.
Lidar com dinheiro é algo bastante óbvio, afinal todo mundo sabe que é importante economizar, investir e cuidar para que não gastemos além de nossa capacidade de pagar. Acontece que nossas decisões costumam ser tomadas muito mais com base nas nossas emoções e sentimentos do que a partir do que sabemos (ou achamos que sabemos).
Se somamos ao nosso frágil processo de tomada de decisões financeiras a falta de incentivo e interesse para discutir as finanças, atingimos a realidade da maioria das famílias brasileiras: o dinheiro ainda é um tabu e a inclusão social pelo consumo tornou-se uma esperança de mudar o status familiar.
Escrevi um texto recentemente que mostra 5 sinais de que o dinheiro é um tabu na vida dos brasileiros (clique aqui e veja se é o seu caso).
3 regras de ouro das finanças pessoais
Serei repetitivo nas sugestões que darei abaixo, mas é por uma boa causa. A educação financeira precisa ser valorizada, e seu valor só será realmente entendido quando todos nós conversarmos sobre dinheiro de uma forma natural.
Mas não adianta só conversar, é preciso praticar! Assim, as regras propostas abaixo visam colocar em marcha algumas transformações familiares cujo propósito é simples, porém poderoso: que você e sua família parem de enxergar o dinheiro como sinônimo de problema.
1. Gaste menos do que ganha
O padrão de vida é mais do que apenas um nome bonito para definir como devemos viver. O padrão de vida é o que determina se seremos capazes de manter nossa qualidade de vida e criar patrimônio para aproveitar a vida durante todas as suas fases.
Assim, viver um padrão de vida sustentável é o primeiro passo para organizar as finanças pessoais e o orçamento familiar. Na prática, isso significa manter as despesas mensais abaixo das receitas, de modo que exista sobra capaz de ser investida para sonhos e projetos familiares de curto, médio e longo prazo.
Viagens, casa própria, um carro novo, cursar um MBA, dentre outras realizações, são exemplos de decisões que precisam ser pensadas de acordo com o padrão de vida, e não o contrário (muita gente compra para só depois ver como vai conseguir pagar).
Existe um termo que define bem a ideia de viver com menos do que ganhamos: sustentabilidade financeira. Publicamos no Dinheirama um texto completo sobre como viver assim (clique aqui para acessá-lo).
2. Não comprometa mais do que 30% da renda com dívidas
É preciso aceitar e entender as implicações de viver em um país com uma das taxas de juros mais elevadas do mundo. Por aqui, os juros do cartão de crédito são, em média, de 238% ao ano. No Peru, os juros são de 55%; no Chile, 54,24%; na Argentina, 50%. Nos EUA, a taxa média é de 17% ao ano.
Isso significa que uma dívida não paga no cartão de crédito pode dobrar em pouco mais de seis meses aqui no Brasil. O cheque especial também é perigoso na medida em que juros elevados (130% ao ano) e é muito fácil de usar. Tenha em mente que crédito fácil é crédito caro.
É prudente, portanto controlar o nível de endividamento familiar para não permitir que os juros cobrados criem o famoso efeito “bola de neve”. É consenso entre especialistas que o nível máximo de dívidas ou compras parceladas não ultrapasse 30% do orçamento familiar mensal.
O Ricardo Pereira escreveu um ótimo texto cheio de sugestões e dicas para que você domine seu cartão de crédito e cheque especial (clique aqui e leia).
3. Tenha uma reserva para emergências
Se você perdesse o emprego hoje, por quanto tempo suas economias manteriam seu padrão de vida atual? O que acontece com o orçamento familiar se um dos membros da família parar de trabalhar? Como lidar financeiramente com uma emergência grave de saúde?
As perguntas são fortes, mas representam situações cotidianas. Embora não queiramos vivenciar momentos assim, é preciso considera-los e aceitar que eles podem ocorrer a qualquer hora e com qualquer um (e isso inclui você e sua família!).
A reserva para emergências consiste em um ter um dinheiro guardado para ajudar nos momentos de estresse e falta de recursos. É como se você fosse seu próprio banco, emprestando dinheiro para resolver problemas graves, mas sem cobrar juros. Sugiro que você tenha o equivalente a 10 meses de receitas (seis meses já é um bom começo).
Para detalhes sobre como formar a reserva de emergência, sugiro a leitura de três artigos (clique no título deles para acessá-los):
- Reserva de emergência: por que é importante ter uma e como montar?
- Você mantém uma reserva financeira para emergências?
- Os três P’s da reserva de emergência em momentos de crise
Conclusão
Você provavelmente concordará comigo que não há nada de novo escrito neste texto. Mais do mesmo. Pois é, conforme comentei lá no início, dinheiro é um assunto óbvio, mas o “pulo do gato” é admitir que saber o que fazer não é suficiente para atingir resultados melhores.
Praticar. Agir. Fazer. É preciso criar hábitos melhores e mais saudáveis e isso só é possível com compromisso, dedicação e disciplina. Espero que você abrace as regras de ouro das finanças pessoais com carinho e faça delas seu ponto de partida rumo ao sucesso financeiro. Até a próxima.
Foto “Hand and clouds”, Shutterstock.