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Petrobras: Lula atende Faria Lima e libera 100% dos dividendos

Lula disse que a Petrobras tem de pensar nos 200 milhões de brasileiros “sócios”, e não presa à “choradeira do mercado” por dividendos

por Gustavo Kahil
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O governo Lula desistiu da briga com os acionistas da Petrobras (PETR3; PETR4) e irá votar favoravelmente ao pagamento dos 100% dos dividendos extraordinários referentes ao resultado de 2023, aponta O Globo nesta sexta-feira (19).

Segundo a notícia, um dos fatores que dará força a essa possibilidade do pagamento dos R$ 43,9 bilhões foi o desempenho da Petrobras no primeiro trimestre, que deixou o caixa da estatal mais robusto.

Ou seja, menos de 50 dias após o governo criar uma crise na Petrobras vetando o pagamento, o mesmo vai apoiar uma proposta que é o oposto da que seus representantes no conselho de administração votaram, relata a nota.

“Acreditamos que este movimento seria benéfico para as ações de Petrobras, uma vez que a retenção integral dos proventos anunciada no quarto trimestre de 2023 trouxe dúvidas quanto à futura alocação estratégica de recursos da empresa e a perenidade das próximas distribuições”, apontam os analistas da Ativa Investimentos.

Segundo eles, a companhia tem condições de aliar os investimentos descritos no seu atual plano de investimentos com a distribuição integral destes dividendos e o destravamento dos valores atualmente reservados atua como um fator mitigador de riscos para a tese.

Lula versus o mercado

O presidente Lula chegou a dizer em 11 de março, durante entrevista ao SBT, que a estatal não tem de pensar apenas nos seus acionistas, defendendo que recursos destinados a dividendos sejam transformados em investimentos.

Lula disse que a petroleira tem de pensar nos 200 milhões de brasileiros “sócios” da empresa, e não pode ficar presa à “choradeira do mercado”.

“Se eu for atender apenas à choradeira do mercado, você não faz nada, porque o mercado, vou contar uma coisa para vocês, o mercado é um rinoceronte, um dinossauro voraz, ele quer tudo para ele e nada para o povo.”

“Será que o mercado não tem pena das pessoas que passam fome? Será que o mercado não tem pena de 735 milhões de pessoas que não têm o que comer? Será que o mercado não tem pena das pessoas que dormem na sarjeta no centro de São Paulo e no Rio de Janeiro? Será que o mercado não tem pena das meninas com 12 e 13 que vendem às vezes o corpo por causa de um prato de comida?”, disse o petista.

Segundo Lula, não é correto a Petrobras, que tinha que distribuir R$ 45 bilhões, querer pagar R$ 80 bilhões em dividendos.

A decisão caiu como uma bomba sobre a Faria Lima, coração financeiro do Brasil. Muitos analistas de investimentos, à época, recomendavam a compra das ações da estatal, apesar dos riscos de interferência política. A percepção de alguns mudou.

Os analistas do Santander Rodrigo Almeida e Eduardo Muniz, por exemplo, reduziram o preço-alvo para as ações de R$ 52 para R$ 47 e rebaixaram a recomendação para de compra para manutenção.

“Sem dividendos extraordinários, vemos a Petrobras negociando com um dividend yield de ~9%, o que está em grande parte em linha com os pares latino-americanos/europeus. Finalmente, vemos uma falta de catalisadores e acreditamos que a maioria dos investidores já incorpora pressupostos otimistas. Dessa forma, estamos reduzindo nosso preço-alvo (2024E) de R$ 52 para R$ 47 e rebaixando a recomendação para “Manutenção”.

Presidente da Republica, Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião com o Presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, no Palácio do Planalto
Presidente da Republica, Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião com o Presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, no Palácio do Planalto (Imagem: Ricardo Stuckert / PR)

Briga de puxa-sacos

As consequências da falta de dividendos extraordinários da Petrobras mudou o equilíbrio de forças em um cabo de guerra entre o CEO da empresa estatal e o ministro de Minas e Energia que controla o conselho de administração.

O presidente-executivo da Petrobras, Jean Paul Prates, viu sua proposta de dividendos extraordinários, amplamente esperada pelos acionistas, ser rejeitada na quinta-feira passada, bloqueada por membros do conselho nomeados pelo governo.

Embora Lula tenha escolhido Prates pessoalmente para o cargo na Petrobras, e o relacionamento entre eles tenha resistido a um primeiro ano difícil, o CEO percebeu que estava em desvantagem.

No fim de semana anterior ao anúncio, ele procurou o ministro da Fazenda Fernando Haddad, buscando “contrabalançar” a pressão de Alexandre Silveira e Rui Costa, de acordo com uma das fontes, que falou sob condição de anonimato.

A confiança de Lula em Haddad ajudou o ministro da Fazenda a aprovar novas regras orçamentárias e a lutar pela disciplina fiscal, apesar do fogo amigo da base política do presidente esquerdista. Um grande pagamento de dividendos extraordinários ao governo, o maior acionista da Petrobras, também ajudaria a equilibrar o orçamento federal.

Quando Lula, Prates e Silveira se reuniram novamente na segunda-feira para discutir os planos para a Petrobras, Haddad estava presente na reunião. Depois disso, tanto Haddad quanto Silveira repetiram as garantias do CEO de que o dinheiro reservado do lucro do ano passado seria eventualmente usado para os dividendos dos acionistas.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (Imagem: Joédson Alves/ Agência Brasil)

Alexandre Silveira

Talvez mais importante, Silveira disse que Haddad nomearia um membro do conselho da Petrobras em uma reunião de acionistas, diluindo a influência do ministro de Minas e Energia no conselho.

A medida marcou uma reversão em relação ao mês passado, quando fontes disseram que o governo estava planejando renomear seus seis membros do conselho da Petrobras, em um sinal da influência contínua de Silveira.

O ministro da Energia tem sido um crítico aberto da administração da Petrobras sob o comando de Prates, criticando o que ele chama de preços altos dos combustíveis e planos de investimento abaixo do esperado.

Essas críticas têm se alinhado frequentemente com a retórica do próprio Lula sobre a empresa estatal, que ele criticou por pagar dividendos excessivos durante o governo anterior.

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